quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Fetiche de feminização forçada, um breve resumo

Traduzido de Claudia Tyler Mae

fetiche de feminização forçada é um assunto que desperta curiosidade em muitas pessoas, no entanto é confuso para quem não conhece direito e problemático nas suas associações. Aqui está um rápido “O que é?”, “Por quê?” e "E então…?".


O que é?

Grosso modo, seria quando um homem é relutantemente obrigado a se vestir, se apresentar e agir “como uma mulher”. É aí que o senso comum termina. Tal como as comunidades trans e fetichistas de onde provém, o propósito da transformação e o resultado variam enormemente entre os praticantes.

E justamente esta enorme variação é a raiz de muita confusão.

Lembre-se de que o que outra pessoa associa a uma determinada aparência, palavra ou ato não é necessariamente o que você associa a essas mesmas coisas. Uma calcinha pode fazer alguém se sentir confortável, pode deixar alguém excitado ou pode fazer a pessoa se sentir completamente desamparada.

Infelizmente, a maioria dos observadores externos desconhece a enorme variação de identidades não conformes de gênero que existe. Ao contrário da grande mídia, não somos apenas drag queens ou supermodelos transgênero. Se você conhecer alguém que explora o gênero, saiba que pode ser uma expressão transgênero ou de disforia, um fetiche por peças de roupa específicas, uma forma de explorar a sexualidade, uma performance ou uma série de outras associações. Cada uma dessas forças motrizes leva a diferentes abordagens sobre a feminização.

Portanto, a feminização forçada pode significar ser obrigado a aceitar uma nova identidade, uma preparação para um ato sexual, uma punição ou um simples escapismo. Quem faz o forçamento, qual é o resultado final e como a “vítima” responde a isso varia em cada uma dessas combinações.

Por que?

A principal coisa a salientar é que querer ser feminizado não é automaticamente uma expressão de querer mudar de gênero ou de mudar de sexualidade. Às vezes, um vestido é apenas um vestido.

Muitas vezes a semente de uma fantasia está tão profundamente enterrada que é difícil reconhecê-la. No entanto, existem algumas associações comuns que as fantasias expressam. É comum que transgêneros e fetichistas tenham crescido em um ambiente onde expressar esses sentimentos fosse difícil ou mesmo um tabu. Ser forçado é uma maneira de contornar o problema – “Posso me sentir culpado pelo desejo, mas está tudo bem porque é outra pessoa que me obriga a fazer isso”. O mais problemático é que, para alguns, a culpa se torna objeto de punição: “Eu deveria me sentir mal por praticar esse ato”.

Alternativamente, ser forçado muda o foco do desejo: “Esta outra pessoa acha sexy que eu faça isso por ela”. Inerentemente, um desejo interno pode parecer isolado, portanto, ter outra pessoa compartilhando esse desejo pode ser validador e reconfortante. Ainda mais quando a transformação é altamente sexualizada – ser objetivado como um ser desejável e atraente confirma que outra pessoa compartilha dessa visão de quem você pode ser.

Isso responde a uma das perguntas mais comuns: “Por que você precisa ser forçado a fazer algo que obviamente deseja?”. A razão é simplesmente que ter outra pessoa como o perpetrador mostra a necessidade dela de ver você como uma mulher, e não o seu próprio desejo, com toda a bagagem que isso traz.

E então…?

Quando uma fantasia é a expressão de um conflito ou desejo silencioso, pode ser difícil decifrá-la. Ainda mais quando se brinca com estereótipos e associações comuns. É raro alguém querer ser forçado a usar uma calça capri confortável e uma camiseta cropped. Por outro lado, abundam as fantasias de empregada doméstica e de prostituta de rua – representações de desamparo, objetificação, sexualidade aberta e papéis de gênero explícitos.

Portanto, não é surpreendente que um observador externo considere essas associações problemáticas. Tal como acontece com quem tenta envergonhar pessoas que usam roupas curtas e justas (slut shaming), à primeira vista a implicação traz a ideia de que se parecer com uma garota sensual é algo inerentemente negativo.

Isso torna ainda mais difícil as pessoas tentarem construir uma narrativa em torno de desejos tão informes e vagos. Uma narrativa tenta construir um “porquê” e “o que vem a seguir” lógicos em torno de algo que não tem lógica interna. “Você quer se montar porque você é gay?” é uma pergunta incrivelmente comum para mim, seguida pela pergunta carregada “Então, o que você quer fazer isso por quê…?”. Da mesma forma, associações com vergonha e culpa são traduzidas em “se vestir como uma mulher faz você parecer patético”, o que tem conotações misóginas dolorosas e perde completamente a dinâmica.

Mesmo aqueles que fantasiam ser feminizados podem ter dificuldades com o que isso “significa” – a associação entre gênero e sexualidade é tão poderosa que os caras que percebem que ficam excitados ao usar roupas femininas logo se questionam se isso os torna automaticamente gays.

As coisas ficam ainda mais confusas pelos criadores de conteúdo de fantasia sexual. As narrativas fáceis e óbvias dominam o submundo da pornografia na internet, simplesmente porque o mais vago e matizado “fazer o que parece certo” se torna difícil de vender. É difícil fazer um cara travestido ficar realmente bonito para os padrões de beleza da sociedade, mas é mais fácil inclinar a pratica para a culpa e assim a gente acaba com o discurso de “te humilho de calcinha porque você quer transar com um homem”. Há muitas coisas assim.

A realidade é que, para a maioria das pessoas que têm fantasia de feminização forçada, o verdadeiro ato de ser feminizada consiste em aceder a um papel que de outra forma seria inalcançável, mesmo que seja apenas sentir-se bonita (ou gostosa). Eliminar a culpa e as associações desnecessárias pode ser uma forma de explorar sentimentos simples e profundos. Envolver esses sentimentos em um olhar e no ritual de transformação é uma forma de brincadeira que pode ser divertida e catártica.

O ponto importante aqui é que o desejo de ser feminizada à força é único e pessoal. Não é necessariamente uma narrativa totalmente formada, e os símbolos da feminilidade têm significados pessoais distintos. Explorá-lo é compreender o que é a chave da fantasia – e descartar deliberadamente as associações que surgem ao redor. Pode ser completamente ilógico (empregadas domésticas nessa fantasia, quase sem exceção, nunca fazem limpeza; shorts curtos masculinos fazem você se sentir como uma menina; os rapazes têm certeza de que podem desfilar de salto alto por aí), mas essa é a questão da fantasia: um punhado de adereços e as palavras certas podem desbloquear um mundo totalmente novo.

Claudia Tyler Mae, autora do texto
3 Comentário(s)
Comentário(s)

3 comentários:

Derek Fantasias disse...

Adoro esse fetiche!! Nunca realizei, morro de vontade!
Adorei o seu blog!!!

Anônimo disse...

Descobri o blog recentemente. Gosto da intenção de jogar luz nos tabus de gênero. Infelizmente é difícil para a maioria encontrar comunidade e parceria para explorar toda nossa fluidez, mas é reconfortante saber que há quem não julgue.

dresscandy.blogspot.com disse...

Concordo com o Derek