quarta-feira, 16 de março de 2022

O que você quer dizer com "sentir-se como uma mulher?"

Complementando o texto da semana passada, "Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?", a autora Anna escreveu uma continuação após ler um comentário interessante no post dela. A questão agora é "como é se sentir como uma mulher?". Eu já tentei escrever sobre "O que é ser mulher", mas sei bem que a temática é um tanto complexa. Tanto que eu mesmo não consigo me ver como uma mulher e, para mim, está tudo bem assim.


Traduzido de Anna

Por conta dos sistemas de controle social, às vezes sinto que fui roubada da vida que eu deveria viver.

Sendo um homem de 49 anos que sofre de disforia de gênero, sinto os efeitos dos sistemas de controle social mais do que qualquer típico homem cisgênero de 49 anos.

Ninguém quer acreditar que alguém está te manipulando diariamente. Todos nós queremos acreditar que chegamos onde estamos com muito trabalho e determinação. Mas, na maioria dos casos, o jogo é manipulado para que as pessoas “normais” obtenham sucesso.

Se você sofre de uma condição médica politizada, terá muitas portas fechadas na sua cara. Por meio de leis, vigilância médica, desinformação de conservadores, lavagem cerebral religiosa, menos oportunidades de emprego, estereótipos de gênero, feministas radicais, agressões a celebridades e algumas outras coisas que provavelmente estou esquecendo ou bloqueei da minha memória.

Eu realmente sinto que a disforia de gênero que experimentei desde os 4 anos de idade teria me colocado no caminho para me tornar uma mulher trans se não houvesse nenhum sistema de controle para redirecionar minha vida.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?

Essa é uma dúvida que eu tenho certeza que paira na mente de diversos crossdressers: se as mulheres tem liberdade plena de usar vestido, salto alto, maquiagem e tudo mais, por que a maioria delas prefere adotar roupas confortáveis, casuais e sem graça?

Claro que o nosso estilo de vida corrido e agitado responde bem essa questão, mas mesmo assim ainda existem diversas mulheres que não fazem nenhuma questão de usar essas coisas consideradas femininas em nenhuma situação e se sentem bem assim. No texto a seguir a Anna Brianna, uma mulher trans que vive no armário, tenta buscar uma resposta mais concreta a respeito dessa questão.

Traduzido de Anna

Vestidos não são apenas para ocasiões especiais.
Por que não usá-los com mais frequência?

Ontem, quando eu estava trabalhando em casa, minha esposa me disse que precisava participar de uma reunião remota para o seu trabalho e que duraria cerca de uma hora. Naquele momento eu pensei que seria bom ficar um pouco montada enquanto ela estava ocupada. É mais fácil para mim dessa maneira. Eu me um produzo por uma hora e ela não precisa se sentir desconfortável. Ela afirma que não se importa, mas acho que eu ainda estou me sentindo tímida.

Resolvi usar um dos meus vestidos favoritos. Era um vestido floral preto e creme acinturado com manga 3/4 e de comprimento até logo abaixo dos joelhos. Tem um pouco de decote também. Belíssimo, muito feminino. Eu usei minha peruca castanha com corte em camadas e encerrei o visual com meus sapatos de couro preto e salto de 10cm de altura.

Eu me senti tão bonita. Foi tão gostoso. Foi quando me questionei: “quando foi a última vez que vi uma mulher usando um vestido?” Faz algum tempo. Então me lembrei. A última pessoa que vi usando um vestido era um garoto perto da faculdade das minhas enteadas, quando estávamos levando elas para começar o último ano delas. Isso mesmo, era um rapaz.

quarta-feira, 2 de março de 2022

O problema da fantasia trans na pornografia

Pelo que parece, a pornografia transgênero está bombando na internet e o Brasil é um dos maiores consumidores dessa fantasia. Se bem que isso sempre existiu, principalmente por que as pessoas que estão fora da cis-heteronormatividade costumam ser marginalizadas e obrigadas a dar um jeito para sobreviver, o que mostra bem esse artigo chamado Retrato íntimo e glamouroso de mulheres trans na Paris dos anos 60 que relata como era essa questão a 60 anos no passado.

O problema é que muita gente acaba tendo o primeiro contato com pessoas transgênero nesse submundo pornográfico e logo supõem que todas as pessoas do espectro trans são assim. Cansei de receber mensagens de sujeitos anônimos na internet querendo saber da minha vida sexual ou até querendo me contratar para satisfazer os desejos deles. Confesso que esse foi um dos motivos que me fez tomar distância do mundo online e me afastou da maioria das redes sociais. Isso é cansativo e eu já perdi a paciência para tentar filtrar.

A autora do texto a seguir passou pela mesma situação que eu e disserta para tentar quebrar esse paradigma que existe em torno das pessoas transgênero e não-binárias.

Traduzido de Suzanna Alastair

Recentemente, um homem me enviou esta mensagem em um aplicativo de namoro que eu uso:

"Ei, você é gostosa!!! Você se parece com essa garota do [filme pornô trans] que eu assisti. Eu quero fazer isso….. e isso…. e mais isto… com você"

Ele assistiu um pouco de pornografia trans e ficou todo excitado e incomodado. Ele ansiava pela mesma experiência e logo assumiu que eu também queria. Por quê? Bem, porque eu sou uma mulher trans, o que obviamente deve significar que eu quero transar com ele exatamente da mesma maneira que a aquela estrela pornô, certo?

Não.

As pessoas trans representam uma pequena porcentagem da população e a maioria das outras pessoas não teve a oportunidade de conhecer uma pessoa trans para perceber que somos como qualquer pessoa. Somos seres humanos normais com anseios de felicidade e também desejamos evitar qualquer tipo de sofrimento. Nem todos gostamos das mesmas coisas só porque somos trans. Somos um grupo diversificado de pessoas, assim como a população em geral.

Nos últimos anos, as pessoas trans receberam uma certa exposição na mídia devido a celebridades como Elliot Page e Caitlyn Jenner. Como resultado, as pessoas ficaram curiosas a respeito de pessoas trans, quem somos e, claro, como é fazer sexo com uma pessoa trans.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Aceitando o Paradoxo da Energia Masculina e Feminina

O texto a seguir é muito válido para as pessoas que não se sentem exatamente como transgênero, principalmente para quem se vê como não-binário ou apenas como crossdresser mesmo. Eu mesmo me encaixo nisso sempre me pego pensando bastante sobre o assunto pois não me sinto como uma mulher e não faço questão de ser visto como uma, inclusive não me sinto confortável quando outras pessoas forçam questões transgênero em mim.

Só um detalhe: como a autora é filósofa, o texto não trás respostas, mas os questionamentos dela com certeza nos faz refletir um pouco, e isso é ótimo!

Traduzido de Transphilosophr

Minha identidade não binária me levou ao caminho tortuoso do gênero

Eu me pego pensando muito sobre o equilíbrio das energias dentro de mim, principalmente aquelas que são constituídas pelo que poderia ser chamado de masculino e feminino.

Sendo uma pessoa não binária, o que significa encontrar equilíbrio dentro do binarismo de gênero?
Esse equilíbrio é realmente necessário?
Isso precisa ser equilibrado para ser visto de maneira bonita e fashion?
Não seria suficiente apenas existir ao longo do espectro, dentro do espaço multidimensional do gênero?
Posso colocar meu polegar na escala e ainda ser uma pessoa não binária?

Em um nível superficial, tem a questão da minha aparência. Ela é vagamente feminina, com cabelo comprido e expressão de gênero casualmente feminina. Mas também há uma aspereza em minha aparência, evidenciada na minha voz e nos traços faciais, bem como a lateral raspada do meu cabelo, que é um movimento deliberado para inspirar androginia, para enviar uma energia queer. Isso leva o observador a um estado de ambivalência que se inclina para o feminino. Esse estado costuma ser uma fonte de ansiedade para mim, embora, estranhamente, também seja o mais confortável. Essa é a vida não-binária.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

HQ - Danni? (08)

História em quadrinhos traduzida de stvkar.


Primeiro capítulo
<< Capítulo anterior

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Ensaio brisa de verão - Samantha Oliver

Recentemente aconteceu um pequeno milagre por aqui: fez uma semana de sol enquanto eu estava curtindo as minhas férias pelo interior do Paraná! Haha, sei que parece exagero da minha parte, mas eu não consigo nem lembrar a última vez que eu tive a oportunidade de pegar sol por 5 dias consecutivos, até teve ano que eu passei sem nem conseguir pegar sol direito, então isso pra mim é um grande acontecimento.

Sendo assim, eu não pude perder a oportunidade de tirar umas fotinhas novas! O único porém é que eu não consigo funcionar direito quando a temperatura está acima de 30ºC, então nesse ensaio eu tive que abandonar a peruca a maioria do tempo por que estava impossível de aguentar o calor, mas sinceramente acho que de agora em diante a minha tendência é usar menos peruca e deixar a minha aparência mais natural.


Começando então pelo look fresquinho. Essa legging da Mulher Elástica é feita de uma microfibra extremamente confortável e fresquinha e, no momento, acho que é a minha calça favorita! O top faz parte de um conjunto de biquíni e a sandália de tiras dá uma sofisticação para visual.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Eu era uma pessoa preconceituosa e irritada com a causa transgênero

Sempre achei complicado apontar questões sobre transfobia de maneira geral pois sei que esse meu estilo de vida não é algo tão simples assim de se lidar, mesmo nos dias atuais. Tanto que, por exemplo, na primeira vez que eu participei de um encontro com outras crossdressers eu mesmo tive dificuldades de tratar as meninas no feminino. Na minha cabeça eu pensava "cuidado com os pronomes", mas a medida que a conversa fluía as palavras no masculino iam saindo involuntariamente.

O texto a seguir trás uma questão que ainda vai além. O autor confessa que no passado ele se dava ao trabalho de discutir com pessoas transgênero na internet pois considerava esse tipo de comportamento um absurdo. Até que chegou ao ponto em que ele questionou a origem dessa raiva dentro dele e notou ele mesmo tinha tendências transgênero e não sabia como lidar ou como se aceitar.

Traduzido de Terapeuta Trans

Na minha vida passada, eu era uma lésbica cisgênero. Foi um rótulo de identidade duramente batalhado por mim. Passei a maior parte da minha vida namorando caras e fui bastante feminina por um certo tempo antes de desejar demonstrar minha estranheza de forma mais aparente. Outras mulheres queer me dispensavam e questionavam se eu me sentia atraída por mulheres. Durante esse tempo, li blogs e artigos que focavam em mulheres queer, e inevitavelmente me deparei com o conceito de mulheres trans e pessoas transfemininas.

E eu fiquei furiosa.

Era difícil para mim imaginar ter algum conhecimento interno da identidade de gênero de alguém que não fosse baseado em características sexuais. Algumas mulheres trans descreviam suas experiências como se compartilhassem uma energia indescritível ou um companheirismo com outras mulheres que as apontassem sobre a sua própria identidade.

"Do que essas pessoas estão falando?" Eu pensava com frustração. "Não sinto algum tipo de energia compartilhada com outras mulheres. Na verdade, eu sempre me senti como se fosse de outra espécie. A única coisa que me diz que sou uma mulher são os meus órgãos genitais! Se eu acordasse amanhã com outro conjunto de genitais, eu seria tranquilamente um homem."

Entra então o meu futuro eu transmasculino: "Cara". Como você equipara não entender a ideia de “sentir-se” como uma mulher como uma razão para invalidar a existência de todas as mulheres trans e pessoas transfemininas? Isso não diz muito mais sobre você do que sobre qualquer outra pessoa?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

HQ - Libertando a garota de dentro

História em quadrinhos traduzida de Ascubis 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Eu sou trans, e isso me faz uma narcisista

As vezes eu tenho a impressão de que as pessoas que não tem nenhuma ligação com movimento trans acha que tudo nesse meio se resume apenas a questão da nossa aparência externa. Como essas pessoas não entendem como é o sentimento interno de disforia, elas nos julgam apenas pelo que elas veem. Tudo bem que boa parte dessas pessoas nunca teve nenhum tipo de contato direto com pessoas trans, mas essa falta de empatia acaba tornando a questão trans muito superficial.

O texto a seguir da Stella Luna complementa a questão da autodúvida trazida no último texto e reflete sobre essa superficialidade a respeito do tema.

Traduzido de Stella Luna

“A comunidade LGBTQ não tem o direito de exigir o respeito que todos os outros recebem!”

Todas as manhãs eu acordo com um grande sorriso no rosto. Vou tirando as cobertas do meu corpo perfeito, pulo para o banheiro e bebo do meu lindo reflexo. Sou a criatura mais linda que eu já vi, quase automaticamente penso comigo mesma. Como o pequeno rio onde Narciso fica, eu poderia passar o dia todo aqui com a água correndo, apenas me admirando em vez de lavar o rosto e me arrumar.

Uma vez que estou limpa e pronta para sair, fico angustiada sobre que roupa devo usar, porque sei que não importa aonde eu vá, as pessoas estarão me cobiçando e me encarando. Eu sou alta, admirável e quero todos os olhos em mim, não importa o que eu faça.

Depois de um longo dia impressionando os transeuntes no meu desfile de moda individual, eu deslizo para a minha cadeira e clico e clico no meu teclado, escrevendo mais uma história sobre minha vida tão importante e como o mundo deveria girar ao meu redor só porque eu sou trans. 

…Sim, claro. Acho que esse é o conceito errado que as pessoas têm sobre as pessoas trans que assumem ou escrevem sobre suas experiências. Tive pessoas na vida real e online me chamando de "narcisista" por eu escrever sobre minha experiência ou por focar na transnidade em geral.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

E se você não for realmente transgênero?

Bom dia a todos e feliz ano novo! Esse ano eu pretendo continuar trazendo mais textos toda quarta-feira para fazer vocês refletirem um pouco, além de dicas, fotos, HQs e qualquer assunto interessante relacionado à nossa vivência fora da norma. A começar por esse texto de um terapeuta americano trans e queer que trata da auto dúvida que temos a respeito da nossa própria identidade. Ele foca em vivências trans, mas o contexto vale igualmente para qualquer pessoa que foge da linha cis-hétero.

Traduzido de Terapeuta Trans

Como lidar com essa questão assustadora.

Eu me entendi como sendo uma pessoa transgênero quando estava com 26 anos. Comecei a fazer a terapia hormonal alguns meses depois e mudei legalmente meu nome alguns meses depois disso. Embora eu tivesse muitas pessoas que me apoiavam, ainda foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz na minha vida. Eu não trocaria isso por nada e estou feliz por ter abraçado quem eu realmente sou.

Nos primeiros anos, fui atormentado por preocupações sobre a validade da minha identidade trans. E se eu não for realmente trans? Eu pensava comigo mesmo. E se eu estiver errado e acabar cometendo um erro terrível? E se eu tiver que desfazer a transição e me sentir insuportavelmente envergonhado?

A maioria das minhas preocupações se baseavam na minha ansiedade, o que significa que estavam focadas no futuro. Essas eram coisas que ainda não haviam acontecido e podem nem acontecer. Para mim, não aconteceu. Embora a destransição faça parte da jornada de algumas pessoas, a maioria das pessoas trans não passam por essa experiência. Infelizmente, as poucas pessoas que desfazem a transição acabam sendo usadas como evidência de que pessoas trans em geral não são reais, o que não só ataca pessoas trans, mas objetifica aqueles que vêm a perceber que não são trans (ou que prefeririam viver a vida como se forem cis, mesmo que não sejam).

Ainda tenho essas preocupações de vez em quando, embora não sejam tão comuns. Até o momento já se passaram cerca de cinco anos e essas preocupações diminuíram à medida que relaxei em minha identidade.