quarta-feira, 24 de março de 2021

Introdução ao BDSM

Bom, não posso afirmar que sou especialista em BDSM, no entanto já tive alguma experiência prática e garanto que li muito sobre o tema. Sempre que eu busco informações a respeito de crossdressing e suas origens eu acabo passando por grupos relacionados às práticas de BDSM, inclusive já citei alguma coisa por aqui quando falei sobre o fetiche de bondageo fetiche de feminização e gaiola peniana, fora as HQs Boneca da Raan e Inversão de Papéis que fazem diversas referências ao assunto. Mas o que significa essa sigla e por que as pessoas logo pensam em coisas como roupas de couro e chicotes?

O BDSM se trata de um termo guarda-chuva que agrupa atividades fetichistas e práticas estimulantes (nem sempre sexuais). A sigla vem de Bondage/Disciplina (práticas de restrição física, treinamento, punição, etc), Dominação/Submissão (práticas de obediência, troca de poder, veneração, etc) e Sadismo/Masoquismo (atividades com dor, degradação, medo, etc). Ao longo do tempo o BDSM foi agregando outros desviantes similares, então além dos seis grupos citados na sigla ainda tem outras várias atividades relacionadas ao termo (voyeurismo, não monogamia, práticas primitivas, etc). É importante ressaltar que se trata de uma atividade consensual que respeita os direitos fundamentais de cada ser humano envolvido, isso afasta o termo de qualquer tipo de abuso sexual ou doméstico.

Eu estava preparando outro artigo a respeito do tema mas percebi que seria necessário introduzir diversos assuntos antes então preferi trazer primeiro esse guia básico sobre BDSM que encontrei no site do BuzzFeed americano.

Dominadora profissional

Traduzido de BuzzFeed

Esqueça o que você viu em Cinquenta Tons de Cinza. Aqui está a sua verdadeira cartilha de iniciação ao BDSM.

1. Começando do básico: a origem do termo BDSM:
BDSM inclui bondage e disciplina (B&D), dominação e submissão (D&S) e sadismo e masoquismo (S&M). Os termos são agrupados dessa forma porque BDSM pode ser diversas coisas diferentes para pessoas diferentes com preferências diferentes, disse a escritora e educadora de BDSM Clarisse Thorn (autora de "The S&M Feminist"), ao BuzzFeed Life. Na maioria das vezes, os interesses de uma pessoa se enquadram em uma ou duas dessas categorias, ao invés de todas elas de uma vez.

2. Nem sempre envolve sexo, mas pode.
A maioria das pessoas pensa que o BDSM está ligado diretamente ao sexo. Embora possa ser verdade para algumas pessoas, outras afastam essa hipótese completamente. “Ambas são experiências corporais muito intensas e sensuais e causam sentimentos muito fortes nas pessoas que as praticam, mas não são a mesma coisa”, diz Thorn. Ela usa uma metáfora para isso: uma massagem. Às vezes, uma massagem, por mais sensual que seja, é apenas uma massagem. Para outros, uma massagem quase sempre leva ao sexo. É algo parecido com o BDSM; é uma questão de preferência pessoal e sexual dos praticantes.

Bondage – restrição de movimentos

3. Não há nada de errado com as pessoas que praticam e o consentimento é regra.
Este é um dos equívocos mais comuns e frustrantes sobre o BDSM, diz Thorn. BDSM não é algo que surge de abuso ou de violência doméstica, e se envolver nele não significa que você gosta de abusar ou de ser abusado.

Em vez disso, desfrutar do BDSM é apenas uma faceta da sexualidade e do estilo de vida das pessoas. “São apenas pessoas comuns que se desfrutam desse jeito”, disse a especialista em sexo Gloria Brame (autora de Different Loving) ao BuzzFeed Life. "São seus vizinhos, seus professores e as pessoas que empacotam suas compras. O maior mito é que você precisa desse conjunto circunstâncias pesadas, quando na verdade são apenas pessoas comuns que precisam dessa atividade para a sua dinâmica íntima."

4. Saiba que você sempre pode dizer não.
“Muitas pessoas no início pensam que é 'tudo ou nada', especialmente se você só esteve com um parceiro”, diz Thorn. Por exemplo, você pode pensar que por gostar de ser submisso em certas circunstâncias isso significa que você deve sempre concordar com qualquer comportamento submisso ou masoquista dos quais você não necessariamente gosta.

Mas isso está absolutamente errado. Você pode e deve escolher quais atividades relacionadas ao BDSM que você está ou não interessado, diz Thorn. E isso pode variar dependendo da situação, do parceiro ou até do seu dia. Lembre-se de que o consentimento é um requisito básico do BDSM, e é possível consentir com algo enquanto ainda se opõe a outro.

Dominação, restrição e Whipping (chicotadas)

5. Praticantes de BDSM são tão estáveis ​​quanto pessoas que preferem sexo baunilha.
"Na minha experiência, é mais fácil para as pessoas entrarem no BDSM se não tiverem um histórico de abuso, principalmente pessoas que estão em uma situação mais estável em suas vidas", diz Thorn. Um estudo de 2008 no Journal of Sexual Medicine descobriu que as pessoas que se envolveram em BDSM no ano anterior não tinham maior probabilidade de terem sido coagidas à atividade sexual e não eram mais propensas a ficarem infelizes ou ansiosas do que aquelas que não praticaram BDSM. E, na realidade, os homens que se engajaram no BDSM tiveram pontuações mais baixas de sofrimento psicológico do que os outros.

Dito isso, os praticantes não julgam as pessoas que não gostam das práticas, explica Thorn. O termo "baunilha" não pretende ser depreciativo, e serve apenas para se referir a atos sexuais não relacionados a BDSM ou a pessoas que não estão interessadas nessas taras. Até por que vamos combinar que baunilha pode ser comum mas é muito gostoso.

6. O filme Cinquenta Tons de Cinza é considerado embaraçoso na comunidade BDSM.
Se você estiver em algum encontro de BDSM por favor não mencione nenhum tom de cinza. Enquanto algumas pessoas apreciam que os livros tenham despertados novos interessados em fetiches e podem ter tornado isso menos estigmatizado, outras questionam o relacionamento abusivo e doentio que ele retrata além de considerarem algumas cenas irreais. Em suma, não é uma representação precisa da comunidade BDSM.

Domador praticando Spanking

7. Não se trata apenas de chicotes e correntes o tempo todo. Se não for a sua praia isso pode ficar de fora.
Claro, vários entusiastas devem ter esses apetrechos, mas definitivamente não será prioridade para todos. “Algumas pessoas buscam o que é chamado de 'dominação sensual', que é onde podem haver alguns brinquedos ou brincadeiras, mas nenhuma dor envolvida”, diz Brame. "É mais como se um parceiro concordasse em fazer tudo o que a outra pessoa pede. O BDSM não tem que seguir nenhum padrão e não existe nenhum tipo de cartilha de modelo de relacionamento."

8. Os encontros BDSM são chamados de "cenas".
Novamente, considerando que nem sempre se trata de relação sexual, você não diria necessariamente que "fez sexo" ou que "ficou" com alguém depois de ter uma experiência de BDSM. Ao invés disso, esses encontros costumam ser chamados de cenas (exemplo: você montou uma cena com alguém ou participou de uma cena).

“É uma evolução da época em que só era possível praticar com um profissional por um período de uma hora, ou poderia apenas vê-lo sendo realizado em um clube de BDSM”, diz Brame. "Agora as pessoas têm relacionamentos muito mais orgânicos, mas ainda chamam isso de cena – o momento em que trazemos os brinquedos ou entramos naquele personagem."

Masmorra bem equipada

9. Existem dominadores, submissos, tops e bottoms.
Você provavelmente já ouviu falar de dominadores e submissos (se não, o dominador gosta de estar no comando, enquanto o submisso gosta de receber as ordens). Mas os praticantes também podem usar os termos top e bottom para se descreverem. Um top se refere a quem realiza a prática (alguém que inflige dor, que restringe os movimentos do parceiro, que degrada, etc), enquanto um bottom se refere a quem recebe a prática (alguém que recebe a dor, que tem os movimentos restringidos, que é degradado, etc). Isso permite que você tenha um termo geral para aqueles que geralmente gostam de "dar" ou "receber" em um encontro de BDSM.

E não há regra que diga que você não pode ser dominador/submisso e/ou top/bottom em circunstâncias diferentes e/ou com parceiros diferentes. Um exemplo curioso seria um dominador masoquista ordenar ao seu parceiro submisso infligir dor nele para a própria excitação, assim teríamos um dominador bottom e um submisso top.

10. Pode ser tão simples ou tão técnico quanto você deseja.
Talvez a ideia de ser amarrado o excite. Talvez você goste de espancar ou ser espancado. Ou talvez você esteja mais interessado em máscaras de couro, pinças de mamilo e cera quente. Tudo isso (e obviamente muito mais) está dentro do reino do BDSM. Você pode ser praticante sem nunca ter ido a uma masmorra ou mesmo a uma cena.

Shibari – técnica japonesa de bondage

11. Antes de ir além do básico, faça sua pesquisa.
Usar uma venda, um cubo de gelo ou algemas felpudas que você ganhou em uma festa de despedida de solteira são comportamentos relativamente inofensivos para iniciantes. Mas antes de brincar com algumas das ferramentas mais complicadas, você precisa aprender a fazer isso com segurança. Mesmo uma corda ou um chicote podem ser perigosos se você não sabe o que está fazendo.

Caramba, você pode até fazer besteira com as suas próprias mãos (exemplo: fisting, onde acontece a inserção da mão ou do antebraço na vagina/anus do outro): "[Algumas pessoas] pensam que podem simplesmente fechar o punho e enfiar dentro da outra pessoa", diz Brame. "Essa é uma maneira fácil de machucar alguém e mandá-lo direto para o hospital." (Em vez disso, ela sugere uma "enorme quantidade de lubrificante" começando com dois ou três dedos e, em seguida, lenta e cuidadosamente com toda a mão.)

12. Sério, BDSM envolve MUITA leitura e aprendizado.
Se você é uma daquelas pessoas que joga fora as instruções e tenta construir a estante apenas com a intuição, provavelmente o BDSM não é para você. "Eu diria que grande parte do que chamamos de educação BDSM é como maximizar o êxtase e minimizar os riscos", diz Brame. "Sobre como fazer as coisas que você fantasiava em fazer e realizar elas com segurança."

Embora não haja uma lista de leitura obrigatória, parece haver alguns livros que são frequentemente recomendados para iniciantes, como "SM 101" de Jay Wiseman, "Screw the Roses, Send Me the Thorns" de Phillip Miller e Molly Devon e "The New Topping Book" e "The New Bottoming Book" de Janet Hardy e Dossie Easton. Na internet você também encontra muita informação, principalmente em sites em inglês.

Aulas, conferências e encontros também são úteis para aprender técnicas específicas, diz Thorn. Outro recurso popular é site FetLife, uma rede semelhante ao Facebook específica para a comunidade fetichista, que pode conectá-lo a painéis de mensagens, grupos e cursos em sua região.

Mestre com seu escravo e diversos acessórios

13. É importante buscar suas informações em várias de fontes.
Um erro que muitas pessoas cometem quando experimentam o BDSM pela primeira vez é confiar em uma pessoa para mostrar o caminho. Mesmo que eles tenham o melhor interesse no coração (provavelmente não), pode ser limitante ter apenas uma perspectiva sobre algo que é tão multidimensional, diz Thorn. Em vez disso, procure livros, workshops, encontros, mentores, amigos, quadros de mensagens e muito mais para encontrar um lugar seguro para explorar seus interesses.

14. Palavras seguras são extremamente importantes.
Pode parecer cafona, mas é uma norma bem estabelecida no BDSM (sua palavra de segurança pode até ser "cafona" se você quiser). "Palavras de segurança são provavelmente uma das normas mais importantes que se espalharam pela comunidade, mesmo que as pessoas as usem de maneiras diferentes", diz Thorn. Por exemplo, depois de um tempo de prática nem todo mundo usa palavras seguras com frequência, mas é importante começar usando elas. Elas podem ser essencialmente o que você quiser, contanto que seja algo que você normalmente não diria durante o sexo.

Prática de Pet Play

15. E em alguns eventos públicos, há até monitores de segurança de plantão.
"Monitores de masmorras expulsarão pessoas que não estiverem praticando com segurança", disse Brame. Isso vale para qualquer coisa, desde ignorar palavras seguras até usar um chicote incorretamente. Sério, nós mencionamos que a segurança é fundamental aqui, né? Na verdade, a sigla SSC (Seguro, São e Consensual) é um dos pilares mais comuns da prática.

16. Provavelmente há muito mais conversa envolvida do que se tem com sexo baunilha.
Não existe contestação quanto ao consentimento no BDSM, portanto tem que acontecer muita comunicação antes, durante e depois das cenas. "Nós conversamos muito sobre as práticas antes mesmo de fazer elas", diz Brame. "Nós conversamos sobre o que queremos fazer, o que vamos fazer, quais são nossas fantasias ... isso faz parte da negociação de um bom relacionamento como praticante de BDSM."

Prática de Water bondage

17. Não é tão espontâneo quanto os filmes de Hollywood ou pornografia fazem parecer.
Ser pego de surpresa e acidentalmente cair no quarto vermelho de um milionário (onde você terá orgasmos múltiplos) provavelmente nunca vai acontecer com você. Mas, isso não é necessariamente uma coisa ruim. "A fantasia sexual faz tudo parecer fácil", diz Brame. “As pessoas que realmente praticam essas coisas são muito cautelosas. Tem que ser no lugar certo, na hora certa e com o equipamento certo. E você tem que saber que deve liberar a pessoa [de qualquer tipo de situação] se houver alguma emergência. Você precisa sentir que pode confiar no outro." Portanto, há muito além do que se passa em uma cena, mas isso não significa que seja menos satisfatório para quem gosta.

18. Na verdade, há um período de pré-negociação, onde os parceiros discutem o que gostam, o que não gostam e o que absolutamente não irão tolerar.
Pense nisso como um checklist antes da cena. “É uma maneira de discutir a experiência com antecedência para garantir a segurança emocional”, diz Thorn. Isso pode envolver qualquer coisa, desde roteiros e listas a uma discussão mais informal sobre quais são as expectativas de cada pessoa para a cena, o que elas querem ou não, e quaisquer palavras ou ações que são completamente proibidas.

Degradação com cinta peniana

19. E no final ainda tem o aftercare, o período de feedback que acontece quando a cena termina.
Como o BDSM pode ser uma experiência incrivelmente intensa e emocional para alguns, a maioria dos especialistas sugere fortemente esta etapa de encerramento, onde os parceiros discutem a cena e quaisquer reações que tiveram durante ela. “As pessoas são extremamente vulneráveis ​​durante o aftercare”, diz Thorn. "Pode ser muito estranho ter uma cena sem ele." Isso também pode ser uma experiência de vínculo forte entre os parceiros.

20. Praticantes podem ser monogâmicos, poliamorosos ou o que quer que seja.
Nem todo mundo interessado em BDSM tem múltiplos parceiros. "Costumava ser uma percepção popular de que não formamos relacionamentos de longo prazo", diz Brame. "Muitos BDSMers são apenas pessoas monogâmicas. Muitas pessoas só querem fazer isso com seus parceiros ou praticar com brinquedos grandes em clubes."

Cena com shibari e fisting

21. Existem inúmeros tipos diferentes de chicotes.
Isso não é uma questão de tamanho único. Há chicotes leves, chicotes de couro, chicotes com cauda única, chicotes com várias caudas chatas e largas, a lista é longa, diz Thorn. Mas como certos tipos podem ser mais severos do que outros, você precisa aprender a usá-los corretamente (novamente, workshops são cruciais). “As pessoas que praticam com um chicote de cauda única geralmente começam a treinar com um travesseiro ou algum pequeno objeto distante, como um interruptor de luz”, diz ela.

22. E tem alguns lugares que você definitivamente não pode chicotear.
Como os olhos, obviamente. Ou na área próxima dos rins (região lombar, acima da cintura.). "Ali a pele é fina e você tem órgãos vitais embaixo. Você pode até machucar os rins", explica Brame.

Bondage e crossdressing

23. Se você quiser trazer isso à tona em seu relacionamento atual, faça-o com certeza.
"Existem muitas histórias por aí de pessoas que estavam nervosas demais para tocar no assunto e descobriram que o parceiro tinha a mesma fantasia", diz Thorn. Se você estiver nervoso com isso, pergunte se eles estariam interessados ​​em conferir um livro ou workshop específico sobre o qual você ouviu falar. Ou apenas fale sobre isso no contexto de fantasias sexuais, perguntando ao seu parceiro se ele já tentou algo como BDSM ou se já quis. Se você pensar bem, estará arriscando apenas uma conversa estranha, e a recompensa pode ser enorme se isso for algo que você deseja em sua vida.

24. Basicamente, é muito diferente do que a maioria das pessoas espera.
Entre estereótipos, pornografia e Cinquenta Tons de Cinza, há muitos equívocos sobre o BDSM. Sem participar de um workshop ou visitar uma dominatrix, a melhor maneira de aprender mais sobre isso é fazendo algumas pesquisas. “Assim como acontece com o sexo convencional, se você quiser ser bom nisso, você realmente precisa aprender sobre o que está acontecendo”, diz Brame.

Cena de Rubberdolls
Samantha Oliver posando de fetichista com roupas de látex
2 Comentário(s)
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2 comentários:

Unknown disse...


A relação dominação/submissão está presente na política, na família, nas relações sociais, no mundo econômico/profissional e em vários aspectos da vida humana. É uma relação nociva onde um ser humano utilizando a força, hierarquia ou esperteza domina o outro. Não é algo desejável e não entendo como pode ser aplicada em uma situação de prazer sensorial. Definitivamente não compreendo o BDSM.

Anônimo disse...

Vi um site de BDSM com crossdresser em casaco de pele. Muito excitante!