quarta-feira, 25 de maio de 2022

O menino que foi criado como menina

Traduzido de Celeste Anise

Mentiram sobre o gênero dele

Eu me deparei com esta história há alguns dias e me senti compelida a escrever sobre isso. Especialmente à luz do que o estado do Texas (E.U.A.) está tentando fazer contra pessoas transgêneros. Também queria escrever sobre isso porque notei muitos comentários sobre essa história dizendo que ela validava ideais anti-transgêneros e eu queria mostrar que ela faz justamente o oposto disso.

“Em 1965, David Reimer nasceu junto com seu irmão gêmeo. Quando tinham 8 meses de idade, David e seu irmão tiveram um pequeno problema médico envolvendo seus pênis, ambos desenvolveram fimose (micção dolorosa devido à obstrução da saída do pênis), então o médico recomendou que ambos os meninos fossem circuncidados. Bruce foi primeiro e deu tudo certo. Na vez do David, o cirurgião regular não estava presente e um assistente assumiu a execução da cirurgia. Usando um método inadequado, o assistente realizou o procedimento e a operação deu errado, queimando todo o pênis do menino. Estava tão queimado que não podia nem ser reparado cirurgicamente.

Seus pais não sabiam o que fazer a respeito das perspectivas do filho para a felicidade futura e a função sexual sem ele ter um pênis. Eles souberam então de um médico em Baltimore que ganhou uma certa reputação por ajudar pessoas de gênero ambíguo. Seu nome era Dr. John Money. Depois de se encontrar com o Dr. John, os pais concordaram em ter o filho “reatribuído” e transformado em uma menina por meio de tratamentos cirúrgicos, hormonais e psicológicos. Dr. Money aproveitou esta oportunidade como se fosse um experimento. Assim os pais de David foram instruídos a criá-lo como uma menina. A família foi aconselhada a não divulgar nada a ninguém.

A mãe de David (agora Brenda) fez o possível para criá-lo como uma menina. Ela o vestiu com saias e vestidos e mostrou a ela como se maquiar. Mas a transformação não foi nada suave. Brenda não gostava de brincar com as outras garotas. Ela frequentemente entrava em brigas no pátio da escola. As outras crianças a chamavam de “homem das cavernas”, “aberração” e “coisa”. Quando Brenda completou nove anos, a família Reimer estava tendo sérias dúvidas sobre o experimento, mas não o Dr. John Money. Ele publicou um artigo nos Archives of Sexual Behavior (Arquivos de Comportamento Sexual) declarando o experimento como se fosse um sucesso retumbante. Assim ele se tornou amplamente conhecido nos círculos médicos com o caso Joan/John (nome fictício usado no artigo).

No entanto, quando Brenda estava chegando à puberdade, ficou cada vez mais claro que o experimento não estava funcionando. Ao mesmo tempo, a família Reimers estava sob pressão do Dr. Money para dar o passo final: permitir que os cirurgiões criassem uma vagina cirurgicamente na Brenda. Mas ela se rebelou. Ela protestou dizendo que não precisava de cirurgia e ameaçou cometer suicídio se fosse forçada a fazer outra viagem a Baltimore para ver o Dr. Money.

Os pais de Brenda nunca contaram a ela sobre o que aconteceu quando ela era um bebê, e Brenda continuou confusa crescendo com seu desejo de agir e brincar como um menino. Ela finalmente foi informada do que realmente aconteceu com ela quando completou quatorze anos, mas sua mãe suicida, seu pai alcoólatra e seu irmão deprimido levaram Brenda a permanecer em constante estado de sofrimento e confusão. Mesmo depois que Brenda mudou seu nome de volta para David, parou de tomar suplementos hormonais e buscou outra cirurgia para reconstruir seu pênis, a dor da própria vida nunca parou de assombrar David. Aos 38 anos, David Reimer cometeu suicídio.

Este experimento doentio mostrou que, se uma criança sente que é de um determinado gênero, apesar do que os outros dizem, não é tudo inventado. Isso mostra claramente que a influência externa não pode forçá-lo a sentir que é um determinado gênero ou não. Não importa o gênero que uma pessoa sente, nós, como sociedade, não devemos julgá-la ou tentar impor nossos sentimentos e paradigmas a ela. No final das contas, somos todos muito complexos e nem todos se encaixam no mesmo molde que queremos. Devemos celebrar nossas qualidades e diferenças únicas e usá-las para conectar e não dividir ou odiar. Essa forma limitada de existir não tem lugar em nossa sociedade.

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