segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Passabilidade, o que é isso?

Quem é a mais passável??
A seguinte descrição do termo "passabilidade" eu encontrei no Glossário de gêneros do site do programa Liberdade de Gênero da gnt: "termo que traduz o quanto uma pessoa transgênera se parece fisicamente, se veste, fala, gesticula e se comporta de acordo com os estereótipos do gênero oposto ao que lhe foi consignado ao nascer."

Legal, parece coerente. Mas fiquei com dúvidas.
De quais estereótipos que estamos falando?
E quem pode ou deve quantificar o quanto a pessoa se parece com o gênero oposto?

Estive refletindo sobre isso e cheguei a conclusão que a tal da passabilidade na verdade é um problema sério. Para começar o termo "passável" significa algo que possa se passar por outra coisa ou que possa ser aceito por outra coisa, isso soa como algum tipo de enganação, não acham?
Não é a toa que vejo várias brincadeiras como a famosa "É uma Cilada Bino!!!!":


O texto a seguir eu retirei de uma publicação do Facebook da Daniela Andrade, uma mulher trans:

"Pois bem, acho que a gente passa tanto tempo da vida sendo discriminada, agredida, deslegitimada que acabamos criando uma expectativa muito grande, insuperável, sobre a nossa expressão de gênero.

A ansiedade de que parem de te agredir de forma transfóbica é tanta, que é muito comum mulher trans acreditar que mesmo depois de várias cirurgias, anos de hormônio tomado de forma clandestina, mil tratamentos estéticos, ainda não é o suficiente, é preciso sempre mais para que a sociedade a veja não só como mulher, mas como uma mulher perfeita.

Há uma busca incessante e incansável por algo inatingível a todas nós. Afinal de contas, sempre haverá alguma característica sua para apontarem e dizerem que você não é mulher o suficiente ou mulher "de verdade". É a voz, a mão, o pé, a perna, o cabelo, o globo ocular, os seus cromossomos, o seu coração, intestino, estômago, rins... as suas células, a sua alma, ufa!

Mas também é sabido que você pode virar do avesso, fazer milhares de cirurgias, que para sempre será uma mulher trans - por mais que você corra, seu passado irá te alcançar."


Se a passabilidade é o quanto a sociedade vê a pessoa, então realmente vai ser uma busca inatingível para a maioria. Comento para a maioria por que tem meninas que são naturalmente tão femininas que ninguém questiona, mas na identidade de gênero não importa a aparência, importa apenas como a pessoa se sente.

Por exemplo, a Daniela Souza, que participou do Meninas respondem!!, se vê como mulher trans e comentou na entrevista dela: "não tenho traços femininos, aliás estou longe disso rsrsrs, sou morena, tenho 1,87m de altura e peso 90kg, quem olhar para mim jamais vai pensar que me considero uma mulher". Se ela se vê como mulher é por que ela sente como mulher então quem seria eu ou qualquer outro para questionar o que ela sente?

Deste modo, para mim não importa em absolutamente nada a passabilidade.

E o que fazer quando conhecer uma pessoa e não se sabe o gênero dela?
Eu gostaria que a nossa língua não fosse tão específica na questão do gênero das palavras. No inglês, por exemplo, tem diversas situações que é indiferente o gênero dos interlocutores durante uma conversa. O que eu busco fazer é simplesmente perguntar para a pessoa ou espero ela falar e observo como ela se referencia. Quando estou de Samantha eu me apresento no feminino, faço isso mesmo para quem já me conhecia como Victor.

Alias, na primeira foto do post só tem mulher cis. Se você ainda tiver algum estigma da passabilidade na cabeça eu digo para você reparar em todas as mulheres a sua volta. Assim você vai perceber que não existe mulher padrão. Cada uma tem o seu jeito. Cada uma tem a sua aparência. Cada uma merece o devido respeito!
0 Comentário(s)
Comentário(s)

Nenhum comentário: