quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Onde foram parar os "homens de verdade"?

Está aí uma expressão que eu considero de extremo mal gosto: "homem de verdade". Cansei de ver moças buscando esse tal homem de verdade e acabar com um cara que não levanta um dedo para faxinar a casa, ou com um cara que não dá a mínima para fidelidade, ou até com um covarde que abusa da violência física contra ela. Fora as que acabam com um filho para criar sozinhas. Enfim, isso é consequência dessa nossa cultura machista, tanto que ainda tem quem defenda cada um desses comportamentos.

Confesso que comecei a ler esse artigo da Carlyn Beccia com isso em mente, mas logo percebi que a abordagem dela foi muito mais sofisticada do que eu esperava. Ela deixa claro que masculinidade é um conceito social que muda com o tempo, mas que os caminhos que toma nem sempre são positivos. Espero que esse texto te ajude a refletir um pouco assim como fez comigo. 

Traduzido de Heart Affairs

Eu sou uma mulher que procura um homem forte. Mas tem dias em que eu não sei mais exatamente o que isso significa. Eu não sou a única que está confusa. Nunca estivemos em um momento na história em que a masculinidade estivesse tão obscura.

Homens de verdade já foram os chefes de família responsáveis pelo ganha-pão. Mas antes da Revolução Industrial, o conceito de "ganha-pão" nem existia. Produtos como pão e outros itens essenciais surgiram de uma divisão de trabalho compartilhada entre homens e mulheres que trabalhavam na agricultura. Então, as fábricas transferiram o trabalho agrícola para o trabalho da cidade e as mulheres foram relegadas para a cozinha. Não trabalhávamos mais lado a lado e, quando o fazíamos, não recebíamos o mesmo salário.

Na era vitoriana da masculinidade, os homens de verdade eram cavalheiros. Ele galantemente caminhou ao lado esquerdo de sua senhorita para protegê-la das carruagens que passavam e seguiu os estritos rituais de namoro da época. E se seus princípios fossem questionados, ele se dirigia ao campo de duelo. Homens de verdade eram homens honrados.

Essa honra se espalhou pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda Guerra Mundial. Nossos meninos se tornaram soldados e as mulheres tiveram que preencher os espaços que os homens deixaram para trás. Assim, as portas da fábrica se abriram para as mulheres, e Rosie, a Rebitadeira, flexionou os bíceps para provar que as mulheres podiam lidar com o trabalho pesado dos homens.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Mulheres trans e a ideologia da passabilidade

Passabilidade é quando uma pessoa tem que esconder que é trans para ser respeitada pelos outros, simples assim. Pra falar a verdade, achar que a identidade de gênero obrigatoriamente depende da aparência é uma violência ao direito que cada um tem sobre seu próprio corpo.

Traduzido de Takoda Leighton-Patterson

Quando me assumi como transgênero, a primeira coisa que fiz foi procurar grupos de apoio. Não é a coisa lógica a se fazer? Eu pensei assim até me encontrar em um grupo, me sentindo mais disfórica do que antes de me juntar a eles. Lutei com a sensação de que o objetivo dos grupos era que nos sentíssemos validados, seguros e vistos uns pelos outros. Minha expectativa do grupo estava longe da realidade e com isso fui obrigada a abordar o que eu estava sentindo e vendo no grupo. Em vez de ver mulheres solidárias e felizes, vi membros se olhando com desprezo, algumas dando-se mais valor do que outras com base em uma ideologia que imediatamente reconheci como perigosa. Essa ideologia é chamada de “passabilidade”.

Para entender por que a passabilidade é perigosa, você deve primeiro entender a própria palavra e o seu significado. Quando se trata de gênero, ser passável é uma forma de se integrar. Passar é ser percebido como alguém cisgênero ao invés de transgênero. Se passar por mulher trans significa simplesmente parecer uma “mulher de verdade”. Por que eu acho que isso é perigoso? Porque nos leva a perseguir um objetivo impossível. Qual é a aparência de uma mulher de verdade? Quem decidiu como é uma mulher de verdade? Se focar nisso, você encontrará a óbvia misoginia encarando você. Durante séculos, as mulheres foram submetidas às opiniões dos homens cis e julgadas por seus padrões. Somente mulheres com um determinado tipo de corpo, cor de pele, comprimento de cabelo, etc. eram e, de muitas formas, ainda são consideradas como "mulher ideal". Os padrões de beleza sempre tiveram falhas e, como resultado, muitas mulheres começaram a se odiar por isso. As mulheres trans não estão livres deste destino, na verdade muitas de nós sofrem da mesma forma porque nos ensinam e nos dizem que devemos sermos passáveis para sermos “reais”.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Quando trans não significa exatamente transgênero

O texto a seguir é do James Finn, um homem homossexual, relatando sobre a experiencia que ele teve com o amigo travesti David (ou Carla) durante os anos 90. Lembro bem que naquela época ninguém falava sobre vivências trans ou algo do gênero, então achei interessante a maneira como ele descreve sobre a amiga travesti e sobre o passeio en femme que ele fez durante um Halloween naquela época.

Alaska vestida de Mae West no programa RuPaul’s Drag Race

Traduzido de James Finn

Minha amiga Carla era uma travesti dominadora profissional de 70 anos.

Ela se autodenominava como sendo travesti.

Ele era David durante o dia, um contador aposentado e bem-educado de Connecticut que preferia as roupas discretas da Brooks Brothers (antiga fabricante americana de roupas masculinas), as belas-artes e as visitas aos netos.

À noite, ela era feroz usando meia arrastão preta, roupas de couro e salto agulha de 15 centímetros. Ela tinha uma clientela dedicada, então suponho que ela era muito boa no que fazia.

Sentei-me silenciosamente no jardim do Centro Comunitário LGBTQ de Manhattan ao lado do David por muitas tardes. Ele compartilhou um bom pedaço da história dele comigo. Como ele sempre se sentiu atraído por se travestir, como se envergonhou disso em sua infância depois de ser descoberto. E, sobretudo, como ele desistiu disso para poder criar a sua família, o que era mais importante para ele.

Quando se aposentou, ele se mudou para Manhattan e viveu a vida que sempre sonhou. David ficou muito feliz quando me conheceu. Ele me disse que estava mais contente do que nunca.

David não era transgênero

Ele não se sentia como uma mulher. Ele não era uma mulher. No entanto, ele tinha um enorme prazer e satisfação ao se transformar em Carla. Particularmente eu não pretendo tentar entender isso. Tudo o que sei é que David era um bom homem e um bom amigo.

Não é tudo o que eu preciso saber?

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Como equilibrar sua vida cotidiana com o seu lado crossdresser

Não sei ao certo se isso é o prazer ou o fardo de ser crossdresser, mas sei que é fato que a maioria dos crossdressers que eu conheci até hoje levam uma "vida dupla". Como sabemos que o nosso lado feminino tende a ser mal visto pelos outros, costumamos manter esse comportamento de maneira bem privada e só desfrutamos o modo en femme nos momentos em que sentimos segurança plena. Consequentemente isso acaba afastando o nosso lado feminino da nossa vida cotidiana e, depois de um certo tempo, não é nada fácil pensar em conciliar essas coisas.

O texto a seguir mostra a perspectiva da CiCi Kitten, que também é crossdresser, e nos faz refletir um pouco a respeito de quem somos e o que estamos buscando.

Samantha Oliver

Traduzido de EnFemmeStyle 

Sobrecarregado

Eu não sei como as outras pessoas fazem. Mas se eu tivesse que resumir minha vida hoje em dia em uma palavra, essa palavra seria "sobrecarregado". Tudo fica muito louco no mundo feminino, não é? E olha eu passei muito tempo no armário. Eu era uma garota apenas quando estava online. E eu sempre ficava ansioso pelo dia (ou noite?) que eu finalmente pudesse começar a sair. Achei que seria uma grande conquista para mim (e foi!). Achei que seria divertido (e é!).

Só não sabia o quanto isso seria exaustivo! (E olha eu nem saio muito.) Eu acho que sou parecido com muitos outros crossdressers e travestis. Eu sou casado. Eu tenho uma família. Eu tenho uma carreira. Eu tenho amigos. E todos eles precisam e merecem a minha atenção.

Mas essa coisa de garota. Ela lentamente começa a assumir o controle da sua vida. Num bom sentido. (Eu acho.) Isso tornou a minha vida muito mais agradável. Muito mais satisfatória. Muito mais sensual. Mas com certeza não facilitou a minha vida.

Em épocas em que eu deveria estar poupando cada centavo, minha vida feminina me pede para gastar mais e mais. Em momentos em que eu preciso estar realmente focado no meu trabalho, minha vida feminina me distrai. Em momentos em que meus amigos e família merecem minha atenção, sou atraído por um novo grupo de amigas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O problema com o rótulo de "transgênero"

Traduzido de Douglas Giles, PhD

Vou abordar um assunto delicado e ouso perguntar: qual é o problema com o rótulo de "transgênero"? Não há absolutamente nenhum problema com qualquer ser humano que possa se considerar "transgênero" pois todos os seres humanos devem ser aceitos pelo que são. O problema é o próprio rótulo, basicamente porque se trata de um rótulo.

Primeiro, sejamos claros sobre qual é o problema.

Uma pesquisa do Reino Unido descobriu que 79% das pessoas que se identificam como transgênero vivenciaram crimes de ódio relacionados à sua identidade de gênero e 32% sofreram violência física. Ambas as porcentagens são mais altas do que as experiências de gays, lésbicas e bissexuais. A Human Rights Watch relata que a violência mortal contra pessoas da comunidade trans está aumentando.

Pessoas estão sendo discriminadas, assediadas, ridicularizadas, agredidas e até mortas porque não se enquadram bem nos estereótipos culturais de "homem" ou "mulher". Eu coloquei “homem” e “mulher” entre aspas porque os gêneros são construções sociais. Em outras palavras, as categorias de “homem” e “mulher” significam o que decidimos coletivamente que significam, e esses significados mudam conforme as culturas mudam. Não se trata de genitália, mas do que as pessoas pensam e sentem sobre o conceito de “homem” e “mulher” e sobre os valores que atribuem a esses significados. Valores e significados são anexados a conceitos e esses conceitos são representados por uma palavra ou rótulo.

Nesse caso, se uma pessoa não está agindo como um “homem” ou como uma “mulher” “deveria” agir, é amplamente considerado que essa pessoa está fazendo algo impróprio. Indivíduos que agem de forma contrária às essas normas sociais podem ser tratados com suspeita e hostilidade. Os estereótipos são maneiras simples e fáceis de categorizar as pessoas, e se alguém pensa que todos são “homem” ou “mulher”, então julgar as pessoas é fácil. As pessoas confiam em conceitos e em seus rótulos para saber como devem pensar, sentir e fazer julgamentos sobre as coisas. Conceitos e rótulos dão uma sensação de segurança e compreensão, razão pela qual muitas pessoas se sentem desconfortáveis ​​quando outras não se conformam com as normas sociais do que um “homem” ou uma “mulher” deve ser.

A questão é: como podemos parar a discriminação e a hostilidade contra pessoas que não se conformam com estereótipos sociais como "homem" e "mulher?" Se o problema é julgar as pessoas de acordo com as categorias, adicionar outra categoria não é a resposta. Se “transgênero” é apenas mais um rótulo ao qual atribuímos valores e significados para definir as pessoas, o que exatamente se ganha? Mais rótulos não resolvem os problemas criados por rótulos. Como um rótulo que designa uma categoria, “transgênero” torna-se outro estereótipo contra o qual as pessoas individualmente são julgadas.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Bimbo: vulgar por vontade própria

A palavra Bimbo costuma ser empregada de maneira pejorativa na língua inglesa para insultar mulheres consideradas atraentes, sexualizadas, ingênuas e pouco inteligentes, algo parecido com o "loira burra" que já foi muito popular aqui no Brasil. No entanto, o termo Bimbo está passando por uma transformação e, atualmente, pode até ser considerado um estilo de vida.

Para dar um panorama do termo no passado, você pode olhar o artigo "O ano das Bimbos" do New York Post de 2007 onde o tabloide catalogou, de maneira cruel, as mulheres mais notórias daquele ano consideradas por eles como bimbos, incluindo a Amy Winehouse (uma “bimbo-alternativa” que “eles não conseguiram fazer ir para a reabilitação”), Jamie-Lynn Spears (uma “bimbo-em-treinamento” porque ficou grávida aos 18 anos e posteriormente monetizou suas fotos de gravidez), Britney Spears (que se separou naquele ano e raspou a cabeça), Paris Hilton, Mischa Barton e a própria bimbo-protótipo, Anna Nicole Smith.

Durante muito tempo foi assim que o mundo entendeu o que significava a palavra bimbo. O termo era usado para privar as jovens de sua humanidade e de seu livre arbítrio, algo como uma censura moral, e hoje tem até o termo slut-shaming que descreve bem esse tipo de situação. Era inferido a promiscuidade sexual como um sinal de depravação e falta de inteligência. Também era um conceito usado para diminuir o trabalho cultural de algumas das jovens mais poderosas da época.

O termo evocava inconscientemente imagens de grandes seios de silicone, longos cabelos loiros clareados, roupas justas e maquiagem pesada, enquanto comunicava que todas essas coisas eram de alguma forma inerentemente imorais. Inclusive as conotações negativas do termo são oficiais: a definição de Bimbo no dicionário inglês é "um termo depreciativo para uma mulher atraente, mas frívola".

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Os 5 tipos de homem que encontrei paquerando online como mulher transgênero

No artigo de hoje a Suzanna Alastair, uma mulher transgênero, elencou os principais perfis de homens que ela pôde conhecer enquanto paquerava online ao longo de 2 anos. Apesar de não ser do meu interesse, tive a oportunidade de conhecer diversos desses perfis de homens na internet e achei bem coerente as observações dela. Aliás, eu já escrevi o post T-Lovers, será amor ou ódio? comentando um pouco dessa minha experiência pessoal conhecendo homens online.

Traduzido de Suzanna Alastair

Estou casada há 17 anos com uma mulher maravilhosa, durante os quais fomos estritamente monogâmicos por 14 anos. No início de 2019, minha esposa e eu estávamos casualmente discutindo sobre poliamor quando minha esposa me surpreendeu dizendo que ela achava que ficaria bem comigo, às vezes, namorando outras pessoas. Nisso, ela quis dizer que ficaria bem comigo namorando homens. Seu raciocínio era que um homem poderia me dar algo que ela não poderia.

Deixando de lado a falsa noção de que uma mulher deve ter um homem para ser feliz, ela tinha razão. Um homem poderia me dar algo além do que apenas um pau duro.

Para mim, como uma mulher transgênero, ter um homem heterossexual me vendo e me aceitando como uma mulher completa e me namorando como se fosse qualquer outra mulher cis seria o meu Santo Graal. O problema é que os homens heterossexuais muitas vezes me veem como: um homem, um fetiche, uma experiência a ser vivida, uma maneira de realizar seus desejos homossexuais de forma segura ou qualquer combinação disso.

Ter um homem que me aceite e me ame como a mulher que eu sou, sem quaisquer reservas ou obstáculos, e que me ame como faria com qualquer outra mulher, é algo que minha esposa não pode me dar.

Aqui está o dilema. Encontrar tal homem não é tão simples quanto ter esperança ou fantasia. Eu não sou uma mulher típica. Além disso, sou transgênero, mas não sou submissa. Eu sou uma mulher forte. Nas práticas fetichistas sou uma dominadora, isso significa que quem está no controle sou eu. Os homens normalmente não gostam quando uma mulher tira o controle deles. Bom, homens submissos sim. Mas, eu não quero um homem submisso. Eu quero um homem que sabe que é um homem, mas que também seja um cavalheiro.

Portanto eu passei dois anos paquerando online usando sites como Badoo, okcupid e um site finlandês chamado Alastonsuomi, e a maioria dos homens que me abordaram se enquadram nesses cinco perfis:


1. Opa! Eu cometi um erro!
Esse tipo de homem raramente lê o meu perfil que diz claramente logo na primeira frase que eu sou uma mulher transgênero. Eles me veem como uma mulher (que eu sou), mas presumem que sou uma mulher cis. Então eles começam a dança do acasalamento comigo fingindo serem todos doces e tal.

Um exemplo disso foi um homem que me escreveu no okcupid. Ele era um homem branco e careca do Texas, cujo perfil afirmava que ele era um cristão devoto e apoiador do Trump. Ele não é alguém que eu esperaria que tivesse interesse em uma mulher transgênero. Ele se aproximou de mim com educação e começou a fazer perguntas sobre coisas que eu já havia abordado no meu perfil. Sabendo que ele não tinha lido o que eu escrevi, perguntei se ele leu no meu perfil que eu sou uma mulher transgênero. Ele admitiu que não leu e pareceu meio confuso por ter se sentido atraído por uma mulher trans. A vergonha e o constrangimento fluíram de seu pedido de desculpas. Eu quase podia imaginá-lo com o rosto vermelho enquanto escrevia o pedido de desculpas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

HQ - Boneca da Raan (49)

História em quadrinhos traduzida de KannelArt
Outros sites do artista:  Patreon  /  DeviantArt  /  Twitter  /  Tumblr  /  Discord

Primeiro capítulo
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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Entrevista com Dafni Cocó - Fundadora do estúdio Dafni Girls

Recentemente eu vi que saiu uma entrevista da maravilhosa Dafni Cocó no site All About Crossdresser e tive que traduzir aqui para o blog. Ela é uma mulher cis que trabalha com estética e beleza e que tem aberto as portas do universo feminino para inúmeros crossdressers há quase 10 anos na Espanha. Pude notar a paixão e o respeito que ela sente pelo que faz numa entrevista que eu assisti há um bom tempo e isso me marcou, espero um dia poder conhecer ela pessoalmente e, quem sabe, até pegar umas dicas! 

Traduzido de All About Crossdresser

Tivemos uma ótima oportunidade de entrevistar a linda e charmosa Dafni Cocó, fundadora do Dafni Girls, que é um estúdio de crossdressing localizado nas cidades de Madrid e Valência na Espanha. Confiram esta entrevista especial.


P) Olá Dafni, muito obrigado por nos permitir realizar essa entrevista. Conte-nos um pouco sobre você e o que você faz.

DAFNI: Meu nome é Dafni Cocó, nasci em Barcelona em 1985, sou estilista, maquiadora e fotógrafa. Dediquei meus estudos a tudo relacionado a imagem e beleza. Sou apaixonada por moda e arte, e me considero uma pessoa motivadora e empreendedora que gosta de realizar seus próprios sonhos, querendo-os e amando-os. Amo viver, curtir e saborear os grandes prazeres que a vida nos proporciona.

Dafni Cocó

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Por que azul para meninos e rosa para meninas?

Cada geração traz uma nova definição de masculinidade e feminilidade e isso acaba se manifestando nas roupas infantis. Esse negócio de azul para meninos e rosa para meninas é algo relativamente recente pois o costume surgiu apenas no meio do século passado, fora que no caminho ainda teve um empurrãozinho da indústria da moda para incentivar os pais a gastar mais dinheiro com as roupas dos filhos. 

Adaptado de Smithsonian Magazine

O pequeno Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos, se apresenta na foto sentado recatadamente em um banquinho, com uma saia branca espalhada suavemente sobre o seu colo e com as mãos segurando um chapéu enfeitado com uma pena de marabu. Cabelo na altura dos ombros e sapatos de festa de couro envernizado completam o conjunto.

As pessoas costumam achar essa aparência meio inquietante hoje para um menino, porém a convenção social de 1884, quando Roosevelt foi fotografado aos 2 anos e meio, ditava que os meninos e as meninas deveriam usar vestidos até os 6 ou 7 anos de idade. Também era nessa idade que costumava ocorrer o primeiro corte de cabelo da criança. A roupa do Franklin era considerada neutra em termos de gênero.

Assim como os outros meninos da sua época, Franklin Roosevelt aparece trajando um vestido na foto.
Este retrato de estúdio provavelmente foi tirado em Nova York em 1884.

Hoje em dia as pessoas tem a necessidade de saber o sexo de um bebê ou de uma criança pequena logo à primeira vista, diz Jo B. Paoletti, historiadora da Universidade de Maryland e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys From the Girls in America (Rosa e azul: separando os meninos das meninas na América, 2012, sem versão em português). Assim, vemos, por exemplo, uma faixa rosa envolvendo a cabeça calva de uma menina.

Por que o estilo de roupa das crianças mudou tão drasticamente?
Como terminamos com duas “equipes”, meninos de azul e meninas de rosa?

“É, na verdade, a história do que aconteceu com as roupas neutras”, diz Paoletti, que explorou o significado das roupas infantis por 30 anos. Por séculos, diz ela, as crianças usaram vestidos brancos delicados até os 6 anos de idade. “O que antes era uma questão de praticidade – você veste seu bebê com vestidos e fraldas brancos; algodão branco pode ser branqueado – tornou-se uma questão de ‘Meu Deus, se eu vestir meu bebê da maneira errada ele vai se tornar um pervertido’ ”, diz Paoletti.