quarta-feira, 14 de abril de 2021

Eu e ele: duas almas, um corpo

O texto a seguir foi escrito pela crossdresser Cathy Hamilton e descreve um pouco da sensação que é viver com dois lados completamente distintos dentro de si. Eu já escrevi aqui sobre a visão dos povos nativo americanos que acreditam que pessoas assim tem duas almas e acho muito interessante o conceito, principalmente porque eles entendem que poder ver o mundo aos olhos de ambos os gêneros é um dom dado pelo Criador e que merece ser celebrado.

Confesso que não sinto exatamente o mesmo comigo, mas me diverti observando as semelhanças do texto com a minha própria vida. No momento eu acho que temos uma personalidade nata e algumas máscaras que aprendemos a vestir em determinadas situações. Talvez a psicologia chame isso de Id e Ego (Teoria da Personalidade de Freud), mas isso é uma discussão à parte.

Traduzido de En Femme Style

Muitos de nós, crossdressers ou transgêneros, acreditamos que temos duas almas dentro de nós, que temos dois habitantes distintos dentro de nossos cérebros lutando pelo controle de nossas mentes.

Esta não é uma maneira nova de se pensar. Algumas tribos nativo americanas, diversos povos polinésios e povos das ilhas do Oceano Pacífico reconheceram esse conceito em relação a certas pessoas há milhares de anos atrás.

Em graus variados, quase todos nós temos características masculinas e femininas. Talvez essas características sejam inerentes devido aos altos níveis de estrogênio que recebemos quando éramos apenas embriões ou talvez essas características tenham sido desenvolvidas continuamente ao longo do tempo – a questão é que todos sentimos a necessidade de expressar isso!

Essa ideia é algo que eu sempre cogitei, pois, quando a aura rosa baixa ou quando estamos bem produzidas e nos sentindo bem, quase todos nós assumimos um alter ego diferente. Nós nos tornamos alguém que não somos em nossa vida cotidiana; adotamos uma persona bem distinta daquela que apresentamos diariamente ao grande e vasto mundo.

No meu próprio caso essas diferenças são bem pronunciadas. Minha psique fica completamente diferente, tanto que passei a me referir como "eu" e "ele" – onde "eu" é a parte feminina geralmente oculta de minha personalidade e psique (ainda que dominante) e "ele" é o rosto do sexo masculino que eu tenho que mostrar diariamente para quase todos aqueles que me conhecem!

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Retrato íntimo e glamouroso de mulheres trans na Paris dos anos 60

Gosto muito quando eu encontro fotos e histórias do passado que deixam claro que o movimento transgênero não é "novidade da geração mimimi". Já trouxe aqui coleções antigas como as fotos da Casa Susanna e a exposição Uma história secreta de Cross-Dressers. Dessa vez encontrei o trabalho do fotógrafo Christer Strömholm que registrou o cotidiano das mulheres trans com quem ele conviveu em Paris durante década de 1960.

“Essas são imagens de pessoas cujas vidas compartilhei e que acho que compreendi. Estas são imagens de mulheres – nascidas biologicamente como homens – que chamamos de 'transexuais'. Quanto a mim, eu as chamo de 'minhas amigas da Place Blanche'. Era então – e ainda é – sobre como obter a liberdade de escolher a própria vida e própria identidade", escreveu Strömholm na época da publicação das fotos.

As fotografias em preto e branco, tiradas à noite com a luz disponível, mesclam fotografias de rua e retratos e são, por sua vez, glamourosas e corajosas. Elas capturam uma Paris perdida, desprezível mas elegante, subterrânea mas extravagante, em uma época em que o General de Gaulle estava no poder e pretendia criar uma França ultraconservadora que ecoasse seus estritos valores católicos romanos. Nessa época as travestis eram consideradas foras da lei, regularmente abusadas e presas pela polícia por serem “homens vestidos de mulher fora do período de carnaval”.

Nana. Paris, 1959
Adaptado de New York Times

As fotos tiradas por Christer Strömholm das mulheres com quem ele conviveu compõem um retrato íntimo e sensível de mulheres transgênero décadas antes do movimento ter qualquer visibilidade popular.

Em 1959, Christer Strömholm, então um fotógrafo sueco pouco conhecido, encontrou seu caminho para Paris e para um grupo de pessoas que iriam transformar sua vida, e ele a delas.

O senso de família de Strömholm foi desbotado de maneira sombria pelo suicídio do seu pai e pelo novo casamento de sua mãe com um rico corretor de navios. Quando foi para Paris, ele abdicou o seu status de burguês e se juntou a um grupo de mulheres transgênero desamparadas que viviam na região da Place Blanche de Paris, praça onde se encontra o famoso cabaré Moulin Rouge, e que rapidamente se tornariam seu clã adotivo. “Essa era a família dele, essas garotas”, disse seu filho Joakim Strömholm.

Suas amizades verdadeiras eram com “as pessoas mais indesejadas de Paris”, acrescenta Joakim. “Ele enxergou a beleza delas. Não foi nada voyeurístico, escandaloso, foi apenas uma vida normal que ele seguiu ”.

Cobra. Paris, 1960
Kismie. Paris, 1962
Sabrina. Paris, 1967

As fotos permaneceram guardadas até 1983, quando foram publicadas como um livro, “Les Amies de Place Blanche” (“As amigas da Place Blanche”). Começa com uma breve introdução escrita pelo fotógrafo: “Este é um livro sobre insegurança. Um retrato de quem vive uma vida diferente na grande cidade de Paris, de pessoas que suportaram a aspereza das ruas. ... Este é um livro sobre a busca da identidade própria, sobre o direito de viver, sobre o direito de possuir e controlar o próprio corpo.”

Strömholm morava nos mesmos hotéis que as mulheres que fotografou. Ele comeu com elas, bebeu com elas, saiu para a cidade com elas. Ele levava sua câmera Leica e alguns rolos de filme quando saíam à noite e, ao voltar para o hotel, os revelava em seu quarto. “Se as fotos estivessem mal expostas ou se eu tivesse cometido um erro técnico, não importava. Eu ainda teria outras noites pela frente ”, escreveu ele.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Arquétipos do BDSM: identidades eróticas

Dada a introdução ao BDSM apresentada no último post, vou aprofundar um pouco no assunto apresentado os arquétipos do BDSM. No título eu chamei isso de identidade erótica com um certo tom de provocação. Sim, eu sei que tem as identidades sexuais (hétero, homo, bi e talz), no entanto, sinto que somos muito mais complexos do que uma "pessoa que faz sexo com alguém do gênero oposto e/ou não", então acho que seria interessante abrir um pouco esse leque e preencher com os nosso desejos profundos.

O termo “arquétipo” tem origem no grego antigo: Archein, que significa original, e Typos, que significa modelo ou tipo. Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, usou o conceito de arquétipo em sua teoria da psique humana pois acreditava que personagens míticos universais – os arquétipos – residem no inconsciente coletivo das pessoas em todo o mundo, independentemente de cultura, raça ou nacionalidade. Ou seja, esse conceito na psicologia tenta encontrar padrões nas personalidades das pessoas.

No contexto do BDSM o caminho é parecido, mas mais focados nos nossos interesses libertinos. Todo mundo é diferente na hora H, algumas pessoas gostam de explorar as sensações do toque, outras gostam de ouvir sacanagens no pé do ouvido enquanto outros preferem uma pegação mais selvagem. Os arquétipos do BDSM são modelos utilizados para representar padrões de comportamento ou características predominantes nos praticantes os quais as pessoas podem se identificar em vários graus (de 0% a 100%). Por acaso você tem curiosidade para saber os seus?

Se sim, você pode fazer um teste no site www.bdsmtest.org que ele vai dar uma boa ajuda para entender os seus próprios desejos. A primeira página está em inglês, mas na sequência você tem a opção de fazer o teste em português. A lista abaixo eu me baseei neste mesmo site e detalha um poucos desses arquétipos, e, apesar de não ter todos, com certeza te dará um bom panorama.

Só um detalhe, vou usar todos os termos e adjetivos no masculino apenas por causa de regras de concordância do nosso português, mas tudo aqui vale para absolutamente qualquer gênero, ok?

Baunilha

No universo BDSM Baunilha é o termo usado para designar as pessoas que gostam de relacionamentos monogâmicos regulares e sexo convencional. Não há nada de errado com isso. Vale mencionar que Baunilha é uma especiaria bastante popular que há muito tempo é vista como um tipo de joia dos aromas, então a referência encaixa bem nesse contexto sem nenhum tipo de julgamento.


Bondage: restrição de movimentos

Riggers sentem prazer ao amarrar e restringir o movimento do(s) seu(s) parceiro(s), usando corda e/ou outros acessórios (correntes, algemas, barras espaçadoras, etc.), para ter controle sob o corpo dele(s). Ele também é responsável por monitorar o Bottom para garantir que circulação sanguínea e o fluxo de ar não sejam comprometidos.

Rope Bunny ou Rope Bottom preferem ser amarrados. Isso gera uma sensação de vulnerabilidade física e emocional, portanto ele precisa sentir confiança que o Top garantirá a segurança durante a cena.

A prática é bastante difundida no meio e pode ser usada para aumentar a libido, para fins artísticos ou apenas para diversão. Muitas vezes as pessoas misturam bondage com outras práticas do BDSM.


Disciplina e o jogo de provocação

Brat é um tipo de bottom focado na Disciplina. Não são necessariamente submissos pois não sentem prazer em se submeter. Seu prazer consiste em provocar o Top de diversas formas, de acordo com sua personalidade, bem como impor resistência durante as sessões, mas sempre mantendo respeito aos limites do parceiro. Essa provocação já é algo esperado pelo Top, pois faz parte do jogo de disciplina, e este, então, reage à provocação “castigando o bottom” (praticando então o sadomasoquismo e/ou bondage, por exemplo).

Domadores são, em essência, dominadores que gostam de lidar com gente malcriada. Eles consideram a desobediência como uma forma de jogo, não como grosseria, então não vão se ofender, mas com certeza darão uma boa lição em quem estiver merecendo.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Introdução ao BDSM

Bom, não posso afirmar que sou especialista em BDSM, no entanto já tive alguma experiência prática e garanto que li muito sobre o tema. Sempre que eu busco informações a respeito de crossdressing e suas origens eu acabo passando por grupos relacionados às práticas de BDSM, inclusive já citei alguma coisa por aqui quando falei sobre o fetiche de bondageo fetiche de feminização e gaiola peniana, fora as HQs Boneca da Raan e Inversão de Papéis que fazem diversas referências ao assunto. Mas o que significa essa sigla e por que as pessoas logo pensam em coisas como roupas de couro e chicotes?

O BDSM se trata de um termo guarda-chuva que agrupa atividades fetichistas e práticas estimulantes (nem sempre sexuais). A sigla vem de Bondage/Disciplina (práticas de restrição física, treinamento, punição, etc), Dominação/Submissão (práticas de obediência, troca de poder, veneração, etc) e Sadismo/Masoquismo (atividades com dor, degradação, medo, etc). Ao longo do tempo o BDSM foi agregando outros desviantes similares, então além dos seis grupos citados na sigla ainda tem outras várias atividades relacionadas ao termo (voyeurismo, não monogamia, práticas primitivas, etc). É importante ressaltar que se trata de uma atividade consensual que respeita os direitos fundamentais de cada ser humano envolvido, isso afasta o termo de qualquer tipo de abuso sexual ou doméstico.

Eu estava preparando outro artigo a respeito do tema mas percebi que seria necessário introduzir diversos assuntos antes então preferi trazer primeiro esse guia básico sobre BDSM que encontrei no site do BuzzFeed americano.

Dominadora profissional

Traduzido de BuzzFeed

Esqueça o que você viu em Cinquenta Tons de Cinza. Aqui está a sua verdadeira cartilha de iniciação ao BDSM.

1. Começando do básico: a origem do termo BDSM:
BDSM inclui bondage e disciplina (B&D), dominação e submissão (D&S) e sadismo e masoquismo (S&M). Os termos são agrupados dessa forma porque BDSM pode ser diversas coisas diferentes para pessoas diferentes com preferências diferentes, disse a escritora e educadora de BDSM Clarisse Thorn (autora de "The S&M Feminist"), ao BuzzFeed Life. Na maioria das vezes, os interesses de uma pessoa se enquadram em uma ou duas dessas categorias, ao invés de todas elas de uma vez.

2. Nem sempre envolve sexo, mas pode.
A maioria das pessoas pensa que o BDSM está ligado diretamente ao sexo. Embora possa ser verdade para algumas pessoas, outras afastam essa hipótese completamente. “Ambas são experiências corporais muito intensas e sensuais e causam sentimentos muito fortes nas pessoas que as praticam, mas não são a mesma coisa”, diz Thorn. Ela usa uma metáfora para isso: uma massagem. Às vezes, uma massagem, por mais sensual que seja, é apenas uma massagem. Para outros, uma massagem quase sempre leva ao sexo. É algo parecido com o BDSM; é uma questão de preferência pessoal e sexual dos praticantes.

Bondage – restrição de movimentos

3. Não há nada de errado com as pessoas que praticam e o consentimento é regra.
Este é um dos equívocos mais comuns e frustrantes sobre o BDSM, diz Thorn. BDSM não é algo que surge de abuso ou de violência doméstica, e se envolver nele não significa que você gosta de abusar ou de ser abusado.

Em vez disso, desfrutar do BDSM é apenas uma faceta da sexualidade e do estilo de vida das pessoas. “São apenas pessoas comuns que se desfrutam desse jeito”, disse a especialista em sexo Gloria Brame (autora de Different Loving) ao BuzzFeed Life. "São seus vizinhos, seus professores e as pessoas que empacotam suas compras. O maior mito é que você precisa desse conjunto circunstâncias pesadas, quando na verdade são apenas pessoas comuns que precisam dessa atividade para a sua dinâmica íntima."

4. Saiba que você sempre pode dizer não.
“Muitas pessoas no início pensam que é 'tudo ou nada', especialmente se você só esteve com um parceiro”, diz Thorn. Por exemplo, você pode pensar que por gostar de ser submisso em certas circunstâncias isso significa que você deve sempre concordar com qualquer comportamento submisso ou masoquista dos quais você não necessariamente gosta.

Mas isso está absolutamente errado. Você pode e deve escolher quais atividades relacionadas ao BDSM que você está ou não interessado, diz Thorn. E isso pode variar dependendo da situação, do parceiro ou até do seu dia. Lembre-se de que o consentimento é um requisito básico do BDSM, e é possível consentir com algo enquanto ainda se opõe a outro.

Dominação, restrição e Whipping (chicotadas)

quarta-feira, 17 de março de 2021

Harry Styles na capa da Vogue é um sinal de esperança

A capa da edição de dezembro de 2020 da revista Vogue americana, uma referência conceituada no que diz respeito ao mundo da moda e lifestyle, deu destaque ao cantor de 26 anos Harry Styles. O ex-integrante do grupo One Direction foi entrevistado e participou de uma sessão de fotos. Ah sim, já ia me esquecendo de um mero detalhe, ele também se tornou o primeiro homem a estampar sozinho a capa da revista nos seus 128 anos de existência. E o melhor: usando um vestido.

O post que eu traduzi na semana passada falando sobre o quão entediante é a moda masculina foi publicado em Julho de 2017 e concluiu o texto falando que "seria bom se, nos próximos anos, essa situação mudasse e os homens, e a moda masculina, começassem a receber dicas do mundo da moda feminina". Bom, creio que essa capa seja um sinal positivo para os anseios do autor (e para os meus também).

Ao longo da entrevista, feita pelo jornalista Hamish Bowles, a voz de Watermelon Sugar refletiu sobre relacionamentos, falou sobre o período de quarentena, sobre seu senso de estilo impar e sobre práticas de meditação que o ajudam à preservar a saúde mental. Aqui eu vou focar na parte do estilo dele.

One Direction em 2012

Pode-se dizer que houve uma transição da imagem de galã de boyband, que ele passava quando estava no One Direction, até o ponto atual de fashionista desconstruído. Na entrevista ele conta que esse processo de evolução começou quando ele conheceu o estilista Harry Lambert. “Ele simplesmente se diverte com roupas, e foi daí que eu tirei isso” disse Styles sobre Lambert. “Ele não leva isso muito a sério, o que significa que eu não levo muito a sério.”

Harry Styles e o estilista Harry Lambert

E complementa: "Você nunca poderia se vestir demais. Não existe esse tipo de coisa. As pessoas que eu sempre admirei na música – Prince, David Bowie, Elvis, Freddie Mercury, Elton John – eles são tão showmens. Quando criança, isso era completamente alucinante. Agora vou vestir algo que pareça realmente extravagante, e não me sinto maluco por usar isso. Eu acho que se você conseguir usar algo que te faz se sentir incrível, é como uma roupa de super-herói. As roupas existem para se divertir, experimentar e brincar. O que é realmente empolgante é que todas essas linhas estão simplesmente se fragmentando. Quando você ignora que 'há roupas para homens e há roupas para mulheres', uma vez que você remove essa barreira, obviamente você expande a arena na qual você pode jogar. Às vezes eu vou às lojas e me pego olhando para as roupas das mulheres pensando o quanto elas são incríveis. É como qualquer outra coisa – sempre que você coloca barreiras na sua própria vida, você está apenas se limitando. Há tanta alegria em brincar com roupas. Eu realmente nunca pensei muito sobre o que isso significa – simplesmente se torna extensão da criação de algo. ”

quarta-feira, 10 de março de 2021

A moda masculina é entediante

Tenho certeza que muitos homens crossdressers usam roupas femininas simplesmente por que não existem opções de roupas tão interessantes e divertidas nas seções masculinas das lojas. Entendo que, em muitos casos, o sentimento não precisa ser necessariamente uma questão de disforia de gênero. Eu mesmo penso que devo me incluir nessa galera.

Nos corredores masculinos as cores são básicas. Existem poucas opções de cortes e eles são extremamente simples. Além de que praticamente não existem peças que mostrem partes do corpo como costas, coxas ou abdome. Não vou nem falar sobre a gama de opções de acessórios e maquiagens que as mulheres também tem. O texto a seguir não fala nada sobre crossdressing, mas questiona exatamente isso no mundo da moda.

Recentemente eu li outro artigo de uma mãe que tem um filho trans e que achou estranho quando o rapaz comentou que iria usar vestidos de vez em quando. Na cabeça dela o jovem transgênero que nasceu com uma vagina deveria usar exclusivamente roupas de homem a partir do momento que decidiu fazer a transição de gênero. Na real esse assunto é extremamente complexo, mas me fez notar que quando tratamos gênero simplesmente como uma questão binária as vezes podemos estar adotando um caminho errado.

Adaptado de Mof Gimmers

A moda feminina é incrível. Basicamente é a engenharia em ação. Eu li uma thread sensacional no Twitter que tratava de tudo que diz respeito à alfaiataria e construção da moda feminina, e o nível de detalhes que envolvem as roupas da passarela feminina são fascinantes.

Há muito tempo eu admiro a variedade na moda feminina, em comparação com o que se obtém com a moda masculina. A propósito, o que eu quero dizer quando me refiro à "moda masculina" e à "moda feminina" é o que há disponível para o consumidor final comprar nas lojas de varejo. Estou totalmente ciente de que você pode vestir o que quiser e esquecer os rótulos de gênero e tudo mais.

Para começar a comparação, observe a paleta de cores que as mulheres usam e compare com a paleta dos homens – vá em uma boate numa noite de sexta-feira e você verá mulheres usando todo o espectro de cores e, em seguida, repare nos homens, muitos provavelmente usam combinação de preto, branco, azul marinho ou verde escuro. Talvez um deles se sinta um pouco animado e seja visto vestindo algo listrado ou até rosa. Se você for comprar tênis, os homens até começaram a receber algumas opções brilhantemente coloridas, mas são poucas e destoam entre as prateleiras de preto, branco e azul. Vire sua cabeça para a seção feminina e você verá tons pastéis, opções tropicais, bem como calçados mais práticos com os quais você não precisa se preocupar com poças de chuva no seu caminho.

Claro, há exceções, mas os homens tendem a não usar estampas ou cores ousadas da mesma maneira que as mulheres.

quarta-feira, 3 de março de 2021

"Sexy, Sexy Drag Queen": Drag como Libertação, Drag como Fetiche, Drag como Vergonha

O texto a seguir é uma tradução do artigo do Joe Corr em que ele comenta como foi a experiência de sair pela primeira vez montado de drag e ser abordado sexualmente, isso o fez questionar sobre a imagem que ele passava de si mesmo ao se produzir.

Em diversos pontos do texto ele faz questionamentos sobre o Drag Queen que caberiam muito bem no crossdressing. Seria o crossdresing uma identidade sexual? Quando você se monta você se percebe como objeto de desejo? Já notou como a feminilidade costuma ser associada ao sensualismo? Confira isso e muito mais a seguir.

Traduzido de Joe Corr

Aos 17 anos, fui sexualmente abordado por um homem pela primeira vez na minha vida. Para complicar as coisas, foi no mesmo dia em que saí de casa pela primeira vez de Drag. Desde então, tenho lutado com os emaranhados confusos de gênero, sexo, fetichismo e vergonha que vêm de brinde por eu ser uma pessoa queer libertada e, ao mesmo tempo, um objeto de fetiche. Aqui, tento deixar de lado algumas dessas preocupações de uma vez por todas.

A Parada LGBT de Brighton de 2014 foi um dia de estreias para mim, marcando duas ocasiões históricas em minha própria linha do tempo. Foi nesse dia que saí de drag pela primeira vez. Depois de passar tanto tempo reunindo coragem para finalmente tomar a iniciativa, eu ainda me surpreendo com o conjunto que escolhi para minha primeira excursão. Minha referência drag é bagunçada, suja e áspera – estilo: Divine, Tranimals, Leigh Bowery e Christeene. Inspirando-me no lendário terrorista drag Fade-Dra Phey, eu montei um conjunto que poderia ser descrito como "Viagem ácida da dona de casa suburbana misturada com Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica". Com pouca maquiagem, puxei uma meia-calça pela cabeça, com buracos feitos para revelar apenas um olho e meus lábios, que estavam manchados com sombra e batom em duas ou três pinceladas fortes. Usei a peruca loira mais horrível que encontrei (vestida de lado), um vestido floral de poliéster cortado curto e esfarrapado para que toda a minha bunda ficasse exposta e luvas de limpeza amarela com unhas de acrílico (para o toque necessário de glamour). Eu era uma visão, um terrível pesadelo de fluxo de consciência – e eu adorei. Mas a reação que obtive foi algo para o qual eu não estava preparado. Na verdade, fiquei tão impressionado com a quantidade de atenção (que variava de êxtase a irritação) que acabei pegando o ônibus para casa às 3 horas da tarde, com sapatos de salto alto nas mãos, soluçando baixinho por pura sobrecarga sensorial. Foi um exercício de construção de caráter, com certeza, mas que ajudou na minha formação.

Uma das inspirações do autor: Austin Young - The Tranimal Workshop