quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Sissy: A história torturante da minha identidade de cdzinha

Traduzido de Veronica Vayne

As mentiras que contei a mim mesma e a verdade finalmente revelada

O artigo “Sissy: A história torturante da minha identidade de cdzinha” de Veronica Vayne no Medium narra a jornada de autodescoberta e aceitação da autora de sua identidade trans ao longo de 50 anos. Desde a identificação inicial como travesti até a realização final de seus verdadeiros desejos e motivações, a autora explora temas de identidade, relacionamentos e autoaceitação.

Em 1970 – meu último ano no ensino médio – conheci a história de Christine Jorgensen. Em 1952, um ano antes de eu nascer, ela virou manchete nacional quando voltou da Europa após passar por uma operação de mudança de sexo. Antes ela teve uma carreira militar e isso alimentou o bafafá das manchetes. Pela primeira vez na minha vida, eu sabia que era possível para alguém que nasceu homem ter a vida de uma mulher. Conhecer a história da Christine Jorgensen foi o catalisador por trás dos 50 anos de história da minha identidade trans.

Alguns anos antes, eu tinha me deparado com revistas que traziam histórias e fotos sobre travestis. Eu já tinha meio que me aceitado como travesti. Minha pesquisa sobre Christine Jorgensen – que começou a ficar séria quando fui para a faculdade – me apresentou a um novo termo: transexual. Na época eu abracei o conceito de que eu era uma pessoa transexual. Isso me atraiu pois, como uma "transexual", eu precisava ser uma mulher. Não era mais sobre apenas querer ser uma mulher.


Christine Jorgensen (1926-1989),
antes e depois da transformação e após uma certa idade

A cirurgia de mudança de sexo

Comecei a pesquisar informações de como fazer uma operação de mudança de sexo. Aprendi em minha pesquisa que tais operações eram regulamentadas pelos padrões de atendimento do médico Harry Benjamin, que era amplamente conhecido por seu trabalho clínico com pessoas transgênero na época. Pelo que pude determinar, o primeiro passo para começar esse processo seria viver um ano como mulher em tempo integral. Na época, eu estava apenas começando minha carreira na faculdade e tinha ambições de me tornar professora no futuro. Eu simplesmente não conseguia imaginar como eu conseguiria passar um ano inteiro vivendo como mulher.


Casamento

Quando conheci Amber, a mulher com quem eu me casaria posteriormente, eu me permiti aceitar a mentira de que, de alguma forma, a vida como um homem casado, criando a família e dando aulas em uma escola um dia faria de mim um homem. Então eu pedi Amber em casamento. Ela aceitou a minha proposta e começamos um noivado que durou um ano. Durante esse tempo, eu continuei a me travestir escondido. Eu não sei quando o termo travestismo ou crossdressing se tornou parte da minha identidade. Foi nessa época que comecei a dizer a mim mesmo que eu não era nada mais do que um crossdresser, e que uma mudança de sexo não era exatamente o que eu queria. No entanto, embora eu realmente amasse a Amber e quisesse me casar com ela, ao mesmo tempo, no fundo, eu sabia que um dia eu faria a operação de mudança de sexo. Eu sabia que estava mentindo para mim mesmo.

Dois anos depois do nosso casamento, Ann descobriu detalhes do meu estilo de vida alternativo. Algumas mulheres até podem aceitar bem e podem conseguir se adaptar de alguma forma para que o casamento funcionasse para elas e seus cônjuges. Mas esse não foi o caso da Amber. Embora legalmente nosso casamento tivesse continuado por mais cinco anos, nosso casamento efetivamente acabou no dia em que Amber descobriu meu segredo. Durante esse tempo, pode-se dizer que fiquei feliz por ela saber. Ser casada não foi a "cura" que eu esperava que fosse. Amber e eu frequentemente falávamos sobre divórcio, mas por razões diferentes, isso nunca aconteceu. Mas eu sabia que logo acabaria. Um dia eu ficaria solteira novamente e poderia seguir minha vida como transexual. Eu tinha concluído a faculdade, mas sem ganhar o certificado de licenciatura. Então, fazer uma mudança de sexo parecia um pouco mais viável. Eu também perdi meu pai no início do nosso casamento por causa de um ataque cardíaco. Certamente, ele teria desaprovado a cirurgia de redesignação sexual que eu tanto almejava.


Minha mudança para Dallas – a primeira vez

Eu tinha 29 anos quando Amber e eu nos divorciamos. Em um ano, eu estaria morando em Dallas, no Texas. Nos 10 anos seguintes, eu moraria em Dallas, depois voltaria para Spokane, apenas para retornar para Dallas por alguns anos antes de voltar para Spokane. Embora eu não possa dizer que foi assim em todo Ano Novo, toda vez que eu compilava uma lista de resoluções de Ano Novo, no topo da minha lista (ou para qualquer lista de tarefas que eu compilasse durante esses anos), eu sempre incluia "fazer uma operação de mudança de sexo". Ao longo dos meus trinta e quarenta anos, eu me mudei para uma cidade diferente nove vezes. Eu me mudei muito durante essas décadas porque eu continuei buscando um novo lar onde eu pudesse construir uma nova vida como mulher.


Bares gays

Quando eu tinha 39 anos, eu voltei para Spokane pela segunda vez nos últimos anos. Na minha primeira noite de volta a Spokane, eu fui a um bar gay e foi a minha primeira vez em público completamente vestida como mulher. Nos vinte anos seguintes, essa seria a primeira de centenas de noites que eu passaria em bares gays, vestida como mulher, buscando companhia masculina e sexo.


Southern Comfort Conference, encontro de 2015

A Internet e a Southern Comfort Conference

Foi também nessa época que comecei a usar a internet para explorar minhas questões de gênero. Encontrei vários sites e páginas de perfil de crossdressers e mulheres transgênero. Um desses sites que encontrei se chamava Southern Comfort Conference e eles realizavam uma convenção/conferência anual em Atlanta todos os anos. Em 2000, eu participaria da conferência deles. Voltei para Dallas em 2000 – depois de morar brevemente em Minneapolis e Charlotte.

A Southern Comfort Conference foi um evento muito revelador e um tanto transformador. Ele abriu meus olhos para um novo mundo onde ser transgênero, ser transexual e até mesmo ser crossdresser não eram algo que merecesse sentimentos de vergonha. Havia casais lá – maridos com esposas solidárias. Eu tomei conhecimento de homens trans lá pela primeira vez, o que era algo novo para mim. Saí da conferência sentindo que estava tudo bem ser eu. Com o tempo, no entanto, tornou-se mais um sentimento de que estava tudo bem ser transgênero, porém não era algo que estaria bem para mim.


Alcoolismo e uma verdade revelada

Dois anos depois, eu estava de volta ao estado de Washington morando com meu irmão na península de Olympia. Foi quando recebi minha multa por dirigir sob influência de álcool. O juiz me colocou em programas de tratamento de vício e exigiu a minha presença no grupo de Alcoólicos Anônimos. Depois de um ano de tratamento e de participar de centenas de reuniões do AA, eu sentia que ainda não tinha abraçado totalmente uma vida sóbria. Eu tinha medo de que, uma vez que o tratamento ordenado pelo tribunal estivesse finalizado, eu voltaria a beber. Para meu crédito, isso era algo que eu realmente não gostaria de fazer. Então eu tive que tomar uma atitude para mudar o curso da minha vida. E um dia eu percebi o que era. Naquele dia, falei com minha assistente social no centro de tratamento e disse a ela que eu era transgênero. Foi a primeira vez que contei abertamente a alguém sobre minha vida secreta e meus desejos.

Agora sinto que isso era uma mentira. Mas era uma mentira que eu acreditava sinceramente na época. E era uma mentira que, a longo prazo, serviu ao bem maior, pois vivi os últimos 20 anos da minha vida como uma vida sóbria. No entanto, devido às enormes consequências ou mudanças que essa confissão trouxe para minha vida, ela reafirmou para mim que eu era de fato transgênero. Não direi necessariamente que eu tinha dúvidas antes, mas uma parte de mim sempre sentiu que eu estava vivendo uma mentira ao pensar que eu era transgênero.


Sem-teto em Dallas

Em 2007, aos 54 anos, voltei para Dallas. Eu não tinha dinheiro nem lugar para ficar. Fiquei sem-teto pelos próximos dois anos da minha vida. No entanto, encontrei um abrigo para idosos e, com apenas algumas exceções, tinha um teto sobre minha cabeça todas as noites, comida para comer e um lugar para dormir. Descobri então o Craigslist e seus anúncios pessoais. Consegui ganhar algum dinheiro marcando encontros em quartos de motel com homens que estavam dispostos a me ajudar com alguns dólares.

Finalmente consegui um emprego e me mudei para meu apartamento. Continuei a postar anúncios no Craigslist para conhecer homens – agora nem tanto pelo dinheiro. Eu me identifiquei no site como crossdresser porque, como rótulo, senti que era uma descrição precisa de quem os homens poderiam esperar encontrar se passassem por lá. Embora eu ainda me identificasse como transgênero, eu tinha – por causa da minha idade – praticamente desistido de qualquer esperança de fazer a transição de gênero.


Transição e as mentiras que ela revelou

Como acontece com frequência na minha vida, perdi meu emprego e fui quase forçado a voltar para Washington, onde me mudei com meu irmão e sua esposa. Um dia, enquanto navegava na internet, me deparei com um PDF sobre o Washington State Health Care for Transgender Individuals (uma assistência médica estadual para indivíduos transgêneros). Washington é muito mais amigável a transgêneros do que o Texas. Lendo o arquivo, descobri que muitas das minhas despesas com saúde para a transição seriam cobertas pelo plano de saúde estadual. Visitei uma clínica, comecei a tomar hormônios e então um dia mudei legalmente meu nome para Veronica. Finalmente estava acontecendo.

Mas não estava. Minha vida não mudou. Não senti nenhuma compulsão de me vestir como mulher quando saía. Nunca me maquiei. Eu fazia xixi de pé e, se estivesse em um restaurante, sempre usava o banheiro masculino. Gastei muito dinheiro em roupas, mas, quando elas chegavam, eu nunca as usava. Eu estava pronta para viver minha vida como mulher – e não o fiz.

Durante os anos da Covid, eu tinha muito tempo livre – assim como muitas de nós. Continuei me desafiando a explicar de alguma forma por que, depois da busca pela vida como mulher, agora que a tinha, eu não estava agindo de acordo. Também descobri recentemente vídeos de treinamento de sissy e feminização. Assisti a muitos desses vídeos e cada um de alguma forma falava do meu desejo de viver uma vida feminina, a vida de uma mulher. Com o tempo, ficou claro para mim que eu não queria a vida de uma mulher. Eu só queria sexo. Todas as outras coisas que vinham com o fato de ser mulher não tinham importância para mim. Eu não era transgênero, uma mulher trans. Eu era um homem que queria fazer sexo com homens, mas queria fazer isso como mulher.


O Despertar

O despertar para o foco sexual de todos os meus desejos femininos uniu minha vida de maneiras que lhe deram muita clareza. No ensino médio, eu não me importava em ser um garoto durante a semana escolar porque na maioria dos fins de semana Steve e eu fazíamos sexo. Quando eu ia a bares gays en femme, eu ia para pegar homens. Minha semana de trabalho como homem não era um problema para mim. Não era importante para mim me vestir como mulher depois da mudança de nome porque eu nunca vi sexo com homens como uma opção. A vida que eu queria não era a vida que minha avó queria que eu tivesse. A vida que eu queria era a que eu tive com meu colega. Muito sexo. Todo o resto da minha vida estava bem.

Veronica Vayne, autora do texto
1 Comentário(s)
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Um comentário:

Tammilee Tillison disse...

Talvez a melhor parte de ser cozinha é o prazer do sexo como a autora descobriu.
Quando você faz sexo com um homem, você se submete totalmente. Você se entrega. Você é a submissa, a passiva.
Os papéis estão muito claros. Ele detém o poder, a força. E cabe a você se submeter, proporcionar todo o prazer que ele merece.
Você se rende ao macho. É um ritual pagão, carnal, visceral. O membro é o ídolo pelo qual você se ajoelha e se prostra.