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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Será que eu sou transfóbico(a)?

Traduzido de Rori Porter

Eu me assumi como transgenero em 2017 e, desde então, ouvi essa pergunta de muitas maneiras diferentes vindo de várias pessoas cis. Às vezes, é perguntado de boa fé pelas pessoas que estão apenas tentando melhorar. “Sou transfóbico? Por favor, me ensina."

Outras vezes, é combativo. "Sério? Você acha que eu sou transfóbico? Não tenho medo de pessoas trans!

Em primeiro lugar, sim. A maioria das pessoas que fazem essas perguntas são, de alguma forma, transfóbicas. Todos nós somos, inclusive eu, e é por isso que essas conversas são complicadas num primeiro momento.

É por isso que não gosto necessariamente de palavras como “transfobia” sendo usadas de maneira generalizada. Muitas pessoas, tanto bem-intencionadas quanto mal, ficam presas na parte da “fobia”, esquecendo que uma fobia pode ser um medo literal, mas também pode ser uma aversão, como na palavra “hidrofóbica”. A hidrofobia certamente pode se referir ao medo de água ou natação, ou pode se referir a uma substância que rejeita a água. Essa diferença atrapalha as boas discussões sobre o que significa ser exposto à anti-transidade ao longo de nossas vidas.

Aqui está a questão: vivemos em uma sociedade fundamentalmente transfóbica. O problema é sistêmico, com impactos de longo alcance no zeitgeist cultural das últimas centenas de anos, em graus variados ao longo de cada época.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Como o crossdressing pode mudar o mundo

"Mude o mundo sendo você"

Traduzido de Fiona Dobson

Eu estava sentada na minha cozinha esta manhã, com uma frigideira chiando no fogão espalhando aromas deliciosos pelo jardim, quando ouvi o som da moto do Sylvester entrando na minha garagem. Sentindo a presença de bacon no ar ele costuma aparecer do nada. Agora, o mesmo poderia ser dito de algumas das minhas amigas, mas isso é outra história.

Chegando bem quando eu estava prestes a servir o café, Sylvester apareceu com sua sobrinha, uma jovem deslumbrante de treze anos.

"Fiona, esta é Anastasia", disse ele ao entrar. “Ela ouviu tanto sobre você! Ela disse que gostaria de vir comigo no meu passeio matinal e passar aqui para dizer oi.”

"Bem, oi Anastasia", eu disse, e nesse ponto vou pedir para você se imaginar pressionando o botão de pausa. Sim, congele a realidade por um momento e pergunte a si mesmo o que provavelmente viria a seguir nesse diálogo.

Normalmente eu diria algo sobre como a sobrinha de Sylvester é bonita. Ou, possivelmente, algo sobre como deve ser divertido andar de moto – e agora vou pedir para você tirar essa ideia da cabeça.

Mas hoje, eu gostaria de pedir para você fazer algo muito especial para mim – e sim, tem tudo a ver com crossdressing. Eu gostaria que você imaginasse como seria a conversa se fosse para evitar estereótipos de gênero e preconceitos. Em outras palavras, em vez de dizer "que nome bonito", para uma garota, por que não escolhemos admirar a pessoa – livre de gênero.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

5 dicas úteis para o seu primeiro passeio como crossdresser

Traduzido de CrossDressTravel

Você já se imaginou passeando travestido alguma vez?

Mas o medo e a preocupação te impediram?

Agora você vai poder dar esse grande passo, então fique ligado nessas dicas!

Meu deus, e se as pessoas apontarem e te encararem, ou pior, disserem coisas desagradáveis para você? Não se sinta sozinho, todos nós tivemos nossa primeira experiência de crossdresser em público. Continue lendo para descobrir 5 dicas úteis para sua primeira experiência. 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Os estereótipos da masculinidade viking estão incoerentes

Traduzido de Time

Parte da imagem que temos hoje dos antigos povos vikings é uma caricatura da masculinidade – o guerreiro de cabelos compridos ainda está incorporado nos logotipos ou publicidades de produtos que apelam para um suposto ideal de comportamento viril. Mas a realidade escandinava da era viking abrangeu muito mais, incluindo uma verdadeira fluidez de gênero. O patriarcado era uma norma da sociedade viking, mas que foi subvertida a cada passo, muitas vezes de maneiras que – fascinantemente – foram incorporadas às suas estruturas.

Os vikings certamente estavam familiarizados com o que hoje seria chamado de identidades queer. As fronteiras de gênero eram rigidamente policiadas, às vezes com conotações morais, e as pressões sociais impostas a homens e mulheres eram muito reais. Ao mesmo tempo, porém, essas fronteiras eram permeáveis a um grau de sanção social. Há uma tensão clara aqui, uma contradição que pode ser produtiva para quem tenta entender a mente viking.

Esses temas e conexões podem ser analisados nas sepulturas da época. Os arqueólogos determinam o sexo dos mortos enterrados através da análise de seus ossos (o que é confiável, embora não 100% certeiro) ou DNA (que usa uma definição cromossômica que geralmente é incontroversa). No entanto, em muitos casos os falecidos foram cremados, ou as condições de preservação no solo foram desfavoráveis à sobrevivência do osso em qualquer estado. Nesses casos, durante séculos, os arqueólogos recorreram à determinação do sexo dos mortos por meio da associação com objetos supostamente de gênero – armas em um túmulo são consideradas para sugerir um homem, conjuntos de joias denotam uma mulher e assim por diante.

Além dos problemas óbvios de confundir sexo e gênero, e também de classificar o pedaço de metal por sexo, essas leituras arriscam simplesmente empilhar um conjunto de suposições sobre o outro no que os decisores forenses chamam de “bola de neve de viés” de interpretações cumulativamente questionáveis.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Como provar que você é transgênero ou não-binário?

Traduzido de Aleksandra Pawłwoska

Spoiler: não é fácil

Há muitas reações que alguém pode receber ao sair do armário – desde alegria, indiferença até antipatia visível. No entanto, a mais peculiar que eu já me deparei não estava em nenhum lugar do espectro “bom-ruim”. Em vez disso, era uma frase única e extremamente desconcertante:

"Eu não acredito em você. Não há sinais."

Não foi uma reação positiva, nem negativa – foi pura negação. Minha saída do armário aparentemente foi refletida para mim: eu tinha que provar que era trans e algo tão simples quanto a minha palavra não era suficiente.

Mas como diabos você pode fazer isso?

Um tipo de prova de que você é transgênero é quase sempre, pelo menos aqui na Polônia, por burocracia exigida pelos profissionais médicos para prescrever hormônios e fornecer os laudos necessários para solicitar uma mudança de gênero nos documentos. Na melhor das hipóteses, que eu felizmente tive, você é questionado sobre seu passado, sexualidade e é obrigado a preencher meia dúzia de testes, que se unem em um gráfico que supostamente mostra se você é realmente transgênero. Certamente, isso seria prova suficiente e mais um pouco.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

O menino que foi criado como menina

Traduzido de Celeste Anise

Mentiram sobre o gênero dele

Eu me deparei com esta história há alguns dias e me senti compelida a escrever sobre isso. Especialmente à luz do que o estado do Texas (E.U.A.) está tentando fazer contra pessoas transgêneros. Também queria escrever sobre isso porque notei muitos comentários sobre essa história dizendo que ela validava ideais anti-transgêneros e eu queria mostrar que ela faz justamente o oposto disso.

“Em 1965, David Reimer nasceu junto com seu irmão gêmeo. Quando tinham 8 meses de idade, David e seu irmão tiveram um pequeno problema médico envolvendo seus pênis, ambos desenvolveram fimose (micção dolorosa devido à obstrução da saída do pênis), então o médico recomendou que ambos os meninos fossem circuncidados. Bruce foi primeiro e deu tudo certo. Na vez do David, o cirurgião regular não estava presente e um assistente assumiu a execução da cirurgia. Usando um método inadequado, o assistente realizou o procedimento e a operação deu errado, queimando todo o pênis do menino. Estava tão queimado que não podia nem ser reparado cirurgicamente.

Seus pais não sabiam o que fazer a respeito das perspectivas do filho para a felicidade futura e a função sexual sem ele ter um pênis. Eles souberam então de um médico em Baltimore que ganhou uma certa reputação por ajudar pessoas de gênero ambíguo. Seu nome era Dr. John Money. Depois de se encontrar com o Dr. John, os pais concordaram em ter o filho “reatribuído” e transformado em uma menina por meio de tratamentos cirúrgicos, hormonais e psicológicos. Dr. Money aproveitou esta oportunidade como se fosse um experimento. Assim os pais de David foram instruídos a criá-lo como uma menina. A família foi aconselhada a não divulgar nada a ninguém.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

A masculinidade de hoje é sufocante

Traduzido de Sarah C. Rich

À medida que os meninos crescem, o processo de se tornarem homens os encoraja a abandonarem conexões íntimas e inteligência emocional que adicionam sentido à vida

Em retrospectiva, nosso filho estava se preparando para usar um vestido na escola por algum tempo. Durante meses, ele usou vestidos – ou sua fantasia de sereia roxa e verde – nos fins de semana e depois da escola. Então ele começou a usá-los para dormir em vez de pijamas, trocando-os depois do café da manhã. Finalmente, certa manhã, eu levei para ele a calça e a camisa limpa, e ele olhou para mim e disse: “Já estou vestido”.

Ele estava sentado no sofá com um vestido de verão de algodão cinza coberto de unicórnios com crinas de arco-íris. Ele dormiu usando ele e, em seus sonhos, imagino eu, ficava em um pódio fazendo discursos inspiradores para uma plateia composta apenas por ele mesmo. Quando acordou, ele estava pronto.

Ele caminhou o meio quarteirão até a escola com um passo saltitante e o peito orgulhoso. "Meus amigos vão dizer que vestidos não são para meninos", ele me disse casualmente por cima do ombro. "Verdade, eles podem dizer isso", eu concordei. “E você pode simplesmente dizer a eles que está confortável consigo mesmo e que isso é tudo o que importa.” Pensei em todas as outras coisas que ele poderia falar. Comecei a enumerá-los, mas ele estava correndo pelo asfalto.

Examinei a entrada para ver se algum dos pais nos notou enquanto entravam e saíam. Eu não esperava que meu estômago se revirasse. Senti orgulho dele por sua autoconfiança, pela maneira como ele se preparou para isso em silêncio e em seu próprio ritmo, mas me preocupei com os julgamentos e conclusões que outros pais e professores poderiam tirar. E é claro que eu temia que alguém o envergonhasse.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

30 coisas cotidianas que homens fazem escondidos porque a sociedade acha que é "coisa de gay”

Traduzido de Bored Panda

Todo mundo tem sua própria definição de masculinidade. E essa é a beleza disso. Se você não está prejudicando ninguém, há um milhão de maneiras pelas quais você pode ser um homem e tornar o mundo ao seu redor um lugar melhor.

Mas as perspectivas possuem seus extremos. E sempre aparece alguém tentando projetar a sua própria visão de masculinidade nos outros. Quais devem ou não devem ser suas virtudes.

Algum tempo atrás, um usuário do Reddit enviou uma pergunta à plataforma, questionando: "Quais coisas todo homem deveria pelo menos tentar fazer, mesmo sendo estigmatizado como 'gay' ou 'não-masculino'?"

A partir deste artigo surgiram cerca de 24,6k comentários, o que nos faz refletir que a sociedade ainda está bastante confusa quando se trata de masculinidade e sexualidade. No entanto, também mostra que estamos cada vez mais conscientes disso.

Então segue algumas dessas respostas para você refletir um pouco:

#1. Dizer aos seus amigos que você os ama. No final do ensino médio aconteceram várias mortes no meu grupo de amigos. Acidente de carro, câncer, suicídio e até alguns assassinatos. Agora, no meu grupo de amigos atual, dizemos te amo depois da maioria das conversas. Algumas pessoas acham estranho, mas foda-se. As pessoas não estão por perto para sempre. Melhor deixá-los saber como você se sente enquanto pode.

#2. Meu marido pinta as minhas unhas e me ajuda a arrumar o meu cabelo. Eu tenho uma condição de saúde que torna esses pequenos trabalhos monumentalmente difíceis. Quando começamos a namorar na adolescência, ele fez um curso de maquiagem na escola para me ajudar a me maquiar e a escolher cores que me complementam. Ele era um adolescente metaleiro fazendo um curso de maquiagem, acho que foi a coisa mais viril que vi alguém fazer.

#3. Ser verbal e fisicamente afetuoso com seus filhos (se você se sentir confortável com o contato em geral).

Digo aos meus filhos que eu os amo. Eu abraço meus meninos. Eu beijo meus meninos antes de uma noite de lutas e uivos para a lua. Aragorn beijou Boromir. Vai me dizer que Aragorn era pouco viril? Boa sorte salvando Gondor sem seus meninos, seu covarde.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Por que você faz crossdressing e crossplay?

Traduzido de Gin kim

Recentemente recebi uma pergunta bastante estranha, mas auto-reflexiva, de uma pessoa no Facebook. E eu não conheço essa pessoa pessoalmente. “Tenho uma pergunta simples para você”, disse ele no Messenger. “Por que você faz crossdressing e crossplay?” Essa questão bastante “simples” acaba não sendo tão simples assim.

Por que não?

A parte rebelde de mim estava gritando: "por que não?" Por que um cara não pode usar um vestido ou se vestir como uma garota? Embora não seja a norma para a vestimenta dos homens, o que torna o vestido e a maquiagem tão exclusivos para as mulheres? Então, por que não…?

Estresse?

A vida nunca é simples ou fácil. Quando você é um estudante precisa fazer malabarismos entre os trabalhos acadêmicos e os amigos. Em seguida, quando for mais velho você precisa gerenciar o tempo entre o trabalho e a família. A vida é dura. Algumas pessoas optam por fumar cigarro ou beber álcool para aliviar o estresse. Boa parte das pessoas gosta de viajar para se desestressar. Para mim, fazer crossplay para ir em eventos ou fazer crossdressing me ajuda a relaxar. Há anos venho tentando encontrar a razão pela qual o travestismo ajuda a reduzir minha ansiedade.

Cheguei à conclusão de que poderia ser devido a uma parte de mim querendo se conectar de volta a mim mesmo. Parte de mim quer se sentir fofa, algo bem parecido com o que a maioria das garotas também sente. Então, ao oprimir esse desejo ou necessidade, eu poderia estar me tornando infeliz. Finalmente entendo que é apenas um equilíbrio que tenho que manter. Eu não pretendo chegar ao ponto de me montar em tempo integral, também não pretendo abandonar isso de uma hora para outra.

quarta-feira, 30 de março de 2022

A psicologia do crossdressing

Traduzido de The School of Life 

O que é crossdressing e por que fazemos isso?

O crossdressing, e aqui nos referimos particularmente a homens que se vestem de mulher, tende a ter uma má reputação. A ideia de um homem que se entusiasma em vestir uma meia calça tem sido tradicionalmente vista como risível, lamentável – e simplesmente sinistra. Em geral, supõe-se que um casamento facilmente chegaria ao fim no dia em que a esposa encontrasse o marido de calcinha; e que um gerente perderia toda a autoridade se seus colegas soubessem de seu fascínio por maquiagens como rímel e batom. A partir dessa perspectiva, o crossdressing parece uma admissão de fracasso. Em vez de viver de acordo com um ideal de força, robustez e pura "normalidade", um homem que gosta de usar um vestido é considerado um desviante de um tipo particularmente alarmante.

Porém, na verdade, o travestismo se baseia em um desejo altamente lógico e universal: o desejo de ser, por um tempo, o gênero que se admira, se excita e, talvez, se ame. Vestir-se como uma mulher é apenas uma maneira dramática, mas essencialmente razoável, de se aproximar das experiências do sexo sobre o qual se está profundamente curioso – e ainda assim foi (um pouco arbitrariamente) impedido. Conhecemos bem o crossdressing em outras áreas da vida e nem nos damos conta disso. Um menino de cinco anos que vive em um subúrbio de Copenhague e que desenvolve um interesse pelo estilo de vida dos vaqueiros das planícies do Arizona seria encorajado a vestir um chapéu, jeans e colete e apontar sua pistola para um chefe índio imaginário – para aplacar seu desejo de se aproximar um pouco mais do assunto de seu fascínio.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Roupas não fazem de você uma pessoa transgênero

Traduzido de Emma Holiday

Albrecht Dürer - Adão e Eva (Rijksmuseum RP-P-OB-1155)

Me inspirei no artigo da Anna, O que você quer dizer com "sentir-se como uma mulher?", sobre identidade de gênero e a escolha das roupas que fazemos.

A citação que mais me impressionou foi uma resposta que alguém comentou no artigo anterior dela sobre as mulheres não usarem maisvestidos hoje em dia, aparentemente a autora ficou bem zangado:

“As mulheres foram forçadas a usar vestidos durante grande parte da história registrada... Feminilidade não é sobre usar vestido.”

Eu concordo absolutamente que a moralidade patriarcal muitas vezes dita o que as mulheres podem ou não usar. E a religião tem muita relação com isso.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O que você quer dizer com "sentir-se como uma mulher?"

Complementando o texto da semana passada, "Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?", a autora Anna escreveu uma continuação após ler um comentário interessante no post dela. A questão agora é "como é se sentir como uma mulher?". Eu já tentei escrever sobre "O que é ser mulher", mas sei bem que a temática é um tanto complexa. Tanto que eu mesmo não consigo me ver como uma mulher e, para mim, está tudo bem assim.


Traduzido de Anna

Por conta dos sistemas de controle social, às vezes sinto que fui roubada da vida que eu deveria viver.

Sendo um homem de 49 anos que sofre de disforia de gênero, sinto os efeitos dos sistemas de controle social mais do que qualquer típico homem cisgênero de 49 anos.

Ninguém quer acreditar que alguém está te manipulando diariamente. Todos nós queremos acreditar que chegamos onde estamos com muito trabalho e determinação. Mas, na maioria dos casos, o jogo é manipulado para que as pessoas “normais” obtenham sucesso.

Se você sofre de uma condição médica politizada, terá muitas portas fechadas na sua cara. Por meio de leis, vigilância médica, desinformação de conservadores, lavagem cerebral religiosa, menos oportunidades de emprego, estereótipos de gênero, feministas radicais, agressões a celebridades e algumas outras coisas que provavelmente estou esquecendo ou bloqueei da minha memória.

Eu realmente sinto que a disforia de gênero que experimentei desde os 4 anos de idade teria me colocado no caminho para me tornar uma mulher trans se não houvesse nenhum sistema de controle para redirecionar minha vida.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?

Essa é uma dúvida que eu tenho certeza que paira na mente de diversos crossdressers: se as mulheres tem liberdade plena de usar vestido, salto alto, maquiagem e tudo mais, por que a maioria delas prefere adotar roupas confortáveis, casuais e sem graça?

Claro que o nosso estilo de vida corrido e agitado responde bem essa questão, mas mesmo assim ainda existem diversas mulheres que não fazem nenhuma questão de usar essas coisas consideradas femininas em nenhuma situação e se sentem bem assim. No texto a seguir a Anna Brianna, uma mulher trans que vive no armário, tenta buscar uma resposta mais concreta a respeito dessa questão.

Traduzido de Anna

Vestidos não são apenas para ocasiões especiais.
Por que não usá-los com mais frequência?

Ontem, quando eu estava trabalhando em casa, minha esposa me disse que precisava participar de uma reunião remota para o seu trabalho e que duraria cerca de uma hora. Naquele momento eu pensei que seria bom ficar um pouco montada enquanto ela estava ocupada. É mais fácil para mim dessa maneira. Eu me um produzo por uma hora e ela não precisa se sentir desconfortável. Ela afirma que não se importa, mas acho que eu ainda estou me sentindo tímida.

Resolvi usar um dos meus vestidos favoritos. Era um vestido floral preto e creme acinturado com manga 3/4 e de comprimento até logo abaixo dos joelhos. Tem um pouco de decote também. Belíssimo, muito feminino. Eu usei minha peruca castanha com corte em camadas e encerrei o visual com meus sapatos de couro preto e salto de 10cm de altura.

Eu me senti tão bonita. Foi tão gostoso. Foi quando me questionei: “quando foi a última vez que vi uma mulher usando um vestido?” Faz algum tempo. Então me lembrei. A última pessoa que vi usando um vestido era um garoto perto da faculdade das minhas enteadas, quando estávamos levando elas para começar o último ano delas. Isso mesmo, era um rapaz.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Eu era uma pessoa preconceituosa e irritada com a causa transgênero

Sempre achei complicado apontar questões sobre transfobia de maneira geral pois sei que esse meu estilo de vida não é algo tão simples assim de se lidar, mesmo nos dias atuais. Tanto que, por exemplo, na primeira vez que eu participei de um encontro com outras crossdressers eu mesmo tive dificuldades de tratar as meninas no feminino. Na minha cabeça eu pensava "cuidado com os pronomes", mas a medida que a conversa fluía as palavras no masculino iam saindo involuntariamente.

O texto a seguir trás uma questão que ainda vai além. O autor confessa que no passado ele se dava ao trabalho de discutir com pessoas transgênero na internet pois considerava esse tipo de comportamento um absurdo. Até que chegou ao ponto em que ele questionou a origem dessa raiva dentro dele e notou ele mesmo tinha tendências transgênero e não sabia como lidar ou como se aceitar.

Traduzido de Terapeuta Trans

Na minha vida passada, eu era uma lésbica cisgênero. Foi um rótulo de identidade duramente batalhado por mim. Passei a maior parte da minha vida namorando caras e fui bastante feminina por um certo tempo antes de desejar demonstrar minha estranheza de forma mais aparente. Outras mulheres queer me dispensavam e questionavam se eu me sentia atraída por mulheres. Durante esse tempo, li blogs e artigos que focavam em mulheres queer, e inevitavelmente me deparei com o conceito de mulheres trans e pessoas transfemininas.

E eu fiquei furiosa.

Era difícil para mim imaginar ter algum conhecimento interno da identidade de gênero de alguém que não fosse baseado em características sexuais. Algumas mulheres trans descreviam suas experiências como se compartilhassem uma energia indescritível ou um companheirismo com outras mulheres que as apontassem sobre a sua própria identidade.

"Do que essas pessoas estão falando?" Eu pensava com frustração. "Não sinto algum tipo de energia compartilhada com outras mulheres. Na verdade, eu sempre me senti como se fosse de outra espécie. A única coisa que me diz que sou uma mulher são os meus órgãos genitais! Se eu acordasse amanhã com outro conjunto de genitais, eu seria tranquilamente um homem."

Entra então o meu futuro eu transmasculino: "Cara". Como você equipara não entender a ideia de “sentir-se” como uma mulher como uma razão para invalidar a existência de todas as mulheres trans e pessoas transfemininas? Isso não diz muito mais sobre você do que sobre qualquer outra pessoa?

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Como atingir o lendário orgasmo anal por estímulo da próstata

Primeiro eu gostaria de dizer que faz tempo que eu queria escrever esse artigo, até encontrei aqui nos meus arquivos umas pesquisas salvas sobre esse tema de uns anos atrás. Nesse meio tempo eu cheguei a escrever sobre o sexo anal e a inversão de papéis, que tem relação direta com o tema desse artigo e vale a pena você ler antes de continuar, mas eu fiz questão de passar pessoalmente pela experiência para então poder descrever aqui para vocês.

Antes de continuar, acho importante destacar algumas questões:

  • As dicas que vou passar aqui vão ajudar você a conhecer o seu próprio corpo e a explorar possibilidades de prazer que normalmente são ignoradas por questões supostamente morais;
  • Estimular a região anal ou a próstata por si só não tem absolutamente nenhuma relação com orientação sexual, principalmente se você estiver buscando isso por conta própria;
  • Cada pessoa terá uma experiência única. Pode ser que você se encante na primeira tentativa, pode ser que você prefira o estímulo anal apenas como complemento do estímulo peniano, pode ser que demore anos para você acertar o seu ponto (como aconteceu comigo), assim como pode ser que você nunca atinja o orgasmo anal mesmo depois de tentar inúmeras vezes;
  • Vou focar um pouco mais no orgasmo anal pela estimulação da próstata pois sou um homem biológico e é isso que eu tenho para explorar, mas, pelo que eu pesquisei, as técnicas são bem similares para a anatomia feminina.

Bom, então vamos começar pela questão biológica do negócio.

Quando um dedo ou um brinquedo erótico é inserido no ânus de uma pessoa, algumas diferentes partes do corpo acabam sendo estimuladas. A começar pelo próprio ânus.

Nosso furico é, na verdade, o orifício no final do intestino grosso regulado pelo esfincter, que tem como suporte a musculatura do períneo e que recebe inervação pelo nervo pudendo, que é o responsável pela transmissão da sensação de órgãos genitais externos de ambos os sexos. Isso faz com que o local tenha uma sensibilidade que, para algumas pessoas, forneça sensações incríveis quando estimuladas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Existe um terceiro sexo? (texto de 1906)

Se você acha que a "ideologia de gênero" é um projeto moderno da esquerda feito especialmente para destruir a família e a heterossexualidade, sinto dizer mas você está enganado. O texto a seguir veio do livro "Mannweiber und Weibmänner" (Homens mulheres e Mulheres homens – Tradução livre) de 1906 escrito por Anne von den Eken e também foi publicado na revista alemã O Terceiro Sexo em 1930.

O artigo trata justamente das pessoas que não se encaixam perfeitamente no binarismo de gênero e questiona a ideia de que exista um terceiro sexo. Na visão da autora, o masculino e o feminino são duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as pessoas e ela usa da biologia para embasar a origem disso. Sinceramente, eu não esperava que um texto escrito a mais de 100 anos atrás pudesse estar tão alinhado com o que eu penso.

Traduzido de The Weimar Project

Sempre classificamos as pessoas em apenas dois sexos. Mas, por vários anos, o termo “terceiro sexo” tem aparecido com frequência (1). Milhares de pessoas usaram a frase, brincando de improviso ou zombando, sem ter noção de quanta tristeza e sofrimento, quanta luta e desespero se esconde por trás desse termo. Poucos sabem que o “terceiro sexo” não é apenas uma calúnia para excêntricos masculinos e femininos, mas que realmente existe há milhares de anos, sim, presumivelmente já existia na Terra antes dos outros dois sexos. Há estudiosos que querem provar que as primeiras pessoas eram dualistas (2), ou seja, homem e mulher unidos em uma única pessoa.

De acordo com a velha história bíblica da criação, Adão foi criado primeiro, e de seu corpo nasceu Eva. Daí em diante eles viraram “marido e mulher” e estavam literalmente unidos em um só corpo. É bem provável que os antigos cronistas bíblicos quisessem sugerir que pessoas pré-históricas com sexo duplo eventualmente se desenvolveram em pessoas separadas. Não há dúvida de que existiam pessoas na Terra muito antes de Adão e Eva. Como a bíblia fala apenas de uma parte da população da Terra, infelizmente perdemos a história do resto do povo e, portanto, só podemos provar a existência de outros tipos de seres a partir dos vestígios que ainda estão evidentes em nossos corpos de hoje. O fato é que atualmente tanto homens quanto mulheres, depois de tantos milhares de anos, carregam sinais claramente reconhecíveis do outro sexo. O mais marcante deles são os mamilos do homem, que têm o único propósito de amamentar crianças. Mas o corpo feminino também mostra um resquício do masculino em seus órgãos genitais, a saber, o clitóris, que nada mais é do que um pênis subdesenvolvido.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Onde foram parar os "homens de verdade"?

Está aí uma expressão que eu considero de extremo mal gosto: "homem de verdade". Cansei de ver moças buscando esse tal homem de verdade e acabar com um cara que não levanta um dedo para faxinar a casa, ou com um cara que não dá a mínima para fidelidade, ou até com um covarde que abusa da violência física contra ela. Fora as que acabam com um filho para criar sozinhas. Enfim, isso é consequência dessa nossa cultura machista, tanto que ainda tem quem defenda cada um desses comportamentos.

Confesso que comecei a ler esse artigo da Carlyn Beccia com isso em mente, mas logo percebi que a abordagem dela foi muito mais sofisticada do que eu esperava. Ela deixa claro que masculinidade é um conceito social que muda com o tempo, mas que os caminhos que toma nem sempre são positivos. Espero que esse texto te ajude a refletir um pouco assim como fez comigo. 

Traduzido de Heart Affairs

Eu sou uma mulher que procura um homem forte. Mas tem dias em que eu não sei mais exatamente o que isso significa. Eu não sou a única que está confusa. Nunca estivemos em um momento na história em que a masculinidade estivesse tão obscura.

Homens de verdade já foram os chefes de família responsáveis pelo ganha-pão. Mas antes da Revolução Industrial, o conceito de "ganha-pão" nem existia. Produtos como pão e outros itens essenciais surgiram de uma divisão de trabalho compartilhada entre homens e mulheres que trabalhavam na agricultura. Então, as fábricas transferiram o trabalho agrícola para o trabalho da cidade e as mulheres foram relegadas para a cozinha. Não trabalhávamos mais lado a lado e, quando o fazíamos, não recebíamos o mesmo salário.

Na era vitoriana da masculinidade, os homens de verdade eram cavalheiros. Ele galantemente caminhou ao lado esquerdo de sua senhorita para protegê-la das carruagens que passavam e seguiu os estritos rituais de namoro da época. E se seus princípios fossem questionados, ele se dirigia ao campo de duelo. Homens de verdade eram homens honrados.

Essa honra se espalhou pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda Guerra Mundial. Nossos meninos se tornaram soldados e as mulheres tiveram que preencher os espaços que os homens deixaram para trás. Assim, as portas da fábrica se abriram para as mulheres, e Rosie, a Rebitadeira, flexionou os bíceps para provar que as mulheres podiam lidar com o trabalho pesado dos homens.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Bimbo: vulgar por vontade própria

A palavra Bimbo costuma ser empregada de maneira pejorativa na língua inglesa para insultar mulheres consideradas atraentes, sexualizadas, ingênuas e pouco inteligentes, algo parecido com o "loira burra" que já foi muito popular aqui no Brasil. No entanto, o termo Bimbo está passando por uma transformação e, atualmente, pode até ser considerado um estilo de vida.

Para dar um panorama do termo no passado, você pode olhar o artigo "O ano das Bimbos" do New York Post de 2007 onde o tabloide catalogou, de maneira cruel, as mulheres mais notórias daquele ano consideradas por eles como bimbos, incluindo a Amy Winehouse (uma “bimbo-alternativa” que “eles não conseguiram fazer ir para a reabilitação”), Jamie-Lynn Spears (uma “bimbo-em-treinamento” porque ficou grávida aos 18 anos e posteriormente monetizou suas fotos de gravidez), Britney Spears (que se separou naquele ano e raspou a cabeça), Paris Hilton, Mischa Barton e a própria bimbo-protótipo, Anna Nicole Smith.

Durante muito tempo foi assim que o mundo entendeu o que significava a palavra bimbo. O termo era usado para privar as jovens de sua humanidade e de seu livre arbítrio, algo como uma censura moral, e hoje tem até o termo slut-shaming que descreve bem esse tipo de situação. Era inferido a promiscuidade sexual como um sinal de depravação e falta de inteligência. Também era um conceito usado para diminuir o trabalho cultural de algumas das jovens mais poderosas da época.

O termo evocava inconscientemente imagens de grandes seios de silicone, longos cabelos loiros clareados, roupas justas e maquiagem pesada, enquanto comunicava que todas essas coisas eram de alguma forma inerentemente imorais. Inclusive as conotações negativas do termo são oficiais: a definição de Bimbo no dicionário inglês é "um termo depreciativo para uma mulher atraente, mas frívola".

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Por que azul para meninos e rosa para meninas?

Cada geração traz uma nova definição de masculinidade e feminilidade e isso acaba se manifestando nas roupas infantis. Esse negócio de azul para meninos e rosa para meninas é algo relativamente recente pois o costume surgiu apenas no meio do século passado, fora que no caminho ainda teve um empurrãozinho da indústria da moda para incentivar os pais a gastar mais dinheiro com as roupas dos filhos. 

Adaptado de Smithsonian Magazine

O pequeno Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos, se apresenta na foto sentado recatadamente em um banquinho, com uma saia branca espalhada suavemente sobre o seu colo e com as mãos segurando um chapéu enfeitado com uma pena de marabu. Cabelo na altura dos ombros e sapatos de festa de couro envernizado completam o conjunto.

As pessoas costumam achar essa aparência meio inquietante hoje para um menino, porém a convenção social de 1884, quando Roosevelt foi fotografado aos 2 anos e meio, ditava que os meninos e as meninas deveriam usar vestidos até os 6 ou 7 anos de idade. Também era nessa idade que costumava ocorrer o primeiro corte de cabelo da criança. A roupa do Franklin era considerada neutra em termos de gênero.

Assim como os outros meninos da sua época, Franklin Roosevelt aparece trajando um vestido na foto.
Este retrato de estúdio provavelmente foi tirado em Nova York em 1884.

Hoje em dia as pessoas tem a necessidade de saber o sexo de um bebê ou de uma criança pequena logo à primeira vista, diz Jo B. Paoletti, historiadora da Universidade de Maryland e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys From the Girls in America (Rosa e azul: separando os meninos das meninas na América, 2012, sem versão em português). Assim, vemos, por exemplo, uma faixa rosa envolvendo a cabeça calva de uma menina.

Por que o estilo de roupa das crianças mudou tão drasticamente?
Como terminamos com duas “equipes”, meninos de azul e meninas de rosa?

“É, na verdade, a história do que aconteceu com as roupas neutras”, diz Paoletti, que explorou o significado das roupas infantis por 30 anos. Por séculos, diz ela, as crianças usaram vestidos brancos delicados até os 6 anos de idade. “O que antes era uma questão de praticidade – você veste seu bebê com vestidos e fraldas brancos; algodão branco pode ser branqueado – tornou-se uma questão de ‘Meu Deus, se eu vestir meu bebê da maneira errada ele vai se tornar um pervertido’ ”, diz Paoletti.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Quando eu percebi que era transgênero (ou não-binário)

Seria ótimo se nós tivéssemos um tipo de clareza súbita na nossa mente nos trazendo a compreensão do próprio ser, mas a realidade passa longe disso. Na verdade se trata de um processo intimo de autoconhecimento que cada um vivencia de um modo diferente e que acaba tendo relação direta com a maneira como as pessoas à sua volta tratam as questões de gênero ao longo da sua vida.

No meu caso, desde criança eu sentia um desgosto cada vez que ouvia que a minha imagem exterior tinha que refletir o poder do meu aparelho reprodutor. "Um homem tem que ter cara de homem, ué". Ou então quando as minhas ações ou desejos não poderiam ser realizados por se tratar de algo considerado feminino. "Como assim você quer aprender balé? Você vai é jogar futebol, se quiser aprender uma dança então aprenda dança de salão que isso vai te ajudar a pegar mulheres". Ah sim, também quando tudo se resumia a fazer algo ou não simplesmente para poder "pegar mulher".

Essas pequenas questões ao longo da vida nos faz questionar se realmente queremos ser isso que estão nos empurrando para ser com base no nosso aparelho genital. Pra piorar, a sociedade ainda martela na nossa cabeça que cada impulso e cada prazer da nossa existência é errado e vai contra a natureza. Essa experiência pode acabar fazendo você odiar viver na sua própria pele, pois sempre vai haver uma fricção dolorosa entre quem você é e quem você finge ser.

O texto a seguir, do Jay M, apresenta com detalhes alguns desses momentos que ele vivenciou e que o fez questionar sobre quem ele realmente é.

Traduzido de Jay M

Muitas vezes me perguntam: "Quando você percebeu que era transgênero?" ou alguma variação dessa pergunta. Enquanto algumas pessoas trans talvez possam se lembrar do momento exato em que isso aconteceu com elas, o mesmo não aconteceu comigo. Eu tive uma série de momentos do tipo "ah-ha" ao longo da minha vida que eu chamo de minhas memórias perdidas de menino. Essas memórias são breves momentos que me fizeram perceber que eu era diferente, mas de uma forma que eu ainda não conseguia colocar em palavras. Olhando para trás agora, fica claro que esses foram os momentos em que o garotinho perdido aqui dentro estava tentando encontrar o caminho de fora. A seguir, compartilho três dessas memórias que compõem os diversos capítulos da minha jornada para me tornar um homem trans e viver como meu eu mais autêntico.


Memória perdida de menino #1
Eu tinha cinco anos de idade e caminhava com meu pai ao longo da costa da Califórnia quando parei, olhei para ele e exclamei: "Eu quero ser um menino." Meu pai respondeu sem hesitação: “Ok. Por que você quer ser um menino?” Expliquei: “Quero jogar basquete com os outros meninos e me casar com uma esposa quando eu crescer”. Mais uma vez, sem hesitar, meu pai respondeu com calma e naturalidade: “Você pode jogar basquete, ter uma esposa E ser uma menina”. E com isso continuamos caminhando. Naquele momento, essa resposta conseguiu resolver meu conflito interno. Este foi um dos vários momentos ao longo dos últimos 25 anos em que meu menino perdido tentou encontrar o caminho para fora do meu corpo feminino.