quarta-feira, 31 de março de 2021

Arquétipos do BDSM: identidades eróticas

Dada a introdução ao BDSM apresentada no último post, vou aprofundar um pouco no assunto apresentado os arquétipos do BDSM. No título eu chamei isso de identidade erótica com um certo tom de provocação. Sim, eu sei que tem as identidades sexuais (hétero, homo, bi e talz), no entanto, sinto que somos muito mais complexos do que uma "pessoa que faz sexo com alguém do gênero oposto e/ou não", então acho que seria interessante abrir um pouco esse leque e preencher com os nosso desejos profundos.

O termo “arquétipo” tem origem no grego antigo: Archein, que significa original, e Typos, que significa modelo ou tipo. Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, usou o conceito de arquétipo em sua teoria da psique humana pois acreditava que personagens míticos universais – os arquétipos – residem no inconsciente coletivo das pessoas em todo o mundo, independentemente de cultura, raça ou nacionalidade. Ou seja, esse conceito na psicologia tenta encontrar padrões nas personalidades das pessoas.

No contexto do BDSM o caminho é parecido, mas mais focados nos nossos interesses libertinos. Todo mundo é diferente na hora H, algumas pessoas gostam de explorar as sensações do toque, outras gostam de ouvir sacanagens no pé do ouvido enquanto outros preferem uma pegação mais selvagem. Os arquétipos do BDSM são modelos utilizados para representar padrões de comportamento ou características predominantes nos praticantes os quais as pessoas podem se identificar em vários graus (de 0% a 100%). Por acaso você tem curiosidade para saber os seus?

Se sim, você pode fazer um teste no site www.bdsmtest.org que ele vai dar uma boa ajuda para entender os seus próprios desejos. A primeira página está em inglês, mas na sequência você tem a opção de fazer o teste em português. A lista abaixo eu me baseei neste mesmo site e detalha um poucos desses arquétipos, e, apesar de não ter todos, com certeza te dará um bom panorama.

Só um detalhe, vou usar todos os termos e adjetivos no masculino apenas por causa de regras de concordância do nosso português, mas tudo aqui vale para absolutamente qualquer gênero, ok?

Baunilha

No universo BDSM Baunilha é o termo usado para designar as pessoas que gostam de relacionamentos monogâmicos regulares e sexo convencional. Não há nada de errado com isso. Vale mencionar que Baunilha é uma especiaria bastante popular que há muito tempo é vista como um tipo de joia dos aromas, então a referência encaixa bem nesse contexto sem nenhum tipo de julgamento.


Bondage: restrição de movimentos

Riggers sentem prazer ao amarrar e restringir o movimento do(s) seu(s) parceiro(s), usando corda e/ou outros acessórios (correntes, algemas, barras espaçadoras, etc.), para ter controle sob o corpo dele(s). Ele também é responsável por monitorar o Bottom para garantir que circulação sanguínea e o fluxo de ar não sejam comprometidos.

Rope Bunny ou Rope Bottom preferem ser amarrados. Isso gera uma sensação de vulnerabilidade física e emocional, portanto ele precisa sentir confiança que o Top garantirá a segurança durante a cena.

A prática é bastante difundida no meio e pode ser usada para aumentar a libido, para fins artísticos ou apenas para diversão. Muitas vezes as pessoas misturam bondage com outras práticas do BDSM.


Disciplina e o jogo de provocação

Brat é um tipo de bottom focado na Disciplina. Não são necessariamente submissos pois não sentem prazer em se submeter. Seu prazer consiste em provocar o Top de diversas formas, de acordo com sua personalidade, bem como impor resistência durante as sessões, mas sempre mantendo respeito aos limites do parceiro. Essa provocação já é algo esperado pelo Top, pois faz parte do jogo de disciplina, e este, então, reage à provocação “castigando o bottom” (praticando então o sadomasoquismo e/ou bondage, por exemplo).

Domadores são, em essência, dominadores que gostam de lidar com gente malcriada. Eles consideram a desobediência como uma forma de jogo, não como grosseria, então não vão se ofender, mas com certeza darão uma boa lição em quem estiver merecendo.


Dominação e Submissão

Dominadores gostam de estar no comando. Alguns gostam que seu parceiro os obedeçam sem questionar, outros preferem um pouco de resistência. Alguns são dominadores apenas no quarto, outros são na vida cotidiana também. Diferente dos tops (aqueles que estimulam diretamente os outros causando dor / degradação / prendendo), o dominador é quem decide o que acontece na cena (e assume a responsabilidade que vem com isso).

Os submissos preferem obedecer. Alguns irão se entregar completamente aos parceiros, outros preferem que o controle seja tirado à força. Alguns são submissos apenas no quarto, outros são submissos na vida cotidiana também (geralmente com certas limitações). Independente da prática realizada (dor / imobilização / degradação), o submisso aceita o que foi decidido e entra no jogo (claro que com um prévio consentimento e seus limites).

O que causa confusão nas pessoas é que um submisso pode, por exemplo, ser ordenado a causar dor no dominante (o dominante pode ser masoquista, por exemplo), então estaria fazendo um papel de top nesse contexto. Não há nada de errado aqui.


Sadismo sexual: dor física

Práticas que envolvem sadomasoquismo se resumem a práticas envolvendo dor física. Os Sádicos gostam de infligir dor no parceiro e observar as suas reações enquanto os Masoquistas apreciam receber (certos tipos de) dor, geralmente em um contexto sexual. O masoquismo não depende da tolerância à dor, trata-se puramente da capacidade de desfrutar (ou se excitar) com certos tipos de dor.

O sadomasoquismo não é considerado uma parafilia clínica, a menos que tais práticas levem a sofrimento ou estresse excessivo clinicamente significativo para um diagnóstico. Da mesma forma, o sadismo sexual é um consentimento mútuo, portanto, distingue-se de atos não consensuais de violência ou agressão sexual.


Humilhação erótica: dor emocional

Pode-se dizer que é uma versão mais psicológica do sadomasoquismo. Se trata de uma atividade consensual onde a humilhação ou a degradação é utilizada de forma erótica para fins de excitação sexual. A degradação pode ser feita verbalmente, fisicamente ou de ambos os modos, pode acontecer em ambiente privado ou público, e pode ser realizada de maneira presencial ou virtual, tudo dependendo da vontade e interesse das pessoas envolvidas. Abrange desde a utilização de xingamentos durante o ato sexual até cenas mais intensas como uma ridicularização em público.

Degradante se excita ao infligir maus tratos ao Degradado: oprimindo; molestando; envergonhando; rebaixando; desonrando; humilhando; desprezando, e, por incrível que pareça, o Degradado se exita ao receber esses tipos de maus tratos.


Exibicionistas e Voyeristas

Os Exibicionistas gostam de exibir seu corpo nu ou de realizar atividades sexuais na frente de outras pessoas. Voyeuristas tem prazer ao observar atos sexuais ou práticas íntimas de outras pessoas. Nada de extraordinário, a grande questão é que tudo isso deve ser realizado de maneira consensual, então não vale usar como desculpa para quem se masturba ou faz sexo em espaços públicos.


Primitivos

Os primitivos se concentram principalmente em seus instintos naturais e gostam de deixar seu animal interior sair durante o sexo. A questão primordial da prática é que os participantes libertem seus instintos sexuais e emocionais mais primitivos, então todos os rótulos e protocolos serão abandonados. Assim, quem faz o papel da Presa (bottom) pode se tornar um animal, que rosna e arranha, decidido a fugir do seu Predador (top).


Mestre e Escravo

As relações entre Mestre e Escravo são mais profundas do que as de Dominador e Submisso, a ponto de ser um estilo de vida para muitos dos praticantes. Essa prática é tão intensa que pode estar presente 24 horas por dia, 7 dias por semana e em todos os aspectos da vida dos praticantes (salvo para exceções previamente negociadas, como durante a jornada de trabalho).

Mestres recebem o controle completo sobre a vida de seu(s) Escravo(s) e todas as responsabilidades que vêm com isso. O foco principal do Mestre é criar um ambiente estável e seguro para o(s) seu(s) Escravo(s). Já para os Escravos, o foco é servir o seu Mestre e raramente existem limites nesse tipo de relação. No entanto, para entregar esse tipo de comprometimento o Escravo precisa sentir uma confiança plena no seu Mestre.


Ageplay: práticas de encenação

Ageplay é meio que a tradução de "brincar com a idade" e é uma atividade que envolve interpretação de papéis onde os participantes assumem o comportamento de personagens como bebê, pai/mãe, colegial, diretor de escola, idoso, tratador, enfim, a gama é tão grande que alguns desses papéis até são vistos como arquétipos específicos (Daddy/Mommy e Little Boy/Girl, por exemplo, em que a relação passa a ser um estilo de vida onde os adultos assumem o papel de guardiões e os pequenos anseiam por um dominante carinhoso e amoroso). Mudanças de comportamento e figurinos são comumente inclusos na prática para enriquecer o contexto.

A propósito, a sexualidade não está necessariamente envolvida nesse tipo de prática e não há ligação alguma com a pedofilia (que simplesmente não está no espectro do BDSM).


Petplay: o animal de estimação

As relações aqui são parecidas com a de Mestre e Escravo com um toque de encenação onde o bottom assume o papel de um animal de estimação. Os Adestradores possuem seus pets e assumem a responsabilidade por eles, normalmente 24 horas por dia, 7 dias por semana. Nessa prática a sexualidade não costuma estar necessariamente envolvida.

Em alguns casos, acessórios de dramatização também entram no jogo (por exemplo, máscara, coleira, gaiola ou casinha). Muitos pets nem sentem que são animais, se trata mais de explorar a relação típica de companheirismo entre um dono e o seu pet.

Essa prática não tem nenhum tipo de ligação com quem pratica sexo com animais (que simplesmente não faz parte do espectro do BDSM).


Não monogâmicos e Cornos

Os Não monogâmicos não veem a sexualidade necessariamente como uma coisa de um para um. Se isso significa que eles vão ter vários relacionamentos ou apenas ver outras pessoas fora do relacionamento (ou ter arranjos ainda mais requintadas) depende inteiramente da pessoa e da situação, mas todos eles têm uma coisa em comum: sua sexualidade vai além do que apenas entre eles e um parceiro fixo.

Cuckold, popularmente conhecido como "corno manso" por aqui, é quem aceita de boa ter um parceiro Não Monogâmico. As vezes o Corno deixa o parceiro fazer o que ele precisa sem se preocupar, as vezes ele aproveita para ser voyeur e assiste a sacanagem e alguns chegam até a participar da "traição" com um papel secundário e submisso.

Não monogâmicos também podem ter parceiros Não monogâmicos, as casas de swing provam a popularidade dessa combinação.


Switches: os versáteis

Switch significa "alternar" portanto esse pessoal gosta de... bem, alternar. Sempre assumir uma posição dominante ou top não é para eles, o mesmo vale para posição submissa ou bottom. Alguns preferem alternar apenas com o mesmo parceiro, outros têm um parceiro dominante e outro parceiro submisso, mas em ambos os casos eles nunca se encaixam em um ponto final do espectro.


Experimentalistas

Os Experimentalistas querem experimentar de tudo um pouco. Uma mente aberta e uma curiosidade insaciável são suas principais características, e raramente formarão uma opinião antes de adquirir experiência em primeira mão. Freqüentemente eles têm fantasias e buscarão ativamente por elas em prática.

5 Comentário(s)
Comentário(s)

5 comentários:

Unknown disse...

Dor e maus-tratos: como alguém pode se excitar com isso?

Marcelo Venturi disse...

Quer realmente entender?
Vamos fazer um exercício:
Quem não gosta de as vezes uma mordidinha de leve no pescoço ou no bico dos seios ou orelhas ou nos lábios?
Quem não gosta de as vezes uma pegada mais forte na hora do sexo?
Ou um tapinha na bunda?
É exatamente isso, a única diferença são os níveis de resistência (e de prazer) de cada pessoa. A medida que vai provando um pouquinho mais forte e continua achando muito gostoso, muito excitante. Apenas isso.
A dor e o prazer são realmente muito muito próximos, e o limiar entre eles é absurdamente sutil.
A única forma de descobrir, é experimentando, com todo cuidado, consensualidade e segurança que o BDSM exigem.

Anônimo disse...

Não tem haver c pedofilia enfiar um vibrador numa mulher de babador fingindo ser uma criança? Alguém me explica?

Samantha Oliver disse...

Nesse caso está mais para uma prática de interpretação de papéis, como uma atuação teatral. Tem gente que gosta de interpretar um pepel de animal de estimação como gato ou cachorro, tem gente que gosta de interpretar situações tipo médico/paciente, ou chefe/secretária ou babá/bebê. Vale salientar que a mulher fingindo ser um bebê também está aproveitando a situação, provavelmente de maneira submissa. Se ambos forem adultos maiores de idade isso não tem relação nenhuma com pedofilia.

Aliás, pedofilia é quando se tem um indivíduo adulto que sente atração sexual por crianças. Isso é algo que a pessoa provavelmente não escolheu sentir e acaba tendo que aprender a conviver para não acabar preso. Talvez o BDSM poderia ser uma possibilidade para essa pessoa explorar esse desejo em conjunto com uma mulher adulta que consentiu e concordou com o papel de criança. Isso é uma possível discussão.

Anônimo disse...

Sim, certas pessoas gostam, isso pode dar prazer, sendo um masoquista sei bem disso, dependendo da dor é boa, como um tapa na bunda, um na buceta....morder os bicos do peito, a gente acaba achando gostoso, ou até mesmo se excitando como vc falou