quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O ponto de vista da esposa de um crossdresser

Quando eu postei o artigo Entrevista com Sra. Oliver, esposa de crossdresser, há 5 anos atrás, eu queria mostrar para os outros crossdressers que é possível estar num relacionamento heterossexual saudável sendo um crossdresser. Naquela época eu estava casado e, apesar dos altos e baixos desse meu estilo de vida, eu vivenciava um relacionamento estável. Tanto que ele sobreviveu por cerca de 10 anos. No entanto, várias outras esposas de crossdresser comentaram naquele post sobre a experiência delas, nem sempre positivas, e me fez refletir profundamente sobre isso.

O texto a seguir foi escrito por um outro crossdresser que vive um relacionamento heterossexual estável, mas ele tenta se colocar no ponto de vista da esposa e nos mostra que nem tudo são flores nessa nossa jornada.

Traduzido de Enjoy Crossdressing

Todas as vezes que eu li algum artigo falando sobre o relacionamento entre um crossdresser e sua esposa, eles sempre foram escritos do ponto de vista do crossdresser. É por isso que agora eu gostaria de tentar apresentar o ponto de vista da esposa sobre o travestismo do marido.

Sei que cada caso é um caso e que vários fatores irão influenciar, principalmente a maneira como a esposa descobre que o marido é crossdresser, entre outros.

Aparentemente, todos os problemas envolvidos nesta questão vêm de não contar à esposa sobre o crossdressing desde o princípio. Se ela soubesse antes de se casar, ela teria uma opção de escolha, mas aparentemente na maioria dos casos elas não tiveram essa escolha.

Antes de falar abertamente sobre meu crossdressing com minha esposa, eu estava apenas afundado na minha própria situação, em o quanto eu gostaria de poder compartilhar isso com minha esposa e, acima de tudo, se ela aceitaria de bom grado e me apoiaria nisso.

Nunca parei para pensar em como ela se sentiria a respeito. Tudo o que importou para mim naquele momento foi que ela dissesse sim ao meu pedido.

E cheguei à conclusão de que eu nunca fui justo com ela nesse sentido.

Quando o fiz, quando tentei me colocar no lugar dela, pude entender que essa experiência, em um caso extremo, poderia ser terrível e deprimente para qualquer companheira.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A dualidade paradoxal da cantada de rua na visão de uma mulher trans

Sei que as vezes a intenção pode até ser das melhores, mas ser abordado por um desconhecido no meio da rua sem ter dado nenhum tipo de abertura pode ser uma experiência bem desagradável. Ainda mais no nosso país onde não temos garantia de segurança em espaços públicos. Fora que alguns homens esperam por algum tipo de resposta à abordagem deles e nem sempre sabem lidar de boa quando são ignorados.

Lembro uma vez que fui passear numa feirinha de rua durante o dia e um grupo de três homens me abordaram do nada. Para mim foi uma sensação bem ruim, eu só queria passear e ver os artesanatos. Por outro lado, conheço outras crossdressers e travestis que percebem esse tipo de cantada apenas como um tipo de elogio, principalmente por elas receberem um tratamento similar ao de uma mulher cis. Talvez isso seja parte da cabeça de homem que temos, talvez seja uma oportunidade de se sentir admirada. Enfim, o texto a seguir é da Rachel Anne Williams, uma mulher trans, e ela argumenta sobre o lado positivo e negativo desse sentimento.

Traduzido de Transphilosopher

Isso não acontece com frequência, mas ontem à noite recebi uma cantada. Eu estava voltando para o meu carro em um posto de gasolina e havia um grupo de caras do lado de fora. Já no limite, um deles grita para mim "Ei, querida, como vai?". Muitos sentimentos passaram pela minha cabeça quando eu respondi "Estou bem" e tentei entrar no meu carro o mais rápido possível.

Um dos sentimentos que eu senti foi o medo. Eu estava com medo de que minha resposta "Estou bem" revelasse que sou transgênero por causa da minha voz e que aquele homem, tendo me cantado, sentisse que masculinidade dele foi ameaçada e então ele acabasse me espancando até o fim, por isso entrei no meu carro o mais rápido possível.

Outro sentimento foi de nojo. Fiquei enojada com a forma grosseira como os homens podem ser com as mulheres e senti uma pontada de injustiça em solidariedade com outras pessoas identificadas como mulheres que são cantadas ao acaso.

Mas aqui está o sentimento paradoxal: além do medo e da repulsa, também senti uma impulsionada na minha autoestima, porque ser cantada é uma indicação de que os hormônios e minha apresentação estão funcionando de tal forma que as pessoas me percebem como mulher. Esse é o meu objetivo, e é bom obter evidências positivas de que estou me aproximando desse objetivo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Como atingir o lendário orgasmo anal por estímulo da próstata

Primeiro eu gostaria de dizer que faz tempo que eu queria escrever esse artigo, até encontrei aqui nos meus arquivos umas pesquisas salvas sobre esse tema de uns anos atrás. Nesse meio tempo eu cheguei a escrever sobre o sexo anal e a inversão de papéis, que tem relação direta com o tema desse artigo e vale a pena você ler antes de continuar, mas eu fiz questão de passar pessoalmente pela experiência para então poder descrever aqui para vocês.

Antes de continuar, acho importante destacar algumas questões:

  • As dicas que vou passar aqui vão ajudar você a conhecer o seu próprio corpo e a explorar possibilidades de prazer que normalmente são ignoradas por questões supostamente morais;
  • Estimular a região anal ou a próstata por si só não tem absolutamente nenhuma relação com orientação sexual, principalmente se você estiver buscando isso por conta própria;
  • Cada pessoa terá uma experiência única. Pode ser que você se encante na primeira tentativa, pode ser que você prefira o estímulo anal apenas como complemento do estímulo peniano, pode ser que demore anos para você acertar o seu ponto (como aconteceu comigo), assim como pode ser que você nunca atinja o orgasmo anal mesmo depois de tentar inúmeras vezes;
  • Vou focar um pouco mais no orgasmo anal pela estimulação da próstata pois sou um homem biológico e é isso que eu tenho para explorar, mas, pelo que eu pesquisei, as técnicas são bem similares para a anatomia feminina.

Bom, então vamos começar pela questão biológica do negócio.

Quando um dedo ou um brinquedo erótico é inserido no ânus de uma pessoa, algumas diferentes partes do corpo acabam sendo estimuladas. A começar pelo próprio ânus.

Nosso furico é, na verdade, o orifício no final do intestino grosso regulado pelo esfincter, que tem como suporte a musculatura do períneo e que recebe inervação pelo nervo pudendo, que é o responsável pela transmissão da sensação de órgãos genitais externos de ambos os sexos. Isso faz com que o local tenha uma sensibilidade que, para algumas pessoas, forneça sensações incríveis quando estimuladas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Existe um terceiro sexo? (texto de 1906)

Se você acha que a "ideologia de gênero" é um projeto moderno da esquerda feito especialmente para destruir a família e a heterossexualidade, sinto dizer mas você está enganado. O texto a seguir veio do livro "Mannweiber und Weibmänner" (Homens mulheres e Mulheres homens – Tradução livre) de 1906 escrito por Anne von den Eken e também foi publicado na revista alemã O Terceiro Sexo em 1930.

O artigo trata justamente das pessoas que não se encaixam perfeitamente no binarismo de gênero e questiona a ideia de que exista um terceiro sexo. Na visão da autora, o masculino e o feminino são duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as pessoas e ela usa da biologia para embasar a origem disso. Sinceramente, eu não esperava que um texto escrito a mais de 100 anos atrás pudesse estar tão alinhado com o que eu penso.

Traduzido de The Weimar Project

Sempre classificamos as pessoas em apenas dois sexos. Mas, por vários anos, o termo “terceiro sexo” tem aparecido com frequência (1). Milhares de pessoas usaram a frase, brincando de improviso ou zombando, sem ter noção de quanta tristeza e sofrimento, quanta luta e desespero se esconde por trás desse termo. Poucos sabem que o “terceiro sexo” não é apenas uma calúnia para excêntricos masculinos e femininos, mas que realmente existe há milhares de anos, sim, presumivelmente já existia na Terra antes dos outros dois sexos. Há estudiosos que querem provar que as primeiras pessoas eram dualistas (2), ou seja, homem e mulher unidos em uma única pessoa.

De acordo com a velha história bíblica da criação, Adão foi criado primeiro, e de seu corpo nasceu Eva. Daí em diante eles viraram “marido e mulher” e estavam literalmente unidos em um só corpo. É bem provável que os antigos cronistas bíblicos quisessem sugerir que pessoas pré-históricas com sexo duplo eventualmente se desenvolveram em pessoas separadas. Não há dúvida de que existiam pessoas na Terra muito antes de Adão e Eva. Como a bíblia fala apenas de uma parte da população da Terra, infelizmente perdemos a história do resto do povo e, portanto, só podemos provar a existência de outros tipos de seres a partir dos vestígios que ainda estão evidentes em nossos corpos de hoje. O fato é que atualmente tanto homens quanto mulheres, depois de tantos milhares de anos, carregam sinais claramente reconhecíveis do outro sexo. O mais marcante deles são os mamilos do homem, que têm o único propósito de amamentar crianças. Mas o corpo feminino também mostra um resquício do masculino em seus órgãos genitais, a saber, o clitóris, que nada mais é do que um pênis subdesenvolvido.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Exploração de gênero e curiosidade por meio de roupas

Sempre achei incrível o poder das roupas. Seja aquele casaco de couro que deixa a pessoa com uma atitude confiante. Ou aquele vestido lindo e brilhante que atrai toda atenção para quem o está trajando e a faz sentir a pessoa mais poderosa do local. Ou aquele terno feito sob medida que sutilmente mostra o quanto a pessoa pode pagar pela exclusividade. Ou até aquele look básico que falaram que não era para o seu gênero, mas que faz você se sentir bem consigo mesmo de uma maneira inexplicável.

Entendo que as roupas ajudam você a expressar quem é você mesmo, desta forma, ter plena liberdade de poder escolher o tecido ou corte de roupa que te agrade deveria ser muito mais importante do que essas limitações sociais que envolvem o formato do seu corpo, principalmente o seu aparelho genital. O texto a seguir fala sobre quando caiu a ficha da Grace Van Der Velden, uma mulher cis, a respeito dessas possibilidades que as roupas trazem. 

Traduzido de Grace Van Der Velden

O que colocar lingerie em um homem pela primeira vez me ensinou sobre mim mesma.

Recentemente, coloquei lingerie em um homem pela primeira vez. Era um body de renda cor creme coberto de babados nos ombros e um decote em V profundo que revelava perfeitamente seu peito peludo. Era a minha peça de roupa mais feminina, mas só me fez sentir do jeito que pensei que sentiria quando a vi nele.

Através da exploração pessoal, em privado, com um parceiro, encontrei um tipo de liberdade, alegria e êxtase que eu nem sabia que era possível.

Quando vi meu parceiro vestindo a minha lingerie... algo dentro de mim mudou, se soltou e um novo sentimento começou a surgir. Isso liberou uma onda de curiosidade e poder que eu nunca tinha experimentado antes, mas que estava fluindo e se acumulando em minha mente por um longo tempo.

No passado, eu me sentia impedida de explorar expressões de gênero e emoções por meio de minhas escolhas de estilo. O que coloquei no meu corpo sempre pareceu como uma performance com significado para todos, exceto para mim. Minha roupa era uma maneira de tentar agradar as outras pessoas, e me colocava em segundo plano.

Mas agora, quero que minhas roupas sejam um indicador físico de tudo que flui através de mim – meus pensamentos, emoções, masculinidade, feminilidade e curiosidade.

Estou aprendendo a seguir esses sentimentos – a lançar uma luz em cada canto e recanto da minha imaginação e criatividade, em vez de deixá-los serem encobertos pelas teias da expectativa da sociedade. Estou aprendendo a fazer uma pergunta e ver quais respostas eu encontro dentro de mim primeiro, ao invés de buscar validação externa. Eu quero buscar experiências de nicho, uma reação emocional, um momento de euforia corporal que eu nunca havia considerado antes – aqueles que estão presos no contexto das roupas e o que significa ser a pessoa dentro delas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Introdução à Feminização: Como travestir um homem

Faz muito tempo que eu venho postando artigos com dicas de feminização, mas em cada post eu sempre foquei em um determinado assunto e não lembro de ter postado nada compilando tudo isso. Deste modo, o artigo de hoje, escrito pela Claudia Tyler-Mae que crossdresser como eu, chegou em um bom momento pois foi possível relacionar diversos dos meus posts com dicas no decorrer do texto, sem contar que a explicação dela é sensacional, então aproveitem os conselhos!

Juliette Noir

Traduzido de Claudia Tyler-Mae

Quer fazer um homem parecer uma mulher? É mais fácil e mais difícil do que você imagina. Ironicamente, as mulheres costumam ser piores em transformar os homens, por motivos que comentarei em breve. No entanto, é possível obter resultados dramáticos com uma abordagem ligeiramente alternativa. Se você quer se transformar, ou quer ajudar alguém a se montar sem ficar horrível, apresento aqui estão algumas dicas bem úteis.

Quando os artistas aprendem a desenhar, primeiro eles são ensinados a desenhar os espaços em torno das coisas, ao invés das coisas em si. Essa ideia de "espaço negativo" os impede de desenhar o que eles acreditam que o objeto pareça e, em vez disso, os ajuda a se concentrar nos detalhes reais à sua frente. Temos um modelo mental realmente poderoso de como o mundo parece, que não é muito preciso, mas que enfatiza as coisas que nossos cérebros estranhos acham que são importantes. É por isso que desenhos animados podem ser fisicamente impossíveis, mas instintivamente "parecem certos".

O que isso tem a ver com travestismo?

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Ensaio Casa da Lagoa - Samantha Oliver

Como de costume, eu trago hoje um dos meus posts favoritos! Confiram meu último ensaio com 3 looks que me deixaram bem à vontade com o meu corpo e cujo resultado final me agradou demais. Dessa vez eu achei um espaço bem rústico em Bacaiuvas do Sul com uma beleza natural incrível.


Acho que deu para perceber pelos últimos ensaios que eu aderi completamente ao visual de calça legging, né? Esse look é quase que completamente do site Mulher Elástica. A calça legging chumbo, o body assimétrico branco e até a faixa de cabelo eu comprei nesse site. E o resultado foi um look justíssimo mostrando a beleza de uma perna comprida e torneada.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Onde foram parar os "homens de verdade"?

Está aí uma expressão que eu considero de extremo mal gosto: "homem de verdade". Cansei de ver moças buscando esse tal homem de verdade e acabar com um cara que não levanta um dedo para faxinar a casa, ou com um cara que não dá a mínima para fidelidade, ou até com um covarde que abusa da violência física contra ela. Fora as que acabam com um filho para criar sozinhas. Enfim, isso é consequência dessa nossa cultura machista, tanto que ainda tem quem defenda cada um desses comportamentos.

Confesso que comecei a ler esse artigo da Carlyn Beccia com isso em mente, mas logo percebi que a abordagem dela foi muito mais sofisticada do que eu esperava. Ela deixa claro que masculinidade é um conceito social que muda com o tempo, mas que os caminhos que toma nem sempre são positivos. Espero que esse texto te ajude a refletir um pouco assim como fez comigo. 

Traduzido de Heart Affairs

Eu sou uma mulher que procura um homem forte. Mas tem dias em que eu não sei mais exatamente o que isso significa. Eu não sou a única que está confusa. Nunca estivemos em um momento na história em que a masculinidade estivesse tão obscura.

Homens de verdade já foram os chefes de família responsáveis pelo ganha-pão. Mas antes da Revolução Industrial, o conceito de "ganha-pão" nem existia. Produtos como pão e outros itens essenciais surgiram de uma divisão de trabalho compartilhada entre homens e mulheres que trabalhavam na agricultura. Então, as fábricas transferiram o trabalho agrícola para o trabalho da cidade e as mulheres foram relegadas para a cozinha. Não trabalhávamos mais lado a lado e, quando o fazíamos, não recebíamos o mesmo salário.

Na era vitoriana da masculinidade, os homens de verdade eram cavalheiros. Ele galantemente caminhou ao lado esquerdo de sua senhorita para protegê-la das carruagens que passavam e seguiu os estritos rituais de namoro da época. E se seus princípios fossem questionados, ele se dirigia ao campo de duelo. Homens de verdade eram homens honrados.

Essa honra se espalhou pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda Guerra Mundial. Nossos meninos se tornaram soldados e as mulheres tiveram que preencher os espaços que os homens deixaram para trás. Assim, as portas da fábrica se abriram para as mulheres, e Rosie, a Rebitadeira, flexionou os bíceps para provar que as mulheres podiam lidar com o trabalho pesado dos homens.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Mulheres trans e a ideologia da passabilidade

Passabilidade é quando uma pessoa tem que esconder que é trans para ser respeitada pelos outros, simples assim. Pra falar a verdade, achar que a identidade de gênero obrigatoriamente depende da aparência é uma violência ao direito que cada um tem sobre seu próprio corpo.

Traduzido de Takoda Leighton-Patterson

Quando me assumi como transgênero, a primeira coisa que fiz foi procurar grupos de apoio. Não é a coisa lógica a se fazer? Eu pensei assim até me encontrar em um grupo, me sentindo mais disfórica do que antes de me juntar a eles. Lutei com a sensação de que o objetivo dos grupos era que nos sentíssemos validados, seguros e vistos uns pelos outros. Minha expectativa do grupo estava longe da realidade e com isso fui obrigada a abordar o que eu estava sentindo e vendo no grupo. Em vez de ver mulheres solidárias e felizes, vi membros se olhando com desprezo, algumas dando-se mais valor do que outras com base em uma ideologia que imediatamente reconheci como perigosa. Essa ideologia é chamada de “passabilidade”.

Para entender por que a passabilidade é perigosa, você deve primeiro entender a própria palavra e o seu significado. Quando se trata de gênero, ser passável é uma forma de se integrar. Passar é ser percebido como alguém cisgênero ao invés de transgênero. Se passar por mulher trans significa simplesmente parecer uma “mulher de verdade”. Por que eu acho que isso é perigoso? Porque nos leva a perseguir um objetivo impossível. Qual é a aparência de uma mulher de verdade? Quem decidiu como é uma mulher de verdade? Se focar nisso, você encontrará a óbvia misoginia encarando você. Durante séculos, as mulheres foram submetidas às opiniões dos homens cis e julgadas por seus padrões. Somente mulheres com um determinado tipo de corpo, cor de pele, comprimento de cabelo, etc. eram e, de muitas formas, ainda são consideradas como "mulher ideal". Os padrões de beleza sempre tiveram falhas e, como resultado, muitas mulheres começaram a se odiar por isso. As mulheres trans não estão livres deste destino, na verdade muitas de nós sofrem da mesma forma porque nos ensinam e nos dizem que devemos sermos passáveis para sermos “reais”.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Quando trans não significa exatamente transgênero

O texto a seguir é do James Finn, um homem homossexual, relatando sobre a experiencia que ele teve com o amigo travesti David (ou Carla) durante os anos 90. Lembro bem que naquela época ninguém falava sobre vivências trans ou algo do gênero, então achei interessante a maneira como ele descreve sobre a amiga travesti e sobre o passeio en femme que ele fez durante um Halloween naquela época.

Alaska vestida de Mae West no programa RuPaul’s Drag Race

Traduzido de James Finn

Minha amiga Carla era uma travesti dominadora profissional de 70 anos.

Ela se autodenominava como sendo travesti.

Ele era David durante o dia, um contador aposentado e bem-educado de Connecticut que preferia as roupas discretas da Brooks Brothers (antiga fabricante americana de roupas masculinas), as belas-artes e as visitas aos netos.

À noite, ela era feroz usando meia arrastão preta, roupas de couro e salto agulha de 15 centímetros. Ela tinha uma clientela dedicada, então suponho que ela era muito boa no que fazia.

Sentei-me silenciosamente no jardim do Centro Comunitário LGBTQ de Manhattan ao lado do David por muitas tardes. Ele compartilhou um bom pedaço da história dele comigo. Como ele sempre se sentiu atraído por se travestir, como se envergonhou disso em sua infância depois de ser descoberto. E, sobretudo, como ele desistiu disso para poder criar a sua família, o que era mais importante para ele.

Quando se aposentou, ele se mudou para Manhattan e viveu a vida que sempre sonhou. David ficou muito feliz quando me conheceu. Ele me disse que estava mais contente do que nunca.

David não era transgênero

Ele não se sentia como uma mulher. Ele não era uma mulher. No entanto, ele tinha um enorme prazer e satisfação ao se transformar em Carla. Particularmente eu não pretendo tentar entender isso. Tudo o que sei é que David era um bom homem e um bom amigo.

Não é tudo o que eu preciso saber?