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quarta-feira, 13 de abril de 2022

Eu sou uma esposa de crossdresser

Traduzido de Becky Schultz-Homko

“Gosto de usar roupas femininas e sinto necessidade de usá-las”, foi assim que me tornei esposa de crossdresser após 10 anos de casamento. Ele finalmente me disse que era um crossdresser, isso também foi uma revelação para ele.

Esta foi uma fonte constante de brigas e infelicidade no nosso casamento. Por várias vezes eu encontrei roupas femininas e pensava queele estava tendo um caso. Ele então me disse que gostava da sensação dos itens femininos e que isso o lembrava de mim quando eu não estava por perto. Então a gente seguia em frente ou ele decidia que iria “parar” de fazer aquilo. Até que um dia ele disse que precisava e gostava de usar a roupa para se manter são.

Quando me casei, assumi um compromisso para o melhor ou para o pior, para doença e para a pobreza, etc. Muitas pessoas podem não levar isso a sério, mas eu sempre levei. Manter a minha família unida era importante para mim. Eu vinha de uma família de pais divorciados e não queria o mesmo para mim e para os nossos filhos.

O problema começou a acontecer quando isso passou a ser o centro do nosso universo. Foi quando tivemos uma de nossas maiores brigas. Era Dia de Ação de Graças e eu tinha encontrado mais roupas. Não me lembro da situação exata, mas lembro de gritar e gritar. Lembro de me sentir magoada, traída e, pior ainda, desrespeitada.

No entanto, antes que alguém queira me bater. Eu sou uma pessoa de mente aberta e não tenho qualificação para questionar qualquer outra pessoa a fazer essas coisas, pois não tem relação direta comigo. Mas o caso do meu marido estava diretamente relacionado a mim e à minha vida íntima. Eu não me sinto atraída por mulheres, então o pensamento foi difícil de considerar.

Então este foi um grande anúncio para mim. Naquela época, pensei em me divorciar, mas decidi não fazê-lo. Eu disse a mim mesma que eu poderia lidar com isso, sei que é algo apenas de meio período, não de período integral. Eu pensei que eu não tinha que participar e que ninguém iria descobrir.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Vergonha por ser Transgênero

Traduzido de Emma Holliday

A vergonha transgênero é uma masmorra emocional profunda e com poucas saídas.

Vergonha: um sentimento doloroso que é uma mistura de arrependimento, auto ódio e desonra.

Envergonhado: sentir vergonha; sentir angustiado ou embaraçado por sentimentos de culpa, tolice ou desgraça.

Embora eu não soubesse que eu era uma pessoa transgênero até completar meus 61 anos de idade, durante toda a minha vida eu senti vergonha da percepção que eu tinha da minha própria identidade masculina, ou masculinidade. Desde o princípio me ensinaram que eu era um homem e por toda a minha vida foi esperado de mim fazer nada além de coisas masculinas.

A sociedade tem paredes rígidas. Algumas são boas e outras são ruins. Fazer parte dela traz algumas penalidades pesadas caso você não siga suas regras.

Você seria considerado um depravado caso desviasse da rígida regra binária de gênero. Então, por essa razão, eu mantive a minha confusão de gênero em segredo por décadas. A profundidade dessa realidade eu escondi até de mim mesmo.

Ser um “macho” tem muitas regras. Uma das mais difíceis é a tal da honra. Os homens são fortemente doutrinados a manter um certo senso de honra, e a vergonha faz parte do mecanismo de controle. Ela costuma ser usada de maneira bem eficaz pela sociedade.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Roupas não fazem de você uma pessoa transgênero

Traduzido de Emma Holiday

Albrecht Dürer - Adão e Eva (Rijksmuseum RP-P-OB-1155)

Me inspirei no artigo da Anna, O que você quer dizer com "sentir-se como uma mulher?", sobre identidade de gênero e a escolha das roupas que fazemos.

A citação que mais me impressionou foi uma resposta que alguém comentou no artigo anterior dela sobre as mulheres não usarem maisvestidos hoje em dia, aparentemente a autora ficou bem zangado:

“As mulheres foram forçadas a usar vestidos durante grande parte da história registrada... Feminilidade não é sobre usar vestido.”

Eu concordo absolutamente que a moralidade patriarcal muitas vezes dita o que as mulheres podem ou não usar. E a religião tem muita relação com isso.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O que você quer dizer com "sentir-se como uma mulher?"

Complementando o texto da semana passada, "Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?", a autora Anna escreveu uma continuação após ler um comentário interessante no post dela. A questão agora é "como é se sentir como uma mulher?". Eu já tentei escrever sobre "O que é ser mulher", mas sei bem que a temática é um tanto complexa. Tanto que eu mesmo não consigo me ver como uma mulher e, para mim, está tudo bem assim.


Traduzido de Anna

Por conta dos sistemas de controle social, às vezes sinto que fui roubada da vida que eu deveria viver.

Sendo um homem de 49 anos que sofre de disforia de gênero, sinto os efeitos dos sistemas de controle social mais do que qualquer típico homem cisgênero de 49 anos.

Ninguém quer acreditar que alguém está te manipulando diariamente. Todos nós queremos acreditar que chegamos onde estamos com muito trabalho e determinação. Mas, na maioria dos casos, o jogo é manipulado para que as pessoas “normais” obtenham sucesso.

Se você sofre de uma condição médica politizada, terá muitas portas fechadas na sua cara. Por meio de leis, vigilância médica, desinformação de conservadores, lavagem cerebral religiosa, menos oportunidades de emprego, estereótipos de gênero, feministas radicais, agressões a celebridades e algumas outras coisas que provavelmente estou esquecendo ou bloqueei da minha memória.

Eu realmente sinto que a disforia de gênero que experimentei desde os 4 anos de idade teria me colocado no caminho para me tornar uma mulher trans se não houvesse nenhum sistema de controle para redirecionar minha vida.

quarta-feira, 2 de março de 2022

O problema da fantasia trans na pornografia

Pelo que parece, a pornografia transgênero está bombando na internet e o Brasil é um dos maiores consumidores dessa fantasia. Se bem que isso sempre existiu, principalmente por que as pessoas que estão fora da cis-heteronormatividade costumam ser marginalizadas e obrigadas a dar um jeito para sobreviver, o que mostra bem esse artigo chamado Retrato íntimo e glamouroso de mulheres trans na Paris dos anos 60 que relata como era essa questão a 60 anos no passado.

O problema é que muita gente acaba tendo o primeiro contato com pessoas transgênero nesse submundo pornográfico e logo supõem que todas as pessoas do espectro trans são assim. Cansei de receber mensagens de sujeitos anônimos na internet querendo saber da minha vida sexual ou até querendo me contratar para satisfazer os desejos deles. Confesso que esse foi um dos motivos que me fez tomar distância do mundo online e me afastou da maioria das redes sociais. Isso é cansativo e eu já perdi a paciência para tentar filtrar.

A autora do texto a seguir passou pela mesma situação que eu e disserta para tentar quebrar esse paradigma que existe em torno das pessoas transgênero e não-binárias.

Traduzido de Suzanna Alastair

Recentemente, um homem me enviou esta mensagem em um aplicativo de namoro que eu uso:

"Ei, você é gostosa!!! Você se parece com essa garota do [filme pornô trans] que eu assisti. Eu quero fazer isso….. e isso…. e mais isto… com você"

Ele assistiu um pouco de pornografia trans e ficou todo excitado e incomodado. Ele ansiava pela mesma experiência e logo assumiu que eu também queria. Por quê? Bem, porque eu sou uma mulher trans, o que obviamente deve significar que eu quero transar com ele exatamente da mesma maneira que a aquela estrela pornô, certo?

Não.

As pessoas trans representam uma pequena porcentagem da população e a maioria das outras pessoas não teve a oportunidade de conhecer uma pessoa trans para perceber que somos como qualquer pessoa. Somos seres humanos normais com anseios de felicidade e também desejamos evitar qualquer tipo de sofrimento. Nem todos gostamos das mesmas coisas só porque somos trans. Somos um grupo diversificado de pessoas, assim como a população em geral.

Nos últimos anos, as pessoas trans receberam uma certa exposição na mídia devido a celebridades como Elliot Page e Caitlyn Jenner. Como resultado, as pessoas ficaram curiosas a respeito de pessoas trans, quem somos e, claro, como é fazer sexo com uma pessoa trans.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Aceitando o Paradoxo da Energia Masculina e Feminina

O texto a seguir é muito válido para as pessoas que não se sentem exatamente como transgênero, principalmente para quem se vê como não-binário ou apenas como crossdresser mesmo. Eu mesmo me encaixo nisso sempre me pego pensando bastante sobre o assunto pois não me sinto como uma mulher e não faço questão de ser visto como uma, inclusive não me sinto confortável quando outras pessoas forçam questões transgênero em mim.

Só um detalhe: como a autora é filósofa, o texto não trás respostas, mas os questionamentos dela com certeza nos faz refletir um pouco, e isso é ótimo!

Traduzido de Transphilosophr

Minha identidade não binária me levou ao caminho tortuoso do gênero

Eu me pego pensando muito sobre o equilíbrio das energias dentro de mim, principalmente aquelas que são constituídas pelo que poderia ser chamado de masculino e feminino.

Sendo uma pessoa não binária, o que significa encontrar equilíbrio dentro do binarismo de gênero?
Esse equilíbrio é realmente necessário?
Isso precisa ser equilibrado para ser visto de maneira bonita e fashion?
Não seria suficiente apenas existir ao longo do espectro, dentro do espaço multidimensional do gênero?
Posso colocar meu polegar na escala e ainda ser uma pessoa não binária?

Em um nível superficial, tem a questão da minha aparência. Ela é vagamente feminina, com cabelo comprido e expressão de gênero casualmente feminina. Mas também há uma aspereza em minha aparência, evidenciada na minha voz e nos traços faciais, bem como a lateral raspada do meu cabelo, que é um movimento deliberado para inspirar androginia, para enviar uma energia queer. Isso leva o observador a um estado de ambivalência que se inclina para o feminino. Esse estado costuma ser uma fonte de ansiedade para mim, embora, estranhamente, também seja o mais confortável. Essa é a vida não-binária.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Eu era uma pessoa preconceituosa e irritada com a causa transgênero

Sempre achei complicado apontar questões sobre transfobia de maneira geral pois sei que esse meu estilo de vida não é algo tão simples assim de se lidar, mesmo nos dias atuais. Tanto que, por exemplo, na primeira vez que eu participei de um encontro com outras crossdressers eu mesmo tive dificuldades de tratar as meninas no feminino. Na minha cabeça eu pensava "cuidado com os pronomes", mas a medida que a conversa fluía as palavras no masculino iam saindo involuntariamente.

O texto a seguir trás uma questão que ainda vai além. O autor confessa que no passado ele se dava ao trabalho de discutir com pessoas transgênero na internet pois considerava esse tipo de comportamento um absurdo. Até que chegou ao ponto em que ele questionou a origem dessa raiva dentro dele e notou ele mesmo tinha tendências transgênero e não sabia como lidar ou como se aceitar.

Traduzido de Terapeuta Trans

Na minha vida passada, eu era uma lésbica cisgênero. Foi um rótulo de identidade duramente batalhado por mim. Passei a maior parte da minha vida namorando caras e fui bastante feminina por um certo tempo antes de desejar demonstrar minha estranheza de forma mais aparente. Outras mulheres queer me dispensavam e questionavam se eu me sentia atraída por mulheres. Durante esse tempo, li blogs e artigos que focavam em mulheres queer, e inevitavelmente me deparei com o conceito de mulheres trans e pessoas transfemininas.

E eu fiquei furiosa.

Era difícil para mim imaginar ter algum conhecimento interno da identidade de gênero de alguém que não fosse baseado em características sexuais. Algumas mulheres trans descreviam suas experiências como se compartilhassem uma energia indescritível ou um companheirismo com outras mulheres que as apontassem sobre a sua própria identidade.

"Do que essas pessoas estão falando?" Eu pensava com frustração. "Não sinto algum tipo de energia compartilhada com outras mulheres. Na verdade, eu sempre me senti como se fosse de outra espécie. A única coisa que me diz que sou uma mulher são os meus órgãos genitais! Se eu acordasse amanhã com outro conjunto de genitais, eu seria tranquilamente um homem."

Entra então o meu futuro eu transmasculino: "Cara". Como você equipara não entender a ideia de “sentir-se” como uma mulher como uma razão para invalidar a existência de todas as mulheres trans e pessoas transfemininas? Isso não diz muito mais sobre você do que sobre qualquer outra pessoa?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

E se você não for realmente transgênero?

Bom dia a todos e feliz ano novo! Esse ano eu pretendo continuar trazendo mais textos toda quarta-feira para fazer vocês refletirem um pouco, além de dicas, fotos, HQs e qualquer assunto interessante relacionado à nossa vivência fora da norma. A começar por esse texto de um terapeuta americano trans e queer que trata da auto dúvida que temos a respeito da nossa própria identidade. Ele foca em vivências trans, mas o contexto vale igualmente para qualquer pessoa que foge da linha cis-hétero.

Traduzido de Terapeuta Trans

Como lidar com essa questão assustadora.

Eu me entendi como sendo uma pessoa transgênero quando estava com 26 anos. Comecei a fazer a terapia hormonal alguns meses depois e mudei legalmente meu nome alguns meses depois disso. Embora eu tivesse muitas pessoas que me apoiavam, ainda foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz na minha vida. Eu não trocaria isso por nada e estou feliz por ter abraçado quem eu realmente sou.

Nos primeiros anos, fui atormentado por preocupações sobre a validade da minha identidade trans. E se eu não for realmente trans? Eu pensava comigo mesmo. E se eu estiver errado e acabar cometendo um erro terrível? E se eu tiver que desfazer a transição e me sentir insuportavelmente envergonhado?

A maioria das minhas preocupações se baseavam na minha ansiedade, o que significa que estavam focadas no futuro. Essas eram coisas que ainda não haviam acontecido e podem nem acontecer. Para mim, não aconteceu. Embora a destransição faça parte da jornada de algumas pessoas, a maioria das pessoas trans não passam por essa experiência. Infelizmente, as poucas pessoas que desfazem a transição acabam sendo usadas como evidência de que pessoas trans em geral não são reais, o que não só ataca pessoas trans, mas objetifica aqueles que vêm a perceber que não são trans (ou que prefeririam viver a vida como se forem cis, mesmo que não sejam).

Ainda tenho essas preocupações de vez em quando, embora não sejam tão comuns. Até o momento já se passaram cerca de cinco anos e essas preocupações diminuíram à medida que relaxei em minha identidade.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Nos divorciamos porque meu marido era crossdresser

Complementando o texto da semana passada, O ponto de vista da esposa de crossdresser, o artigo de hoje trás a história de uma esposa que foi informada sobre o fetiche de crossdressing do marido depois de anos de relacionamento e que até tentou conviver com isso, mas neste caso eles não conseguiram entrar em comum acordo e preferiram terminar o relacionamento. Aqui vale refletir sobre a perspectiva da mulher.

Claro que cada caso é um caso e é uma questão complexa, mas pra mim fica evidente que não vale a pena investir num relacionamento sem abrir sobre crossdressing logo no início. Independentemente se o seu crossdressing é só um fetiche, se é um estilo de vida ou mesmo se você esteja decidido a por um fim nisso, sua sinceridade a respeito disso é uma demonstração de respeito com a sua companheira. Pode ser que ela procure aceitar e aprenda a conviver com vocês, mas também pode ser que acabe com o futuro de vocês. Apesar disso, eu suspeito que seja melhor abrir no início e tentar encontrar um termo de convívio do que causar uma desilusão maior no futuro. 

Traduzido de woman's day

Eu estava na cama com meu ex-marido, enquanto os seis anos de sexo abaixo da média passavam pela minha mente como um filme mudo.

O início do nosso relacionamento era só rosas e passeios na praia. Literalmente. Com o passar do tempo, chegamos ao nosso trigésimo encontro, quando resolvemos comprar um colchão juntos. Carregamos o novo colchão de casal por três lances estreitos de escada e ele, suado e com o rosto vermelho, logo se jogou em cima dele. Eu o imaginei estendendo a mão para mim com paixão – e ele o fez. Mas, ao invés de me atirar na cama, ele me puxou em sua direção de uma forma que só poderia ser descrita como casta.

"Esse colchão será muito mais confortável", disse ele. Era como se o sexo nem fosse um interesse.

Avance vários anos nessa história e a conversa que encerrou nosso casamento começou assim:

"Tenho algo que preciso dizer a você – algo que eu nunca disse a ninguém antes", disse ele.

Ainda estávamos na fase de lua de mel neste ponto, literal e figurativamente. Estávamos deitados lado a lado olhando para o teto depois de outro coito rápido e insatisfatório – ao qual eu estava me acostumando, de alguma forma.

"O que é, baby?" Eu perguntei. Eu mal conseguia pronunciar as palavras por causa do nó na minha garganta.

Ele ficou em silêncio. O tempo se esticou e diminuiu. E então ele disse sem rodeios: "Eu só consigo ficar excitado se eu estiver usando roupas femininas."

Estranhamente, meu primeiro instinto foi confortá-lo. Fiquei emocionada que ele confiasse em mim o suficiente para compartilhar seu segredo mais sombrio comigo, e eu realmente pensei que isso não iria acabar com o nosso relacionamento. Até comemorei o quão aberta e receptiva eu era. Mesmo sabendo que o travestismo não era uma coisa ruim, a notícia me atingiu como se fosse um diagnóstico de câncer ou de depressão. Eu nunca poderia ir embora porque o meu parceiro estava lutando contra algo assim.

Mas acabou que a minha resposta positiva durou pouco.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O ponto de vista da esposa de um crossdresser

Quando eu postei o artigo Entrevista com Sra. Oliver, esposa de crossdresser, há 5 anos atrás, eu queria mostrar para os outros crossdressers que é possível estar num relacionamento heterossexual saudável sendo um crossdresser. Naquela época eu estava casado e, apesar dos altos e baixos desse meu estilo de vida, eu vivenciava um relacionamento estável. Tanto que ele sobreviveu por cerca de 10 anos. No entanto, várias outras esposas de crossdresser comentaram naquele post sobre a experiência delas, nem sempre positivas, e me fez refletir profundamente sobre isso.

O texto a seguir foi escrito por um outro crossdresser que vive um relacionamento heterossexual estável, mas ele tenta se colocar no ponto de vista da esposa e nos mostra que nem tudo são flores nessa nossa jornada.

Traduzido de Enjoy Crossdressing

Todas as vezes que eu li algum artigo falando sobre o relacionamento entre um crossdresser e sua esposa, eles sempre foram escritos do ponto de vista do crossdresser. É por isso que agora eu gostaria de tentar apresentar o ponto de vista da esposa sobre o travestismo do marido.

Sei que cada caso é um caso e que vários fatores irão influenciar, principalmente a maneira como a esposa descobre que o marido é crossdresser, entre outros.

Aparentemente, todos os problemas envolvidos nesta questão vêm de não contar à esposa sobre o crossdressing desde o princípio. Se ela soubesse antes de se casar, ela teria uma opção de escolha, mas aparentemente na maioria dos casos elas não tiveram essa escolha.

Antes de falar abertamente sobre meu crossdressing com minha esposa, eu estava apenas afundado na minha própria situação, em o quanto eu gostaria de poder compartilhar isso com minha esposa e, acima de tudo, se ela aceitaria de bom grado e me apoiaria nisso.

Nunca parei para pensar em como ela se sentiria a respeito. Tudo o que importou para mim naquele momento foi que ela dissesse sim ao meu pedido.

E cheguei à conclusão de que eu nunca fui justo com ela nesse sentido.

Quando o fiz, quando tentei me colocar no lugar dela, pude entender que essa experiência, em um caso extremo, poderia ser terrível e deprimente para qualquer companheira.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A dualidade paradoxal da cantada de rua na visão de uma mulher trans

Sei que as vezes a intenção pode até ser das melhores, mas ser abordado por um desconhecido no meio da rua sem ter dado nenhum tipo de abertura pode ser uma experiência bem desagradável. Ainda mais no nosso país onde não temos garantia de segurança em espaços públicos. Fora que alguns homens esperam por algum tipo de resposta à abordagem deles e nem sempre sabem lidar de boa quando são ignorados.

Lembro uma vez que fui passear numa feirinha de rua durante o dia e um grupo de três homens me abordaram do nada. Para mim foi uma sensação bem ruim, eu só queria passear e ver os artesanatos. Por outro lado, conheço outras crossdressers e travestis que percebem esse tipo de cantada apenas como um tipo de elogio, principalmente por elas receberem um tratamento similar ao de uma mulher cis. Talvez isso seja parte da cabeça de homem que temos, talvez seja uma oportunidade de se sentir admirada. Enfim, o texto a seguir é da Rachel Anne Williams, uma mulher trans, e ela argumenta sobre o lado positivo e negativo desse sentimento.

Traduzido de Transphilosopher

Isso não acontece com frequência, mas ontem à noite recebi uma cantada. Eu estava voltando para o meu carro em um posto de gasolina e havia um grupo de caras do lado de fora. Já no limite, um deles grita para mim "Ei, querida, como vai?". Muitos sentimentos passaram pela minha cabeça quando eu respondi "Estou bem" e tentei entrar no meu carro o mais rápido possível.

Um dos sentimentos que eu senti foi o medo. Eu estava com medo de que minha resposta "Estou bem" revelasse que sou transgênero por causa da minha voz e que aquele homem, tendo me cantado, sentisse que masculinidade dele foi ameaçada e então ele acabasse me espancando até o fim, por isso entrei no meu carro o mais rápido possível.

Outro sentimento foi de nojo. Fiquei enojada com a forma grosseira como os homens podem ser com as mulheres e senti uma pontada de injustiça em solidariedade com outras pessoas identificadas como mulheres que são cantadas ao acaso.

Mas aqui está o sentimento paradoxal: além do medo e da repulsa, também senti uma impulsionada na minha autoestima, porque ser cantada é uma indicação de que os hormônios e minha apresentação estão funcionando de tal forma que as pessoas me percebem como mulher. Esse é o meu objetivo, e é bom obter evidências positivas de que estou me aproximando desse objetivo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Como atingir o lendário orgasmo anal por estímulo da próstata

Primeiro eu gostaria de dizer que faz tempo que eu queria escrever esse artigo, até encontrei aqui nos meus arquivos umas pesquisas salvas sobre esse tema de uns anos atrás. Nesse meio tempo eu cheguei a escrever sobre o sexo anal e a inversão de papéis, que tem relação direta com o tema desse artigo e vale a pena você ler antes de continuar, mas eu fiz questão de passar pessoalmente pela experiência para então poder descrever aqui para vocês.

Antes de continuar, acho importante destacar algumas questões:

  • As dicas que vou passar aqui vão ajudar você a conhecer o seu próprio corpo e a explorar possibilidades de prazer que normalmente são ignoradas por questões supostamente morais;
  • Estimular a região anal ou a próstata por si só não tem absolutamente nenhuma relação com orientação sexual, principalmente se você estiver buscando isso por conta própria;
  • Cada pessoa terá uma experiência única. Pode ser que você se encante na primeira tentativa, pode ser que você prefira o estímulo anal apenas como complemento do estímulo peniano, pode ser que demore anos para você acertar o seu ponto (como aconteceu comigo), assim como pode ser que você nunca atinja o orgasmo anal mesmo depois de tentar inúmeras vezes;
  • Vou focar um pouco mais no orgasmo anal pela estimulação da próstata pois sou um homem biológico e é isso que eu tenho para explorar, mas, pelo que eu pesquisei, as técnicas são bem similares para a anatomia feminina.

Bom, então vamos começar pela questão biológica do negócio.

Quando um dedo ou um brinquedo erótico é inserido no ânus de uma pessoa, algumas diferentes partes do corpo acabam sendo estimuladas. A começar pelo próprio ânus.

Nosso furico é, na verdade, o orifício no final do intestino grosso regulado pelo esfincter, que tem como suporte a musculatura do períneo e que recebe inervação pelo nervo pudendo, que é o responsável pela transmissão da sensação de órgãos genitais externos de ambos os sexos. Isso faz com que o local tenha uma sensibilidade que, para algumas pessoas, forneça sensações incríveis quando estimuladas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Existe um terceiro sexo? (texto de 1906)

Se você acha que a "ideologia de gênero" é um projeto moderno da esquerda feito especialmente para destruir a família e a heterossexualidade, sinto dizer mas você está enganado. O texto a seguir veio do livro "Mannweiber und Weibmänner" (Homens mulheres e Mulheres homens – Tradução livre) de 1906 escrito por Anne von den Eken e também foi publicado na revista alemã O Terceiro Sexo em 1930.

O artigo trata justamente das pessoas que não se encaixam perfeitamente no binarismo de gênero e questiona a ideia de que exista um terceiro sexo. Na visão da autora, o masculino e o feminino são duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as pessoas e ela usa da biologia para embasar a origem disso. Sinceramente, eu não esperava que um texto escrito a mais de 100 anos atrás pudesse estar tão alinhado com o que eu penso.

Traduzido de The Weimar Project

Sempre classificamos as pessoas em apenas dois sexos. Mas, por vários anos, o termo “terceiro sexo” tem aparecido com frequência (1). Milhares de pessoas usaram a frase, brincando de improviso ou zombando, sem ter noção de quanta tristeza e sofrimento, quanta luta e desespero se esconde por trás desse termo. Poucos sabem que o “terceiro sexo” não é apenas uma calúnia para excêntricos masculinos e femininos, mas que realmente existe há milhares de anos, sim, presumivelmente já existia na Terra antes dos outros dois sexos. Há estudiosos que querem provar que as primeiras pessoas eram dualistas (2), ou seja, homem e mulher unidos em uma única pessoa.

De acordo com a velha história bíblica da criação, Adão foi criado primeiro, e de seu corpo nasceu Eva. Daí em diante eles viraram “marido e mulher” e estavam literalmente unidos em um só corpo. É bem provável que os antigos cronistas bíblicos quisessem sugerir que pessoas pré-históricas com sexo duplo eventualmente se desenvolveram em pessoas separadas. Não há dúvida de que existiam pessoas na Terra muito antes de Adão e Eva. Como a bíblia fala apenas de uma parte da população da Terra, infelizmente perdemos a história do resto do povo e, portanto, só podemos provar a existência de outros tipos de seres a partir dos vestígios que ainda estão evidentes em nossos corpos de hoje. O fato é que atualmente tanto homens quanto mulheres, depois de tantos milhares de anos, carregam sinais claramente reconhecíveis do outro sexo. O mais marcante deles são os mamilos do homem, que têm o único propósito de amamentar crianças. Mas o corpo feminino também mostra um resquício do masculino em seus órgãos genitais, a saber, o clitóris, que nada mais é do que um pênis subdesenvolvido.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Exploração de gênero e curiosidade por meio de roupas

Sempre achei incrível o poder das roupas. Seja aquele casaco de couro que deixa a pessoa com uma atitude confiante. Ou aquele vestido lindo e brilhante que atrai toda atenção para quem o está trajando e a faz sentir a pessoa mais poderosa do local. Ou aquele terno feito sob medida que sutilmente mostra o quanto a pessoa pode pagar pela exclusividade. Ou até aquele look básico que falaram que não era para o seu gênero, mas que faz você se sentir bem consigo mesmo de uma maneira inexplicável.

Entendo que as roupas ajudam você a expressar quem é você mesmo, desta forma, ter plena liberdade de poder escolher o tecido ou corte de roupa que te agrade deveria ser muito mais importante do que essas limitações sociais que envolvem o formato do seu corpo, principalmente o seu aparelho genital. O texto a seguir fala sobre quando caiu a ficha da Grace Van Der Velden, uma mulher cis, a respeito dessas possibilidades que as roupas trazem. 

Traduzido de Grace Van Der Velden

O que colocar lingerie em um homem pela primeira vez me ensinou sobre mim mesma.

Recentemente, coloquei lingerie em um homem pela primeira vez. Era um body de renda cor creme coberto de babados nos ombros e um decote em V profundo que revelava perfeitamente seu peito peludo. Era a minha peça de roupa mais feminina, mas só me fez sentir do jeito que pensei que sentiria quando a vi nele.

Através da exploração pessoal, em privado, com um parceiro, encontrei um tipo de liberdade, alegria e êxtase que eu nem sabia que era possível.

Quando vi meu parceiro vestindo a minha lingerie... algo dentro de mim mudou, se soltou e um novo sentimento começou a surgir. Isso liberou uma onda de curiosidade e poder que eu nunca tinha experimentado antes, mas que estava fluindo e se acumulando em minha mente por um longo tempo.

No passado, eu me sentia impedida de explorar expressões de gênero e emoções por meio de minhas escolhas de estilo. O que coloquei no meu corpo sempre pareceu como uma performance com significado para todos, exceto para mim. Minha roupa era uma maneira de tentar agradar as outras pessoas, e me colocava em segundo plano.

Mas agora, quero que minhas roupas sejam um indicador físico de tudo que flui através de mim – meus pensamentos, emoções, masculinidade, feminilidade e curiosidade.

Estou aprendendo a seguir esses sentimentos – a lançar uma luz em cada canto e recanto da minha imaginação e criatividade, em vez de deixá-los serem encobertos pelas teias da expectativa da sociedade. Estou aprendendo a fazer uma pergunta e ver quais respostas eu encontro dentro de mim primeiro, ao invés de buscar validação externa. Eu quero buscar experiências de nicho, uma reação emocional, um momento de euforia corporal que eu nunca havia considerado antes – aqueles que estão presos no contexto das roupas e o que significa ser a pessoa dentro delas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Onde foram parar os "homens de verdade"?

Está aí uma expressão que eu considero de extremo mal gosto: "homem de verdade". Cansei de ver moças buscando esse tal homem de verdade e acabar com um cara que não levanta um dedo para faxinar a casa, ou com um cara que não dá a mínima para fidelidade, ou até com um covarde que abusa da violência física contra ela. Fora as que acabam com um filho para criar sozinhas. Enfim, isso é consequência dessa nossa cultura machista, tanto que ainda tem quem defenda cada um desses comportamentos.

Confesso que comecei a ler esse artigo da Carlyn Beccia com isso em mente, mas logo percebi que a abordagem dela foi muito mais sofisticada do que eu esperava. Ela deixa claro que masculinidade é um conceito social que muda com o tempo, mas que os caminhos que toma nem sempre são positivos. Espero que esse texto te ajude a refletir um pouco assim como fez comigo. 

Traduzido de Heart Affairs

Eu sou uma mulher que procura um homem forte. Mas tem dias em que eu não sei mais exatamente o que isso significa. Eu não sou a única que está confusa. Nunca estivemos em um momento na história em que a masculinidade estivesse tão obscura.

Homens de verdade já foram os chefes de família responsáveis pelo ganha-pão. Mas antes da Revolução Industrial, o conceito de "ganha-pão" nem existia. Produtos como pão e outros itens essenciais surgiram de uma divisão de trabalho compartilhada entre homens e mulheres que trabalhavam na agricultura. Então, as fábricas transferiram o trabalho agrícola para o trabalho da cidade e as mulheres foram relegadas para a cozinha. Não trabalhávamos mais lado a lado e, quando o fazíamos, não recebíamos o mesmo salário.

Na era vitoriana da masculinidade, os homens de verdade eram cavalheiros. Ele galantemente caminhou ao lado esquerdo de sua senhorita para protegê-la das carruagens que passavam e seguiu os estritos rituais de namoro da época. E se seus princípios fossem questionados, ele se dirigia ao campo de duelo. Homens de verdade eram homens honrados.

Essa honra se espalhou pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda Guerra Mundial. Nossos meninos se tornaram soldados e as mulheres tiveram que preencher os espaços que os homens deixaram para trás. Assim, as portas da fábrica se abriram para as mulheres, e Rosie, a Rebitadeira, flexionou os bíceps para provar que as mulheres podiam lidar com o trabalho pesado dos homens.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Mulheres trans e a ideologia da passabilidade

Passabilidade é quando uma pessoa tem que esconder que é trans para ser respeitada pelos outros, simples assim. Pra falar a verdade, achar que a identidade de gênero obrigatoriamente depende da aparência é uma violência ao direito que cada um tem sobre seu próprio corpo.

Traduzido de Takoda Leighton-Patterson

Quando me assumi como transgênero, a primeira coisa que fiz foi procurar grupos de apoio. Não é a coisa lógica a se fazer? Eu pensei assim até me encontrar em um grupo, me sentindo mais disfórica do que antes de me juntar a eles. Lutei com a sensação de que o objetivo dos grupos era que nos sentíssemos validados, seguros e vistos uns pelos outros. Minha expectativa do grupo estava longe da realidade e com isso fui obrigada a abordar o que eu estava sentindo e vendo no grupo. Em vez de ver mulheres solidárias e felizes, vi membros se olhando com desprezo, algumas dando-se mais valor do que outras com base em uma ideologia que imediatamente reconheci como perigosa. Essa ideologia é chamada de “passabilidade”.

Para entender por que a passabilidade é perigosa, você deve primeiro entender a própria palavra e o seu significado. Quando se trata de gênero, ser passável é uma forma de se integrar. Passar é ser percebido como alguém cisgênero ao invés de transgênero. Se passar por mulher trans significa simplesmente parecer uma “mulher de verdade”. Por que eu acho que isso é perigoso? Porque nos leva a perseguir um objetivo impossível. Qual é a aparência de uma mulher de verdade? Quem decidiu como é uma mulher de verdade? Se focar nisso, você encontrará a óbvia misoginia encarando você. Durante séculos, as mulheres foram submetidas às opiniões dos homens cis e julgadas por seus padrões. Somente mulheres com um determinado tipo de corpo, cor de pele, comprimento de cabelo, etc. eram e, de muitas formas, ainda são consideradas como "mulher ideal". Os padrões de beleza sempre tiveram falhas e, como resultado, muitas mulheres começaram a se odiar por isso. As mulheres trans não estão livres deste destino, na verdade muitas de nós sofrem da mesma forma porque nos ensinam e nos dizem que devemos sermos passáveis para sermos “reais”.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Como equilibrar sua vida cotidiana com o seu lado crossdresser

Não sei ao certo se isso é o prazer ou o fardo de ser crossdresser, mas sei que é fato que a maioria dos crossdressers que eu conheci até hoje levam uma "vida dupla". Como sabemos que o nosso lado feminino tende a ser mal visto pelos outros, costumamos manter esse comportamento de maneira bem privada e só desfrutamos o modo en femme nos momentos em que sentimos segurança plena. Consequentemente isso acaba afastando o nosso lado feminino da nossa vida cotidiana e, depois de um certo tempo, não é nada fácil pensar em conciliar essas coisas.

O texto a seguir mostra a perspectiva da CiCi Kitten, que também é crossdresser, e nos faz refletir um pouco a respeito de quem somos e o que estamos buscando.

Samantha Oliver

Traduzido de EnFemmeStyle 

Sobrecarregado

Eu não sei como as outras pessoas fazem. Mas se eu tivesse que resumir minha vida hoje em dia em uma palavra, essa palavra seria "sobrecarregado". Tudo fica muito louco no mundo feminino, não é? E olha eu passei muito tempo no armário. Eu era uma garota apenas quando estava online. E eu sempre ficava ansioso pelo dia (ou noite?) que eu finalmente pudesse começar a sair. Achei que seria uma grande conquista para mim (e foi!). Achei que seria divertido (e é!).

Só não sabia o quanto isso seria exaustivo! (E olha eu nem saio muito.) Eu acho que sou parecido com muitos outros crossdressers e travestis. Eu sou casado. Eu tenho uma família. Eu tenho uma carreira. Eu tenho amigos. E todos eles precisam e merecem a minha atenção.

Mas essa coisa de garota. Ela lentamente começa a assumir o controle da sua vida. Num bom sentido. (Eu acho.) Isso tornou a minha vida muito mais agradável. Muito mais satisfatória. Muito mais sensual. Mas com certeza não facilitou a minha vida.

Em épocas em que eu deveria estar poupando cada centavo, minha vida feminina me pede para gastar mais e mais. Em momentos em que eu preciso estar realmente focado no meu trabalho, minha vida feminina me distrai. Em momentos em que meus amigos e família merecem minha atenção, sou atraído por um novo grupo de amigas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O problema com o rótulo de "transgênero"

Traduzido de Douglas Giles, PhD

Vou abordar um assunto delicado e ouso perguntar: qual é o problema com o rótulo de "transgênero"? Não há absolutamente nenhum problema com qualquer ser humano que possa se considerar "transgênero" pois todos os seres humanos devem ser aceitos pelo que são. O problema é o próprio rótulo, basicamente porque se trata de um rótulo.

Primeiro, sejamos claros sobre qual é o problema.

Uma pesquisa do Reino Unido descobriu que 79% das pessoas que se identificam como transgênero vivenciaram crimes de ódio relacionados à sua identidade de gênero e 32% sofreram violência física. Ambas as porcentagens são mais altas do que as experiências de gays, lésbicas e bissexuais. A Human Rights Watch relata que a violência mortal contra pessoas da comunidade trans está aumentando.

Pessoas estão sendo discriminadas, assediadas, ridicularizadas, agredidas e até mortas porque não se enquadram bem nos estereótipos culturais de "homem" ou "mulher". Eu coloquei “homem” e “mulher” entre aspas porque os gêneros são construções sociais. Em outras palavras, as categorias de “homem” e “mulher” significam o que decidimos coletivamente que significam, e esses significados mudam conforme as culturas mudam. Não se trata de genitália, mas do que as pessoas pensam e sentem sobre o conceito de “homem” e “mulher” e sobre os valores que atribuem a esses significados. Valores e significados são anexados a conceitos e esses conceitos são representados por uma palavra ou rótulo.

Nesse caso, se uma pessoa não está agindo como um “homem” ou como uma “mulher” “deveria” agir, é amplamente considerado que essa pessoa está fazendo algo impróprio. Indivíduos que agem de forma contrária às essas normas sociais podem ser tratados com suspeita e hostilidade. Os estereótipos são maneiras simples e fáceis de categorizar as pessoas, e se alguém pensa que todos são “homem” ou “mulher”, então julgar as pessoas é fácil. As pessoas confiam em conceitos e em seus rótulos para saber como devem pensar, sentir e fazer julgamentos sobre as coisas. Conceitos e rótulos dão uma sensação de segurança e compreensão, razão pela qual muitas pessoas se sentem desconfortáveis ​​quando outras não se conformam com as normas sociais do que um “homem” ou uma “mulher” deve ser.

A questão é: como podemos parar a discriminação e a hostilidade contra pessoas que não se conformam com estereótipos sociais como "homem" e "mulher?" Se o problema é julgar as pessoas de acordo com as categorias, adicionar outra categoria não é a resposta. Se “transgênero” é apenas mais um rótulo ao qual atribuímos valores e significados para definir as pessoas, o que exatamente se ganha? Mais rótulos não resolvem os problemas criados por rótulos. Como um rótulo que designa uma categoria, “transgênero” torna-se outro estereótipo contra o qual as pessoas individualmente são julgadas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Os 5 tipos de homem que encontrei paquerando online como mulher transgênero

No artigo de hoje a Suzanna Alastair, uma mulher transgênero, elencou os principais perfis de homens que ela pôde conhecer enquanto paquerava online ao longo de 2 anos. Apesar de não ser do meu interesse, tive a oportunidade de conhecer diversos desses perfis de homens na internet e achei bem coerente as observações dela. Aliás, eu já escrevi o post T-Lovers, será amor ou ódio? comentando um pouco dessa minha experiência pessoal conhecendo homens online.

Traduzido de Suzanna Alastair

Estou casada há 17 anos com uma mulher maravilhosa, durante os quais fomos estritamente monogâmicos por 14 anos. No início de 2019, minha esposa e eu estávamos casualmente discutindo sobre poliamor quando minha esposa me surpreendeu dizendo que ela achava que ficaria bem comigo, às vezes, namorando outras pessoas. Nisso, ela quis dizer que ficaria bem comigo namorando homens. Seu raciocínio era que um homem poderia me dar algo que ela não poderia.

Deixando de lado a falsa noção de que uma mulher deve ter um homem para ser feliz, ela tinha razão. Um homem poderia me dar algo além do que apenas um pau duro.

Para mim, como uma mulher transgênero, ter um homem heterossexual me vendo e me aceitando como uma mulher completa e me namorando como se fosse qualquer outra mulher cis seria o meu Santo Graal. O problema é que os homens heterossexuais muitas vezes me veem como: um homem, um fetiche, uma experiência a ser vivida, uma maneira de realizar seus desejos homossexuais de forma segura ou qualquer combinação disso.

Ter um homem que me aceite e me ame como a mulher que eu sou, sem quaisquer reservas ou obstáculos, e que me ame como faria com qualquer outra mulher, é algo que minha esposa não pode me dar.

Aqui está o dilema. Encontrar tal homem não é tão simples quanto ter esperança ou fantasia. Eu não sou uma mulher típica. Além disso, sou transgênero, mas não sou submissa. Eu sou uma mulher forte. Nas práticas fetichistas sou uma dominadora, isso significa que quem está no controle sou eu. Os homens normalmente não gostam quando uma mulher tira o controle deles. Bom, homens submissos sim. Mas, eu não quero um homem submisso. Eu quero um homem que sabe que é um homem, mas que também seja um cavalheiro.

Portanto eu passei dois anos paquerando online usando sites como Badoo, okcupid e um site finlandês chamado Alastonsuomi, e a maioria dos homens que me abordaram se enquadram nesses cinco perfis:


1. Opa! Eu cometi um erro!
Esse tipo de homem raramente lê o meu perfil que diz claramente logo na primeira frase que eu sou uma mulher transgênero. Eles me veem como uma mulher (que eu sou), mas presumem que sou uma mulher cis. Então eles começam a dança do acasalamento comigo fingindo serem todos doces e tal.

Um exemplo disso foi um homem que me escreveu no okcupid. Ele era um homem branco e careca do Texas, cujo perfil afirmava que ele era um cristão devoto e apoiador do Trump. Ele não é alguém que eu esperaria que tivesse interesse em uma mulher transgênero. Ele se aproximou de mim com educação e começou a fazer perguntas sobre coisas que eu já havia abordado no meu perfil. Sabendo que ele não tinha lido o que eu escrevi, perguntei se ele leu no meu perfil que eu sou uma mulher transgênero. Ele admitiu que não leu e pareceu meio confuso por ter se sentido atraído por uma mulher trans. A vergonha e o constrangimento fluíram de seu pedido de desculpas. Eu quase podia imaginá-lo com o rosto vermelho enquanto escrevia o pedido de desculpas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Por que azul para meninos e rosa para meninas?

Cada geração traz uma nova definição de masculinidade e feminilidade e isso acaba se manifestando nas roupas infantis. Esse negócio de azul para meninos e rosa para meninas é algo relativamente recente pois o costume surgiu apenas no meio do século passado, fora que no caminho ainda teve um empurrãozinho da indústria da moda para incentivar os pais a gastar mais dinheiro com as roupas dos filhos. 

Adaptado de Smithsonian Magazine

O pequeno Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos, se apresenta na foto sentado recatadamente em um banquinho, com uma saia branca espalhada suavemente sobre o seu colo e com as mãos segurando um chapéu enfeitado com uma pena de marabu. Cabelo na altura dos ombros e sapatos de festa de couro envernizado completam o conjunto.

As pessoas costumam achar essa aparência meio inquietante hoje para um menino, porém a convenção social de 1884, quando Roosevelt foi fotografado aos 2 anos e meio, ditava que os meninos e as meninas deveriam usar vestidos até os 6 ou 7 anos de idade. Também era nessa idade que costumava ocorrer o primeiro corte de cabelo da criança. A roupa do Franklin era considerada neutra em termos de gênero.

Assim como os outros meninos da sua época, Franklin Roosevelt aparece trajando um vestido na foto.
Este retrato de estúdio provavelmente foi tirado em Nova York em 1884.

Hoje em dia as pessoas tem a necessidade de saber o sexo de um bebê ou de uma criança pequena logo à primeira vista, diz Jo B. Paoletti, historiadora da Universidade de Maryland e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys From the Girls in America (Rosa e azul: separando os meninos das meninas na América, 2012, sem versão em português). Assim, vemos, por exemplo, uma faixa rosa envolvendo a cabeça calva de uma menina.

Por que o estilo de roupa das crianças mudou tão drasticamente?
Como terminamos com duas “equipes”, meninos de azul e meninas de rosa?

“É, na verdade, a história do que aconteceu com as roupas neutras”, diz Paoletti, que explorou o significado das roupas infantis por 30 anos. Por séculos, diz ela, as crianças usaram vestidos brancos delicados até os 6 anos de idade. “O que antes era uma questão de praticidade – você veste seu bebê com vestidos e fraldas brancos; algodão branco pode ser branqueado – tornou-se uma questão de ‘Meu Deus, se eu vestir meu bebê da maneira errada ele vai se tornar um pervertido’ ”, diz Paoletti.