quarta-feira, 28 de maio de 2025

O Terceiro Gênero na Angola Pré-Colonial

Adaptado de Medium e Queer in History

Dando sequência a essa série de posts que mostram que experiências transgênero existe há muito tempo na história da humanidade – como no caso das Hijras na India, Taikomochis no Japão e Duas almas nos povos nativo americanos – trago agora um pouco da história transgênero que aconteceu no reino de Ndongo e Matamba (atual Angola).


Nzinga, Governante do Reino de Ndongo e Matamba

Era uma vez, no Reino de Ndongo e Matamba (hoje localizado em Angola), uma monarca reinante chamada Mwene Nzinga Mbandi (1583-1663). Uma bela guerreira que meio que mudou de gênero, atribuindo-se a si mesma a responsabilidade de fazer coisas "masculinas", usar trajes masculinos e até mesmo assumir algumas esposas.

Seu pai governava a região e tinha o título de "Ngola" (daí a origem do nome atual do país: Angola), e foi sucedido nessa posição pelo seu irmão, Ngola Mbande. Quando criança, ela foi favorecida por seu pai, que lhe deu a oportunidade de observá-lo de perto enquanto ele governava e até mesmo o acompanhou para guerras. Mais tarde, ela foi enviada por seu irmão como emissária ao governador português em uma conferência de paz, em Luanda em 1622, com o objetivo de que os portugueses retirassem uma fortaleza que haviam construído em terras Mbundu, e que devolvessem alguns dos súditos de seu irmão que haviam sido capturados e pusessem fim aos saques de bandos de portugueses.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Eu saí do armário como trans para a minha esposa e foi assim que isso terminou

Traduzido de Kira Ry

Minha experiência de esperança, euforia, abundância e de uma nova vida

Muitas pessoas trans chegam ao ponto em que seus relacionamentos não funcionam mais, mas acabam sufocadas pelo medo da perda.


Como tudo começou

Conheci minha ex-esposa há 11 anos. Me apaixonei por ela assim que a vi. Naquela época, eu trabalhava como fotógrafo e estava fazendo um álbum de fotos de formatura para a universidade onde ela estudava. Naquele dia, havia 20 ou 30 pessoas do grupo dela, mas eu a notei imediatamente na multidão.

Paqueramos algumas vezes, mas naquela época eu ainda estava em um relacionamento que estava se desintegrando e precisava resolvê-lo e terminá-lo antes de começar um novo. Então, tivemos que dar uma pausa por alguns meses antes de podermos aproveitar o tempo juntos.

Quando aquele antigo relacionamento terminou, liguei para ela e perguntei se ela queria me encontrar. Logo, ela se mudou para o meu apartamento e começamos a construir nossa família.

Tínhamos a imagem de uma família tradicional conservadora que buscávamos, comigo trabalhando e ela cuidando da casa. Fui criado pela minha mãe, e o principal objetivo dela era me tornar um "homem". Minha ex foi criada em uma família tradicional, com apenas um homem trabalhando e uma mulher ficando em casa.

Para nós, tudo bem, já que não tínhamos visto nenhum outro modelo de relacionamento antes, e reconhecíamos cada alternativa como um erro e algo pecaminoso. Ninguém nos disse que existe muito mais do que uma maneira de viver em família.

Nos casamos e nosso primeiro filho nasceu.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

A mesma pessoa sem hormônios vs. com testosterona vs. com estrogênio

Traduzido de Stephenie Magister 

Nunca é tarde para começar a terapia hormonal correta

Recém-saída do meu óvulo, enfrentei um medo comum.

Não é apenas um medo que as pessoas com experiências trans enfrentam.

Eu comecei tarde demais?

Em outras palavras... é tarde demais para finalmente ser você mesma?

Em um sentido amplo, todos nós fazemos uma transição. Nós descobrimos qual é o nosso gênero e como expressá-lo. Na prática, os homens buscam todos os tipos de terapias de afirmação de gênero. E as mulheres também.

Inclusive pessoas esquisitas como eu.

Gostaria de levá-los em uma breve jornada sobre o quão estranhos foram meus anos estranhos. Alguns desses anos passei com cara de bebê, mas fui levado pela androginia. Alguns desses anos foram abastecidos com testosterona e chegaram ao topo dos pódios dourados (mas falsos) do levantamento de peso. Os melhores desses anos foram tocados pelo estrogênio e pelos carinhos de cachorrinho.


Sem hormônios (de 0 a 22 anos)

quarta-feira, 16 de abril de 2025

E agora, o que acontece com o humilde crossdresser?

Traduzido de Riki Wilchins

Os direitos das pessoas trans e os estudos sobre as pessoas trans ultimamente estão se expandindo para envolver as necessidades e vidas daqueles de nós que são transexuais, transgêneros, gênero fluido, não binários, agênero, gênero queer e assim por diante. Todos agora estão amontoados sob o amplo guarda-chuva trans, exceto por... homens femininos (crossdressers, cdzinhas, sissy). E isso tem sido verdade por décadas.

Isso é estranho por algumas razões. Para começar, os direitos trans modernos não teriam existido ou teriam sido adiados por pelo menos 10 anos se não fosse pelos crossdressers.

Foi em conferências inevitavelmente realizadas em hotéis na rodovia interestadual a cada dois (como o Southern Comfort, o Be All e o IFGE) meses que centenas de crossdressers, geralmente acompanhados com suas esposas, se reuniam regularmente no circuito para se montar com segurança que os primeiros ativistas dos direitos trans como Phyllis Frye, Jane Fee, Holly Boswell, Nancy Nangeroni, Jamison Green (geralmente o único homem trans visível naqueles primeiros dias), Tony Baretto-Neto e eu começamos a nos encontrar.

As conferências eram eventos claramente apolíticos, apresentando workshops com temas como "Aceitando a si mesmo", "Como contar ao seu cônjuge" e "Melhores dicas de maquiagem".

No entanto, reunir qualquer grupo oprimido é um ato político, porque eles começam a comparar notas. E quando o fazem, percebem que todas aquelas coisas que pensavam ser sintomas de suas próprias deficiências pessoais ("Ah, se eu fosse mais passável...") eram na verdade sintomas de um grupo sendo sistemicamente oprimido ("não sou só eu: todos nós estamos sendo assediados e demitidos..."). E disso surgiu muito do que se transformou no moderno movimento nacional pelos direitos trans.

Essa autoconsciência também alimentou os estudos trans, à medida que os acadêmicos começaram a se afastar do antigo modelo de transtorno médico-psiquiátrico – pessoas trans como objetos para outros estudarem – e adotaram uma visão despatologizada do transgênero como aqueles que estudam, com sua própria experiência vivida – e a transfobia dos outros – como o sujeito.

Deixando para trás toda essa fermentação sobrou o humilde crossdresser.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Por que sou grato por ter sido viciado em pornografia de feminização

Traduzido de um relato no Reddit

Por que você não consegue simplesmente parar com esse hábito e como é possível aprender a conviver com ele (desmascarando o mito da dependência de dopamina)

Esta é a síntese do que eu aprendi ao longo de 12 anos de experiência própria. Espero que isso seja útil para alguém, mesmo que ajude apenas uma pessoa.

Saiba que não vou dar uma solução pronta como as pessoas que simplesmente te aconselham a parar de assistir pornografia. Até por que soluções prontas raramente funcionam. E sei que provavelmente serei criticado porque estou indo contra o que é comumente recomendado na internet e contra o que você deseja ouvir, mas o senso comum raramente está correto.


Entrando numa espiral

Praticar fetiches de feminização não é intrinsecamente ruim. Existem muitos motivos pelos quais eu penso assim. Acho que a maioria das coisas que aprendemos sobre identidade de gênero é besteira e você pode ser o que quiser, pode ter relações sexuais como e com quem quiser. Acredito que os comportamentos masculinos e femininos devem ser tão livres quanto o ar que respiramos. E acredito que a codificação social estrita dos comportamentos sexuais de gênero cria diversos tipos de problemas para as pessoas.

Pessoalmente acho que todo mundo gosta de algum sentimento relacionado à humilhação em alguma intensidade (seja para humilhar ou para ser humilhado), e se não gosta, pode ser que esteja se reprimindo. Acho que os papéis sexuais, como ser dominante ou ser submisso, são apenas um mecanismo da nossa sociedade e todo mundo gosta, em algum nível, de desempenhar ambos. No final das contas, ambos são irrelevantes de alguma maneira. Porque toda polaridade é apenas um mecanismo. (Sugiro que você leia esse artigo sobre BDSM)

quarta-feira, 19 de março de 2025

Por que as meninas podem ser masculinas, mas os meninos não podem ser femininos

Traduzido de Elissa Strauss (CNN)

No aniversário de 5 anos do meu filho ele pediu um moletom da marca My Little Pony. Ele não sabia que essa linha é categorizada como roupa exclusiva de menina, só que, assim como sua amada personagem Rainbow Dash, a roupa é policromática, brilhante, alada e perfeita.

Ele passou seus primeiros anos em Oakland, Califórnia, em grande parte cercado por adultos que evitavam o uso dos substantivos “meninos” e “meninas”, a menos que fosse necessário. Seu mundo é feliz e ignorantemente neutro em termos de gênero.

No outono, ele irá para a escola primária, e eu estava pensando que talvez fosse hora de explicar a ele que, por mais natural que seja o amor dele por esse moletom, há muitas pessoas que acham antinatural um menino com um moletom de menina e não hesitarão em "alertá-lo".

A parte mais difícil desta conversa será o que, inevitavelmente, se seguirá. Ele, um monitor escrupuloso da justiça em questões tanto grandes quanto pequenas, perguntará se também há coisas que as pessoas acham que as meninas não deveriam usar. Eu, com remorso, terei que dizer “não” a ele.


Progresso de gênero: uma via de sentido único

Embora o feminismo tenha feito grandes progressos no sentido de despojar a infância das normas de gênero, os esforços têm sido terrivelmente desequilibrados.

Hoje, não há uma única coisa tradicionalmente masculina que uma garota possa fazer que deva causar espanto nos outros. Participar de um time esportivo? Mais da metade delas faz isso. Brincar com armas de brinquedo? A Nerf tem uma linha de armas só para elas. Cortar o cabelo curto? Celebridades como Katy Perry, Janelle Monae e Scarlett Johansson já tiveram cabelo curto. Por acaso a menina tem interesse em áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática)? Ok, está na moda. Fingir que são super-heroínas? Mulher-Maravilha (2017) é um dos filmes de super-heróis de maior bilheteria de todos os tempos.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Ensaio o Retorno - Vi Oliver

Oie! Faz tempo que eu não trazia meus ensaios por aqui, mas dessa vez estou bem contente com o meu corpo e resolvi dar as caras.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

5 coisas que toda mulher trans precisa

 

Traduzido de Stevie Tyas 

"Eu sou o que sou". Foi o marinheiro Popeye ou foi o filósofo Descartes quem disse essa famosa frase? Essas palavras têm ecoado na minha mente nos últimos meses. Mesmo antes de começar a transição, eu nunca fui o tipo de pessoa que acreditava que eu pudesse me tornar uma mulher de verdade. Eu seria uma mulher trans, e isso seria bom o suficiente para mim. Apesar de pensar que tinha tudo planejado, descobri que ainda tinha muito mais a aprender.

Estou agora no meu 5º ano de terapia de reposição hormonal e sinto que minha transição, que agora está em seus estágios finais, foi bem-sucedida. Por isso, gostaria de compartilhar com vocês 5 coisas que acredito que toda mulher trans precisa para ter uma transição bem-sucedida.


1. Uma amiga mulher cisgênero 

Esta é a primeira por um motivo. Os tutoriais do YouTube são ótimos e tudo mais, mas ter uma mulher cis (detesto usar esse termo) para ajudá-la com a maquiagem irá ajudar muito na sua transição. Recebo elogios o tempo todo sobre minha maquiagem e as minhas habilidades não são tão boas assim. Minha chave para o sucesso tem sido me concentrar nos fundamentos, e minha melhor amiga me ensinou quase tudo o que sei.

Uma boa amiga também será honesta com você e lhe dirá o que funciona e o que não funciona em relação ao formato do seu rosto e estrutura corporal quando se trata de cabelo e roupas. Sinto que muitas das minhas irmãs trans teriam se beneficiado de ter alguém em suas vidas que se importasse com elas como eu tive, que lhes dissesse não. No meu caso, a melhor amiga de uma mulher trans é literalmente sua melhor amiga.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Sissy Hypno revelado: Um portal para a autodescoberta

Traduzido de Domina Demona 

Artigo recomendado para maiores de 18 anos.

Quem consome pornografia relacioanda à feminização e crossdressing tem grades chances de ter se deparado com vídeos de Sissy Hypno, uma espécie de hipnose audiovisual que tenta facilitar o processo de aceitação desse estilo de vida ou de puro fetiche. O artigo de hoje traz uma análise sobre como esses vídeos podem te influenciar. 


Compreendendo a Psicologia por trás do Sissy Hypno

Quando falamos sobre Sissy Hypno, estamos focando em um canto muito específico entre a comunidade de hipnose e de fetiche de feminização. Alguns podem não estar familiarizados com este termo, e isso é perfeitamente aceitável. Vamos desvendar seu significado e a psicologia que opera por trás dele.


O que é Sissy Hypno?: Sissy Hypno, um termo composto de "sissy", geralmente implicando um homem afeminado ou crossdresser, e "hypno", abreviação de hipnotismo, é essencialmente uma forma de hipnose em vídeo que visa incutir emocional e psicologicamente os sentimentos e comportamentos associados à feminilidade no espectador.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Abandonando o crossdressing e Teorias sobre esse estilo de vida

Traduzido de Gin Kim

É possível para um crossdresser suprimir sua vontade de se travestir e eventualmente parar definitivamente com isso? A resposta é definitivamente sim. Mas isso deve ocorrer apenas quando o crossdresser morrer. Sim, isso é puro sarcasmo. Com base nos meus poucos episódios de purge (ato de jogar fora todas as roupas e itens femininos), eu acabo me pegando constantemente revisitando o crossdressing. É provavelmente mais profundo do que apenas ter a necessidade de usar uma determinada roupa. É mais como uma parte de você. A necessidade de expressar meu lado feminino está constantemente lá e provavelmente nunca irá embora. Como uma maldição que fica presa a você pelo resto da vida.

A parte difícil desse lado do crossdressing é que não é algo socialmente aceitável. Se fosse tão aceitável quanto alguém que gosta de tocar piano ou de fazer compras, eu definitivamente me encontraria praticando crossdressing regularmente. Semanalmente ou talvez mensalmente. Infelizmente, a maioria de nós não tem condições de poder se vestir com frequência. Pode ser sua carga de trabalho, sua família, seu cônjuge ou religião. Um crossdresser enrustido me perguntou por que sou tão ousada em me vestir de mulher em público. Demorei um tempo, alguns anos para ser exata, para encontrar coragem de finalmente sair para o mundo como Gin, meu alter ego feminino. Todo mundo sabe que eu me visto de mulher? Claro que não. Acredito que seja o mesmo para a maioria dos crossdressers, somos como o Superman ou o Batman. Constantemente no modo incógnito. Minha mentalidade para me vestir de mulher em público é mais uma epifania carpe diem.