quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Aceitando o Paradoxo da Energia Masculina e Feminina

O texto a seguir é muito válido para as pessoas que não se sentem exatamente como transgênero, principalmente para quem se vê como não-binário ou apenas como crossdresser mesmo. Eu mesmo me encaixo nisso sempre me pego pensando bastante sobre o assunto pois não me sinto como uma mulher e não faço questão de ser visto como uma, inclusive não me sinto confortável quando outras pessoas forçam questões transgênero em mim.

Só um detalhe: como a autora é filósofa, o texto não trás respostas, mas os questionamentos dela com certeza nos faz refletir um pouco, e isso é ótimo!

Traduzido de Transphilosophr

Minha identidade não binária me levou ao caminho tortuoso do gênero

Eu me pego pensando muito sobre o equilíbrio das energias dentro de mim, principalmente aquelas que são constituídas pelo que poderia ser chamado de masculino e feminino.

Sendo uma pessoa não binária, o que significa encontrar equilíbrio dentro do binarismo de gênero?
Esse equilíbrio é realmente necessário?
Isso precisa ser equilibrado para ser visto de maneira bonita e fashion?
Não seria suficiente apenas existir ao longo do espectro, dentro do espaço multidimensional do gênero?
Posso colocar meu polegar na escala e ainda ser uma pessoa não binária?

Em um nível superficial, tem a questão da minha aparência. Ela é vagamente feminina, com cabelo comprido e expressão de gênero casualmente feminina. Mas também há uma aspereza em minha aparência, evidenciada na minha voz e nos traços faciais, bem como a lateral raspada do meu cabelo, que é um movimento deliberado para inspirar androginia, para enviar uma energia queer. Isso leva o observador a um estado de ambivalência que se inclina para o feminino. Esse estado costuma ser uma fonte de ansiedade para mim, embora, estranhamente, também seja o mais confortável. Essa é a vida não-binária.

Mas, neste artigo, estou muito mais preocupado com o equilíbrio das energias da minha vida interior, da minha paisagem psicológica. É aí que a verdadeira dinâmica de yin e yang funcionou ao longo de minha transição. Encontro-me oscilando entre a dinâmica da receptividade e da afirmação. Da Imperatriz e do Imperador. Da Grande Sacerdotisa e do Mago. Da Água e do Fogo.

Eu ressoo com a androginia e com a transexualidade de O Louco, que é leve e arejado e dança ao longo de sua jornada sem direção. O Louco tem um destino, mas não tem um rumo. Eles estão em uma jornada para o obscuro. Em poucas palavras, esse é o meu gênero. Ele serpenteia na direção da feminilidade, mas apenas na medida em que essa é a direção "oposta" de onde comecei: no mundo da masculinidade. Mas, uma vez que o feminino não é o oposto do masculino, eu realmente não sei bem para onde eu estou indo. E está tudo bem.

A transfeminidade é supostamente sobre atravessar a distância entre o masculino e o feminino e, no entanto, agora me encontro em uma espiral no meio, não tendo chegado a um destino nem estou desesperada para ir a qualquer outro lugar. Eu continuo evoluindo, mas não tenho certeza para onde estou indo. Aconteceu uma estagnação na medida em que eu me considerei “pós-transição” depois de quase cinco anos, mas a minha jornada mal começou. Essa é a coisa engraçada sobre a transição. É difícil determinar onde começa e onde termina. Algumas pessoas trans definem isso em torno de grandes marcos de cirurgia ou o que quer que seja.

Mas, para mim, parece que eu defini em termos da minha jornada psicológica interior. Não me associo mais com a masculinidade do meu passado. Eu não ressoo com a energia cis masculina. Mesmo assim, ainda tenho aquela energia de O Imperador. Não me abandonei completamente pelo mundo feminino. Existe equilíbrio. Assertividade. Poder. E, ainda assim, continuo a girar no mundo feminino, tentando o meu melhor para rejeitar a masculinidade tóxica da minha educação, rejeitando o privilégio que uma vez eu tive.

Agora eu pareço ressoar entre duas esferas circulando, com cada esfera girando gavinhas de energia uma na outra, como duas estrelas orbitando uma à outra. Estou preso na gravidade do gênero. Buscando equilíbrio. Mas eu não faria de outra maneira. Eu pareço estar contente. Pareço estar feliz. Não é isso que realmente importa?

Sempre gostei de ser uma contradição. Um paradoxo ambulante. Mas uma coisa que aprendi com a filosofia é que os paradoxos podem ser verdadeiros. Não preciso rejeitar a contradição para viver a minha verdade. Posso ser gloriosamente as duas coisas e, ao mesmo tempo, rejeitar a exigência de ser uma mistura perfeita de androginia. Uma mistura. Um amálgama. Uma fusão de diferentes energias. Uma substância alquímica, resultante da conjunção de diferentes elementos.

O bonito é que cada um de nós também tem a capacidade de explorar esse espaço multidimensional do gênero. Onde sua jornada te levou?

Foto da transformação da Rachel Anne Williams, autora do texto
3 Comentário(s)
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3 comentários:

Johnni X Musings disse...

You seem to be finding a balance, or at least on your way there. I feel similar, in that 'gender is a spectrum.'

M F
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

I used to be around M8, now more like F4

Good luck!

disse...

Sou irremediavelmente uma pessoa hibrida e isso nunca vai mudar. Nunca quero me definir e pensar em mim como homem ou mulher. Tenho o comportamento masculino na maior parte do tempo mas amo ser feminina por horas durante a semana.

disse...

Eu tive o desejo de ser menina desde a infância. Queria tanto estar vestida com lindos vestidos de festa como as outras meninas. Nunca superei esse desejo e já adulta me permiti experimentar essa sensação adorável de ser mulher. Sou feliz...